Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

23/08/2025

Os caminhos de ferro indianos como inspiração para resolver alguns problemas da CP

Em meados do século XIX, a Inglaterra introduziu na Índia, à época sua colónia, exames mais difíceis para a selecção de funcionários públicos, incluindo os locais, que até então eram frequentemente escolhidos por "cunha". Espera, assim, seleccionar os melhores candidatos e afastar os incompetentes bem relacionados. De passagem, é razoável suspeitar que parte dos problemas das ex-colónias portuguesas podem ter resultado de a administração colonial portuguesa não ter seguido o exemplo da pérfida Albion.

Ainda hoje, os exames para a selecção de funcionários dos caminhos de ferro indianos respeitam essa tradição e o exame do concurso para ajudantes de condutores de comboio tem perguntas de resposta múltipla como a seguinte:

Fonte: 1843 magazine

Pensando nos problemas da nossa CP, entre os quais se encontra inevitavelmente a falta de competência (e de diligência) do seu pessoal, imaginei sugerir ao ministro Dr. Matias incluir entre as reformas que o governo do Dr. Montenegro vai executar a introdução de exames deste tipo para a selecção de pessoal do nosso elefante branco ferroviário. É claro, que não querendo ser lunático, não estou evidentemente a pensar na selecção dos ajudantes de condutor, nem mesmo dos quadros da CP, estou apenas a pensar nas nomeações para a administração.

20/08/2025

A arma das terras raras pode vir a disparar no pé do Imperador Xi

É cada vez mais evidente que o Novo Império do Meio usou, usa e usará como arma o controlo das exportações e, nomeadamente, o controlo da exportação das chamadas "terras raras", um conjunto de minerais por agora essenciais para quase todos os dispositivos eléctricos e electrónicos, minerais dos quais a China dispõe de cerca de 90% das reservas mundiais. Com essa arma a China já conseguiu eliminar as restrições dos EU à importação de chips da Nvidia e adiar a aplicação das "tarifas". 

Por isso, à primeira vista, o controlo das exportações, por exemplo de terras raras, concede à China um poder incontestável nas guerras comerciais. À segunda vista não é bem assim. Apesar da China deter 90% das reservas, os restantes reservas são uma quantidade imensa que em muitos casos não são exploradas por restrições ambientais que a China não tem. Por outro lado, inevitavelmente, a escassez irá ser um poderoso incentivo para desenvolver processos de extração e refinação menos poluentes e encontrar alternativas, como no caso da BMW e Renault que já fabricam veículos eléctricos sem utilizar terras raras (fonte: China’s power over rare earths is not as great as it seems)

Finalmente, como resulta do modelo desenvolvido por Albert Hirschman (National Power and the Structure of Foreign Trade) a partir da economia de guerra alemã, utilizado recentemente por Clayton, Maggiori e Schreger (A Theory of Economic Coercion and Fragmentation) para estudar o poder geoeconómico que os serviços financeiros proporcionam aos EUA, se é certo se mesmo um pequeno aumento da quota de mercado de um país num produto -  por exemplo a China nas terras raras - poderá ter efeitos muito superiores no poder de controlo do mercado, é igualmente certo que uma pequena redução dessa quota terá efeitos múltiplos na redução desse poder do mesmo país.

19/08/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (67)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Uma vez mais, o Dr. Carneiro atrasou-se nas recomendações ao governo

Um dia destes, o Dr. Carneiro recomendou ao governo que declarasse a situação de contingência e criticou-o por se ter eclipsado em vez de, como se impunha, ter pegado na mangueira e combater os incêndios. Não me recordo de o Dr. Carneiro ter feito recomendações ou críticas quando, nas mesmas circunstâncias, em 2005 o Eng. Sócrates foi de férias para o Quénia, ficando o então MAI Dr. Costa a chefiar o Governo, ou quando o primeiro-ministro voltou e o Dr. Costa abandonou a mangueira e foi de férias enquanto o país ardia. Como também não me lembro de o Dr. Costa ter adiado as suas férias quando dos incêndios de Pedrógão Grande em 2017.

