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27/10/2022

DIÁRIO DE BORDO: É para mim um mistério o respeitinho que a esquerdalhada revela pelo professor Adriano Moreira

[Nota prévia: este post não é sobre o professor Adriano Moreira, é sobre a esquerdalhada.] 

Para quem não conheça o CV do professor Adriano Moreira recomendo a leitura do artigo «Adriano Moreira e a continuidade das elites entre dois regimes políticos» de Jorge Fernandes, do qual respigo a seguir o segmento mais importante a este respeito,

Não sem antes lembrar que há dez anos publiquei o post O camaleão do regime onde considerei o caso de Adriano Moreira como talvez o mais espantoso. Tão espantoso que ainda mais me espanto por isso, espantosamente, não parecer espantar (quase) ninguém. Ainda agora.

«A 14 de Abril de 1961, o recém-empossado Ministro do Ultramar reabriu o Campo do Tarrafal em Cabo Verde. Renomeado Campo do Chão Bom, para afastar fantasmas passados, o Tarrafal passou a servir primordialmente para prender Africanos envolvidos nas lutas coloniais. Os métodos de tortura mantiveram-se inalterados.

 A 6 de Setembro do mesmo ano, o mesmíssimo ministro do governo liderado por António de Oliveira Salazar abolia o estatuto de indigenato, um conjunto de leis criado em 1926 que regulava os direitos e os deveres da população Africana nos territórios sobre administração Portuguesa. A mudança legislativa tinha como objectivo declarado acabar com o trabalho forçado e dotar a população indígena de direitos em linha com os dos colonizadores. De acordo com o ministro do Ultramar, as motivações para esta alteração legislativa eram consistentes com a tradição Portuguesa de a todos acolher com “igual fraternidade” e “sem violência”, sendo “necessário estabelecer um conjunto de preceitos que traduzissem a ética missionária que nos conduziu em toda a parte com fidelidade à particular maneira portuguesa de estar no Mundo.” Mais, de acordo com o mesmo ministro, “os imperativos legais destinados a proteger as populações que entravam no povo Português vieram a constituir um todo harmonioso, onde o respeito pela dignidade do homem, expressa nas formas tradicionais da propriedade, da família e das sucessões, se tornou um imperativo para todos os agentes, públicos e privados, da acção ultramarina portuguesa”.

O Ministro do Ultramar que tomou estas decisões, que contribuíram decisivamente para a capacidade de o regime autoritário e colonial de Salazar e, depois, de Caetano, resistir à descolonização até 1974, depois de uma guerra absurda onde muitos jovens Portugueses e Africanos sacrificaram a vida, chamava-se Adriano Moreira. De acordo com a história que ele próprio construiu, o fim do estatuto do indigenato terá sido da sua arquitectura, visto ter grandes preocupações com as condições de vida e de trabalho das populações Africanas e com a necessidade da modernização do regime, quiçá mesmo o seu fim.»

Pergunto-me com um CV comparável não seria de esperar um ódio entranhado por parte da seita autodesignada antifascista? Certamente, veja-se como a esquerdalhada tratou quase todos os outros ministros e até quadros do Estado Novo - nem estou a recordar-me de outras excepções, salvo os que foram membros ou que aderiram posteriormente um partido de esquerda.

2 comentários:

Unknown disse...

Veiga Simão , se bem que com "bombo y platillo" de menor proporções, também foi "recuperado"...

Impertinente disse...

Sim, mas Veiga Simão foi um caso especial de recuperação, visto que parece ter sido uma espécie de socialista na clandestinidade que se assumiu ao ser deputado pelo PS em 1983 e ministro da Indústria em 1985.