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05/04/2004

CASE STUDY: Pior do que ter ido é ter ficado. / I’d rather be a hammer than a nail. (VERSÃO CORRIGIDA)

Summary for the sake of
«Descendants of black American slaves are to sue Lloyd's of London for insuring ships used in the trade ... for ongoing injuries that these people suffer from», BBC News wrote.
A former Portuguese ambassador remarked in Expresso that those who should sue instead are the ones descendants of black Africans whose ancestors were disregarded and not brought to the United States.

By the way, I would remind another reason to entitle that second kind of descendants to be indemnified: they are victims of themselves and of their corrupt and incompetent African leaders. They can’t vote, they only have a few dollars of income per day, they have one-third probability to be infected by AIDS and they neither have Medicaid nor Medicare and they have half of the expectation of life of the slave descendants.


A Lloyd’s Corporation, nascida nas mesas da Coffee House de Edward Lloyd em 1688, é uma das instituições financeiras mais originais e a mais antiga nos seguros do Reino Unido, e do mundo. Ao assumir uma proporção respeitável dos riscos ligados às principais actividades, desde o comércio marítimo até ao lançamento de satélites, passando por quase todos os grandes projectos de engenharia, ajudou a criar o mundo como o conhecemos hoje.
Um dos riscos que a Lloyd’s segurou nos séculos XVII e XVIII foi o do transporte de escravos nos navios negreiros, principalmente para os Estados Unidos, tal como a Fidelidade o fez para Portugal - ainda recentemente, podia ver-se, num dos expositores do seu edifício do Largo do Corpo Santo, um fac-símile dum registo com algumas apólices de seguro de escravos.

Edward Fagan, um advogado americano que representou vítimas no caso do ouro nazi, representa agora (ver BBC News) um grupo de descendentes de escravos numa acção contra várias instituições entre elas a Lloyd’s. A acção em nome de alguns dos 44 milhões de negros americanos que descendem dos escravos baseia-se em «ongoing injuries that these people suffer from».
Um dos queixosos confessa até «I suffer from the injury of not knowing who I am», queixa que, apesar de comovente, não é muito original porque eu e mais 10.238.435 almas lusas residentes queixamo-nos do mesmo.

O embaixador José Cutileiro escreveu, tirando-me as palavras da boca, no seu Mundo dos Outros, no Expresso do passado sábado: «deveriam (as indemnizações) ser pagas não aos descendentes dos escravos trazidos para os Estados Unidos, mas aos descendentes daqueles que os negreiros deixaram ficar em África».

Embora concordando com o embaixador Cutileiro, recordo que, com as finanças públicas arrombadas, esta não é uma boa oportunidade para defender a sua tese. Do ponto de vista das finanças, será melhor aceitar a tese do advogado Edward Fagan.
Será muito mais barato mandar a Fidelidade, agora Fidelidade Mundial, ir sacar aos cofres do seu accionista CDG mais umas massas para ressarcir as almas dos nossos irmãos africanos residentes em Portugal, do que distribuir grana pelos milhões espalhados por essas infindáveis savanas angolanas e moçambicanas. Sem esquecer que que, no caso de Angola, o presidente Eduardo dos Santos tem mais obrigação do que nós e mais dinheiro do que as nossas exauridas finanças.

Seja como for, convém também pensar na oportunidade de nós, os descendentes dos lusitanos, accionarmos os romanos por ainda hoje não sabermos quem somos.

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