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31/10/2003

Estórias e morais: dar corda aos sapatos ou pôr uma velinha?

1ª Estória
O Dr. Silva Lopes com a autoridade que lhe vem do seu passado como economista e da sua honestidade intelectual, que o inibe de dizer besteiras, apesar das suas simpatias políticas, disse na 3ª Feira, no debate de faca e garfo promovido pelo Fórum dos Administradores de Empresas, que os empresários portugueses, à míngua de competitividade, se concentram nos sectores de bens e serviços não transaccionáveis, onde a concorrência da estranja não se faz sentir de todo, ou muito pouco – quem é que vai comprar hortaliça a Badajoz, ou reboca uma casa à séria comprada em Francoforte para a Reboleira, apara as patilhas nas Ramblas ou abre uma conta num banco da City?
E porquê, pergunta-se. Ele explicou aquilo que nós não perguntamos, nem queremos saber, porque olhos que não vêem, coração que não sente – quem, senão nós que andamos à séculos à espera do Encoberto, é que poderia inventar uma sacana duma sentença destas?
Disse ele que, quando comparamos a relação produtividade média/salário médio com os nossos parceiros europeus, verificamos que desde 1989 andámos para trás e ficámos cada vez menos competitivos, porque o aumento dos nossos salários não foi acompanhado por um aumento equivalente da produtividade.
Que fazer para sair deste atoleiro? Damos corda aos sapatos (uma forma simplificada de dizer que teremos que aplicar aquelas reformas que a gente suspeita serem parecidas com aquelas torturas da Santa Inquisição), ou ficamos à espera dum milagre, como ele sugeriu? Nesta última modalidade já temos uma grande experiência. Na outra nem por isso.

2ª Estória
No entretanto, numa outra galáxia distante, onde só se acredita nos milagres que acontecem quando se dá corda aos sapatos, foi ontem divulgado o crescimento da economia americana no 3º trimestre (sim, no TERCEIRO trimestre, que acabou há 4 semanas). Apenas a taxa mais alta desde 1984: 7,2% - uma assim, tipo China, ou tigre asiático dos anos 80.

Duas estória, uma moral
Há dois tipos de problemas na vida: os problemas políticos, que são insolúveis, e os problemas económicos, que são incompreensíveis (Alec Douglas-Home).

Fim da estória?
Ainda não. Afinal não há uma maneira light de sair do atoleiro, assim uma coisa tipo hedonismo pós-moderno, com amanhãs que cantam, o estado solidário a deitar dinheiro para cima dos problemas, dos empresários, dos artistas, dos excluídos?
Por várias razões, longas de explicar, já não há.

Fim da moral
No pain, no gain.

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