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26/12/2020

SERVIÇO PÚBLICO: A verdade só é como o azeite com uma imprensa livre e gente independente, uma e outra em risco na democracia asmática do PS

Porque teria o governo do Dr. Costa optado por usar apenas o financiamento a fundo perdido do Fundo de Recuperação (a bazuca) não utilizando o empréstimo em condições vantajosas? Estranhamente a comentadoria do regime ignorou, por razões que não são estranhas, esta opção do governo. Lembrando-me vagamente de já ter lido uma explicação plausível, fui procurar e aqui está a explicação de Daniel Bessa, um ex-ministro da Economia de Guterres durante cinco meses (saltou do comboio socialista, logo que percebeu para onde ia).

«Na hora de apresentar aos portugueses um primeiro esboço do programa de utilização dos €26,1 mil milhões, que terá de ser submetido à Comissão Europeia até ao próximo dia 15 de outubro, António Costa referiu-se apenas a €15,3 mil milhões, deixando escapar, quase entredentes, que Portugal não se candidataria aos €10,8 mil milhões que nos foram atribuídos a título de empréstimo. Portugal não quer empréstimos, só aceita fundo perdido. Razão invocada: a dívida pública portuguesa já é muito elevada. (...)

O primeiro-ministro de Portugal congratulou-se com os €750 mil milhões do Fundo de Recuperação mas, na hora de nos dizer de quanto dinheiro dispúnhamos, nunca incluiu os €10,8 mil milhões deste Fundo que nos foram atribuídos a título de empréstimo. Não mentiu. Tardou apenas algum tempo, e deu algum trabalho para que se tornasse claro. (...)

Com as contas mais equilibradas, o problema do excesso de dívida pública não desapareceu, vendo-se agora subitamente agravado pela crise económica e social provocada pela pandemia. O défice público está de regresso, e apenas em 2020 e em 2021, fazendo fé nas contas e nas projeções do Governo, o Estado Português terá dois défices que, somados, rondarão os €27 mil milhões, aumentando no mesmo montante a dívida pública. O Governo português recusa €10,8 mil milhões de empréstimo da UE porque está muito endividado, mas vai endividar-se, no mesmo período, em €27 mil milhões. Porquê? Porque os primeiros teriam de financiar investimento público e privado, acompanhado de reformas, enquanto os segundos financiarão consumo público, mesmo na parte em que este se vai ver aumentado, pese embora a enorme redução de receita. Algum deste aumento do consumo público não é estritamente indispensável e, em matéria de reformas, não haverá nenhuma.»

A verdade, como o azeite...Daniel Bessa

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