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07/10/2018

CASE STUDY: Previsões milagrosas para justificar decisões já decididas

Ainda recentemente, o Estudo de Impacte Ambiental ao prolongamento da rede entre o Rato e o Cais do Sodré concluiu que em resultado desse prolongamento teria lugar um milagre: 1.232.276 (nem mais, nem menos, exactamente um milhão duzentos e trinta e dois mil duzentos e setenta) pessoas deixarão de utilizar veículo próprio só no primeiro ano e 38.545.108 no período de 30 anos.

Como tentei mostrar neste post, muito provavelmente estas projecções são pura efabulação para justificar um investimento que já estava decidido. Na verdade, como referi, o transporte público na maioria das grandes cidades mundiais está em retracção nas ultimas décadas por várias razões inter-relacionadas como a generalização do transporte partilhado, novos operadores privados (Uber e outros), uso de bicicletas, teletrabalho.

Na mesma linha, neste caso para justificar outra medida que o governo está a promover, o ministério do Ambiente tirou da cartola outro estudo onde estima o impacto da redução do preço dos passes sociais nas zonas metropolitanas de Lisboa e Porto em menos 73 mil automóveis a circular e menos 100 mil pessoas, de onde, contas feitas, a medida se pagaria a si própria.

É claro que passes sociais mais baratos pagos pelo orçamento do Estado equivalem a uma transferência de rendimentos em benefício das família de menores rendimentos o que, sendo uma pequena contribuição para reduzir as desigualdades, pode justificar-se só por si, sem precisar da mistificação de estudos encomendados. Mas isso, como na fábula da rã e do escorpião, faz parte da natureza deste governo.

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