Em retrospectiva: que o debate sobre o aquecimento global, principalmente sobre o papel da intervenção humana, é muito mais um debate ideológico do que um debate científico é algo cada vez mais claro. Que nesse debate as posições tendam a extremar-se entre os defensores do aquecimento global como obra humana – normalmente gente de esquerda – e os outros – normalmente gente de direita – existindo muito pouco espaço para dúvida, ou seja para uma abordagem científica, é apenas uma consequência da deslocação da discussão do campo científico, onde predomina a racionalidade, para o campo ideológico e inevitavelmente político, onde predomina a crença.
A COP26 foi mais um evento mediático em que uns diabolizaram o "sistema", isto é o capitalismo e a democracia liberal, e outros exorcizaram os seus demónios de vários modos, infantilizando-se numa espécie de Gretas retardadas ou fazendo declarações de paixão climática e promessas vãs. É claro que também por lá havia gente cientificamente preparada e intelectualmente séria, mas no meio do ruído mediático passaram despercebidos.
E estamos assim. Ficamos entalados entre o ruído da histeria climática que levada às suas últimas consequências conclui que o homo sapiens sapiens tem de ser erradicado para salvar o planeta, e o ruído das teorias da conspiração que consideram que o único problema sério com o ambiente é a histeria climática.
Também por cá é mais ou menos assim. Com excepções, claro, como do artigo Alterações climáticas: duas faces da desonestidade intelectual de David Marçal, bioquímico e divulgador científico.
Sendo aquelas duas faces igualmente desonestas e danosas para a compreensão do que está em causa, considero que a histeria climática é potencialmente mais perigosa. Por um lado, a histeria exalta uma minoria de áctivistas lunáticos e desacredita qualquer ideia das consequências negativas dos modelos existentes de produção e de vida e por outro apresenta às pessoas comuns uma visão deturpada e catastrofista que esgotado o pânico pela repetição, como a fábula do pastor mentiroso, convida ao descrédito ou ao conformismo.
2 comentários:
Segundo este 'vosso' anónimo, uma teoria de conspiração é um conjunto de factos e de dados que um governo detesta.
James Bovard in The ‘Conspiracy Theory’ Charade:
How government and media use the phrase to suppress opposition. In recent decades, conspiracy theories have multiplied almost as fast as government lies and cover-ups.
Abraço.
David Marçal, em minha opinião, não é um cientista.
Entre 7 e 9 de Setembro de 2018 realizou-se na Faculdade de Letras da Universidade do Porto uma Conferência respeitante ao tema das alterações climáticas, sendo moderador o cientista sueco Nils Axel Mörner (1938-2020) um conhecido céptico das teorias do IPCC. Os oradores eram igualmente críticos das teses climáticas do IPCC.
Quando a conferência foi anunciada David Marçal desdobrou-se em esforços, quer em escritos agressivos no blog De Rerum Natura, quer numa entrevista televisiva com o pivot do Programa Eixo do Mal, para tentar impedir a realização da Conferência, a qual, segundo ele, e não só (infelizmente também Carlos Fiolhais, por exemplo) deveria ser proibida (!) por reunir um conjunto de “negacionistas” que mais não fariam senão atentar contra uma ciência estabelecida e reconhecida pela maioria dos cientistas de todo o mundo.
Em suma, ao não reconhecer que a crítica faz parte do processo científico e que não pode haver ciências imunes ao debate ou à contestação (“falsificação” como dizia Karl Popper) David Marçal fez o papel de um inquisidor dos tempos modernos. Não fica nada bem a um “comunicador de ciência”.
Cumprimentos
Jorge Pacheco de Oliveira
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