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22/10/2018

Crónica da avaria que a geringonça está a infligir ao País (158)

Outras avarias da geringonça e do país.

Como explicar que este governo de Costa escape quase incólume a tanta trafulhice, trapalhada e incompetência? Uma parte da explicação reside no jornalismo de causas e no enviesamento à esquerda dos mídia. Com parte da equipa da casa afecta ao PS e o apoio de comunistas e berloquistas, a geringonça faz quase o pleno nas redacções e desfruta de boa imprensa que atinge o refinamento no semanário de reverência com títulos de manipulação subliminar como «Centeno devolve €4427 milhões» ou «Empresas recebem estabilidade e cheque de €153 milhões»

A outra parte resulta da bonança económica, a que a geringonça é de todo alheia, que cria uma ilusão de prosperidade que não resistirá à primeira recessão. Tudo isto não tira o mérito ao elaborado manobrismo de Costa focado num único propósito: manter-se no poder.

Desta vez Costa excedeu-se na manobra, declarando a confiança num ministro que haveria de demitir, negando uma remodelação que faria poucos dias depois, despedindo na 25.ª hora ministros que tinham acabado de aprovar um orçamento que serão outros a executar e mentindo ao dizer que todos os ministros pediram para sair. «Quem me conhece sabe que não saio de coisas difíceis» disse Adalberto Campos Fernandes questionado sobre as razões da saída.

Já comentei na crónica anterior a remodelação que ainda não era conhecida em toda a sua extensão e que agora se percebe consistir em encher o governo com amigos de Costa a nível de ministros e com amigos de Sócrates nas secretarias de Estado - nada menos de quatro dos novos secretários foram homens de mão do animal feroz, incluindo Galamba na «Transição Energética». Vem a propósito constatar que sendo o know-how da criatura inexistente em matéria de energia (e no resto) o ministro do Ambiente seu chefe apressou-se a explicar que o escolheu (meaning o mandaram escolher) porque «completava melhor o meu saber». Como se pode antecipar nesta oportuna foto, ambos vão depender do «saber» de Mexia.

O caso mais óbvio de conflito de interesses - o de Siza Vieira - mantém-se, apesar da transferência da Energia para o Ambiente feita à sua medida, e agrava-se com o facto do homem passar a tutelar o Turismo e ser marido da presidente da associação de hotelaria, o que poderia ser pasto para uma teoria da conspiração a explicar o zelo do governo no combate ao alojamento local. Ao mesmo tempo continua a coordenar o grupo de trabalho sobre a fiscalidade na energia,

Foi muito celebrada a subida de 10 posições para 34.º no ranking de competitividade do World Economic Forum, omitindo que a subida de 8 dessas 10 posições foi devida uma alteração da metodologia. Com a nova metodologia, o ano passado Portugal teria ficado em 33.º e teria assim caído uma posição este ano. Além disso, uma coisa é comparar Portugal com países em vias de desenvolvimento e outra é comparar com países do espaço geográfico, económico e social onde se insere o país e concluir que é o quarto menos competitivo da zona euro.

Quanto a greves assinalem-se apenas os casos notáveis. O dos enfermeiros que com a última greve alcançaram o feito de mais de 100 dias de greves este ano e o do pessoal do Metro que com greves entre as 6h e as 9h30 inventaram a greve de custo mínimo e impacto máximo, ao mesmo tempo que anunciaram a repetição da fórmula para 6 de Novembro no dia do início da Web Summit.

No capítulo orçamental e reduzindo a coisa ao mínimo que já ninguém tem pachorra para o tema, destaco o que já foi dito pelos poucos comentadores que conservam alguma independência: o OE 2017 não tem rede e está dependente do crescimento, a cujas previsões o Conselho de Finanças Públicas deu parecer negativo; por sua vez o crescimento em desaceleração está completamente dependente do exterior e da manutenção do preço do petróleo e do turismo e do imobiliário (ambos a desacelerar); por isso e por ser ano de eleições, o orçamento tem implícito um risco significativo de derrapagem; uma vez mais se poupa nos serviços públicos e no investimento (leia-se este artigo e este post) para satisfazer a freguesia eleitoral (aumento de 3,1% das despesas com pessoal); a redução do défice de 0,7% para 0,2% do PIB deve-se em 80% à redução dos juros e aos dividendos do BdP e da Caixa; registe-se a mercearia orçamental na preparação do orçamento com destaque para a trapalhada das reformas antecipadas que já teve várias versões. É pedida ao Parlamento autorização para aumentar o endividamento até 10 mil milhões de euros - vamos ver se chega porque em 2019 será preciso amortizar quase 18 mil milhões e financiar o défice de 0,2% o que só será possível com umas valentes cativações e a fórmula habitual de atrasar o pagamento aos fornecedores.

Vem a propósito referir a manipulação na divulgação dos números do orçamento de Centeno e da sua equipa que consiste em comparar, conforme o que for mais conveniente, as verbas do novo orçamento com o orçamento anterior ou com a execução em curso. Assim, por exemplo, o investimento público orçamentado para o ano seguinte é comparado com a execução do ano abaixo do orçamentado. O governo PSD-CDS investiu em 2015 4 mil milhões, com este governo caiu em 2016 para 2,8 mil milhões, em 2017 para 3,2 mil milhões, em 2018 foram orçamentados 4,5 mil milhões e extrapolando os números até Agosto serão executado uns 3 mil milhões e, no entanto, têm sido anunciados aumentos todos os anos.

Certo é que a carga fiscal vai aumentar outra vez com mais 640 milhões de impostos o que é explicado involuntariamente pelo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais quando diz «este Governo promoveu uma política fiscal de esquerda»

1 comentário:

Unknown disse...

Certificado de idiotia a todo um povo - e confirmação de que jornalismo, cá no burgo, ´e sinónimo de prostituição.
Repetindo , à exaustão, " o outro" : Biblicamente estúpidos.