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09/03/2014

DIÁRIO DE BORDO: Postal de um pai que ficou por cá (a uma filha que emigrou)

Minha filha, tenho muita pena de não estar contigo todos os dias, mas não tenho pena de não viver a tua vida que deve ser vivida por ti e não por mim, agora que decidiste procurar emprego no estrangeiro e emigrar porque, como disse em tempos Belmiro de Azevedo, «os empregos nascem em sítios que não estão ao lado de casa.»

Não me surpreende a indiferença das «elites» portuguesas, essa amálgama paroquiana de gente cada vez menos preparada, cada vez mais medíocre mas fundamentalmente clientelista, precisamente porque são as elites «portuguesas» que ora ficam indiferentes, ora se ficam pela comoção, sempre sem acção.

Agora que partiste faço votos que tudo corra pelo melhor. Faz um bom trabalho, amealha uns cobres porque o estado social está falido e mostra aos tugas medrosos e às elites merdosas que és uma rapariga que não tem medo dos desafios porque lhe corre nas veias o sangue de várias gerações de emigrantes da nossa parentela que foram à procura de empregos nascidos em sítios como França, Inglaterra, Alemanha, Brasil, Argentina, Estados Unidos, Austrália, Bahrein, Angola, Mauritânia, Cabo Verde e noutras paragens que já esqueci - e alguns deles ainda por lá andam.

Um grande abraço

[O Expresso de sábado passado publicou, com grande destaque, mais uma carta «comovente» modelo «Tordo», que tanto sucesso tem tido, de um português professor da universidade Manchester que emigrou e escreve uma «carta a uma filha que por cá ficou». Por coincidência, uma das minhas filhas partiu na passada 4.ª feira para trabalhar em Luanda durante uns anos. Resolvi escrever-lhe este postal anti comovente, subvertendo algumas das frases do comovido professor.]

O navio-vapor Mexico onde viajou o bisavô da emigrante, desembarcado em Ellias Island
com destino a Danbury, Connecticut (I guess)

1 comentário:

Vivendi disse...

Bom mesmo era ver as nossas "elites" emigrarem para o raio que os parta...

Portugal está arruinado por um cúpula centralista e é altura dos portugueses darem um basta.

Abaixo a democracia dos partidos.