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19/11/2018

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (162)

Outras avarias da geringonça e do país.

Entre as várias facturas que Costa deixou aos contribuintes para pagar pelo seu desempenho anterior à geringonça encontram-se as relacionadas com a sua passagem pela Câmara de Lisboa e a reversão da permuta dos terrenos do Parque Mayer pelos terrenos da Feira Popular, reversão que vai custar 600 milhões de euros em 2019, dos quais 400 milhões para o Novo Banco e 200 milhões para a Braga Parques já previstos no OE 2017. Por memória, recordemos a sua passagem pelo ministério da Administração Interna e as consequências da «obra feita» nos incêndios florestais: (1) e (2).

O caso do IVA das touradas proporcionou a Costa mais uma performance da sua notável elasticidade, demonstrando assim, como alguém escreveu, ser um marxista da linha Groucho que tem princípios mas, se não gostarmos destes, ele tem outros.

A somar às trapalhadas já conhecidas da nomenclatura socialista, veio agora a saber-se que o recém-nomeado chefe de gabinete do ministro da Defesa está a ser investigado por utilização indevida de 3 milhões de euros de dinheiro públicos. Cada cavadela, sua minhoca.

Do lado dos parceiros da geringonça, tivemos o congresso, chamado convenção pelo berloquismo , que, para dizer muito em poucas palavras, foi uma espécie de formalização de candidatura a uns ministériozitos no próximo governo, lugares que os berloquistas estão dispostos a pagar com penitências como silenciar e camuflar seu antieuropeísmo, a sua aversão à democracia liberal, à Nato, o seu «não pagamos» e outras bandeiras. Note-se que não escrevi abandonar, mas silenciar e camuflar, na linha de uma estratégia típica do entrismo trotskista (hoje aparentemente a corrente dominante no BE). Para não parecer mal, lá continuam a desfraldar a bandeira do «controlo público da banca e da energia». Entretanto, com grande discrição aboliram a limitação dos mandatos (artigo 15.º dos estatutos), uma medida a merecer a aprovação do camarada presidente Xi Jinping que recentemente fez o mesmo.

Como fait divers, soube-se que gente do PAN, um parceiro informal da geringonça, está envolvida num grupo suspeito de terrorismo, assalto à mão armada e sequestro. Nada de definitivamente novo já que o Bloco tem lá simpatizantes do bombismo.

Quanto a greves, esqueçamos as miudezas e falemos apenas da greve desde o dia 5 dos estivadores do porto de Setúbal que entre outros efeitos está a deixar milhares de veículos da Autoeuropa à espera de embarque.

A saga da aprovação do OE 2017 continua com 895 propostas de alteração para discutir, entre as quais a contagem do tempo dos professores para as promoções automáticas independentes do mérito (sim, é disso que se trata). Para não variar, sem contar com as cativações, mais de mil milhões de euros de despesa terão de ser autorizados por Centeno. A tão celebrada redução do défice do OE 2019 depende do crescimento - e sabe-se como este está em desaceleração (desceu para 2,1% no 3.º trimestre) com a locomotiva europeia a perder vapor baixando o aumento do PIB para 1,7% no 3.º trimestre, em parte pela contracção da economia alemã.

Essa desaceleração permitiu a Centeno enfeitar-se com a convergência relativa da economia portuguesa (2,1% contra 1,7%), fazendo por esquecer as consequência para as exportações portuguesas e o facto de Portugal ter sido o 6.º país que menos cresceu, com todos os que estão no nosso campeonato a crescerem mais ou mesmo muito mais, como a Polónia (5,7%), Letónia (5,5%), Roménia (4,1%), Hungria (5%), Bulgária (3%), Lituânia (2,7%), Espanha (2,5%), República Checa 2,3%.

Ao crescimento das exportações, que pode estar comprometido com a desaceleração da economia europeia, pode juntar-se a estagnação do turismo: de Junho a Setembro o número de turistas reduziu-se em 128 mil (2,2%).

Assim, porque não foram feitas quaisquer reformas e pelo contrário foram feitas contra-reformas, a redução do défice não resulta da redução da despesa, nomeadamente da despesa com pessoal que continua a aumentar, como se pode ver no diagrama seguinte.

Navegando por mares já navegados
Também Centeno já tem «obra feita», pela qual se cumprimenta numa peça auto-laudatória publicada no Eco. Naturalmente, essa peça não faz referência à sua obra de cativações e, por exemplo, não inclui o desastre financeiro em que se encontram os hospitais do SNS cuja esmagadora maioria piorou os resultados operacionais negativos entre 2014 e 2017 que no conjunto triplicaram. Tudo isto toldado por uma enorme opacidade que resulta do atraso ou mesmo da indisponibilidade absoluta de informação.

E vem a propósito declarar o meu apoio à proposta de João Vieira Pereira «que Centeno suceda a Centeno», para darmos uma nova oportunidade ao Ronaldo das Finanças de mostrar os seus talentos quando o vento mudar. Acrescento a esta proposta que Costa suceda a Costa e que não o deixemos ir estudar para Paris ou fazer outra coisa qualquer noutro sítio, como o seu antecessor.

Ao arrepio da imagem que o governo socialista tenta fazer passar da suposta credibilidade crescente do Estado português sob a sua administração, os bancos europeus que detinham 180 mil milhões da dívida pública portuguesa em 2010 reduziram para 111 milhões a sua exposição, ou seja uma redução de 69 mil milhões, sobretudo devida aos bancos alemães (-31 mil milhões) e franceses (-26 mil milhões) (fonte Expresso). A fé, pelos vistos, não é muita.

Quem ainda parece acreditar em Portugal são os seus emigrantes que continuam a enviar dinheiro (3,5 mil milhões o ano passado) em quantidades que superam qualquer outro país da EU28, incluindo a Polónia. Infelizmente isso não chega para compensar a queda da poupança dos residentes que em oito anos desceu para menos de metade.

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