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29/10/2022

ACREDITE SE QUISER: Ele disse fábrica de unicórnios. E não pode ser só uma oficina? (2)

Continuação de (1)

Há um ano, o Dr. Moedas anunciou uma «fábrica de unicórnios, onde vamos ensinar os detalhes e os processos, e fazer dos sonhos grandes negócios, criar empregos e mudar o mundo e ter propósito. É isso que a Fábrica de Unicórnios será.»

Ontem o Dr. Moedas cumpriu o prometido e anunciou que a nova Fábrica de Unicórnios vai arrancar em 2023 com um investimento de €8 milhões para três anos de funcionamento. Cumpriu o prometido? Pois parece que não, porque primo, ele fez apenas outro anúncio, e secundo, oito milhões em três anos não dão nem para mandar cantar um cego, quanto mais para "apoiar" empresas inovadoras que um dia serão avaliadas em mais de mil milhões de dólares.

É mais um equívoco que começa por imaginar que já existem unicórnios portugueses, os quais segundo a AICEP seriam Farfetch, OutSystems, Talkdesk, Feedzai, Remote, SWORD Health, Anchorage Digital. Na verdade, um já não é classificado como tal (a Farfetch já está cotada) e os outros seis estão sedeados em cidades americanas: Boston, São Francisco (3), São Mateo e Nova Iorque. Entre os 1.191 (número de hoje) unicórnios não se encontra um único com sede em Portugal. Mais, entre os vários milhares de "Selected Investors", numa vista rápida em diagonal não encontrei um único português.

Todos aqueles supostos unicórnios lusitanos são considerados pela CBInsights como americanos porque foram criados, operam e se financiam nos Estados Unidos e a nacionalidade dos fundadores só é considerada quando a sede do unicórnio se situa no exterior. 

E o equívoco continua com o imaginar que atirar (pouco) dinheiro para um terreno inóspito a respeito do risco e da inovação irá criar uma safra de unicórnios, quando virtualmente todos os unicórnios nasceram sem dinheiro ou com o dinheiro de venture capitalists que puseram o dinheiro onde puseram a boca apostando numa ideia e numa equipa. 

E o equívoco termina, por agora, com o pensar que a inovação, isto é, a criatividade organizada e sistemática, e a iniciativa, isto é, a disposição para assumir riscos, precisam do «edifício da Factory que está em fase de conclusão no Hub Criativo do Beato.» É o equivalente a pensar que a fé precisa de um Convento de Mafra, ainda para mais sem o ouro do Brasil. Não temos emenda.

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