O socialismo do PS torna os ricos mais ricos

«Os mais ricos ficaram ainda mais ricos com o PS no poder», titula o semanário de reverência – uma fonte autorizada e credível quando, esquecendo-se dos favores que os governos do Dr. Costa fizeram à Impresa, se escreve algo crítico sobre a governação socialista.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

Os governos socialistas terminaram as Parcerias Públicas Privadas (PPP) para a gestão dos hospitais Amadora-Sintra e Loures criando mais duas fontes de problemas para o SNS. Por alguma obscura razão manteve-se a PPP do Hospital de Cascais (gerido pela espanhola Ribera Salud) que é um dos poucos hospitais em que o problema das urgências não se tem colocado e que vem apoiando os hospital geridos os apparatchiks do SNS.

18/08/2025

Tariff revenues don’t even cover the interest on the debt

«“The purpose of what I’m doing is primarily to pay down debt, which will happen in very large quantity,” Trump told the media earlier this month. “But I think there’s also a possibility that we’re taking in so much money that we may very well make a dividend to the people of America.”

The plan sounds welcome, in theory. But there’s just one problem. At present, tariff revenues don’t even cover the interest on the debt - let alone reduce its overall size.

According to Treasury data seen by Fortune, the accrued interest expense on Treasury notes in July alone was $38.1 billion. Add to that $13.9 billion in interest on Treasury bonds, $2.85 billion on Treasury floating rate notes (FRN), and a total of $6.1 billion across Treasury inflation-protected securities (TIPS) assets. The bill is eye-watering: The total comes to $60.95 billion for the month.

By contrast, Treasury statements show that tariffs only brought in $29.6 billion to offset it

Crónica da passagem de um governo (12)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Ideias simples para reformas baratas

A parte mais interessante do desembarque de 38 marroquinos na costa algarvia, não foi o desembarque em si que suscitou enorme excitação à direita e à esquerda. Foi a circunstância de terem intervido – ou de alguns mídia terem relatado a intervenção de - três entidades do Estado sucial: Marinha, Polícia Marítima e GNR, que tomaram conta da ocorrência.

Uma empresa quer construir um parque eólico onde já tem uma central solar. O ICNF (Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas) só autoriza se o parque eólico for dotado de aerogeradores sem pás, coisa que só sairá do papel dentro de uma década, se for financiada a formação de ornitólogos e existirem cães para localizarem os passarinhos mortos. (fonte)

Do sistema de autobaixas inventado pelo governo do Dr. Costa, resulta que até 31 de Julho já houve mais de um milhão de autobaixas e há 52 mil pessoas que já esgotaram o limite de seis dias.

mais liberdade

E se, depois de tomadas estas medidas simples, ainda sobrar algum ímpeto reformista poderá o governo facilitar a vida online das empresas.

Take Another Plan. Esta privatização tem tudo para correr mal

« 1) A falta de coordenação e de vontade partidária para uma privatização total que fica totalmente suspensa ‘no ar’; 2) o elevado risco inerente à partilha desta empresa com este Estado, porque a TAP é um joguete eleitoral nas mãos de sindicatos e de partidos; 3) pelo tipo de governança que está em cima da mesa – com este Estado populista e eleitoralista a gozar de uma força de bloqueio no Conselho de Administração, (… ) A estratégia de vender apenas 44,9% ao privado maximiza o risco de continuarmos a ter uma companhia ingovernável e um acionista minoritário preso a uma relação tóxica com o seu ‘parceiro’ maioritário que mudará de opinião de cada vez que muda a cor política do governo.» (Pedro Castro, em entrevista ao Jornal Sol)

As sucessivas notícias da capacidade do aeroporto da Portela estar esgotada têm sido manifestamente exageradas

Para enquadrar melhor esta questão remeto para a série de posts do outro contribuinte “O dinheiro dos credores esgotou-se primeiro do que a capacidade da Portela”, onde se constata o sucessivo adiamento do anunciado esgotamento desde 1998, adiamento que acontecerá uma vez mais com o relatório dos consultores da ANA que concluíram que o aeroporto no formato existente tem capacidade para aumentar dos actuais 38 movimentos por hora para 42 e que as obras só serão indispensáveis para se atingir os 45 movimentos (fonte).

Há quem considere que as consequências das inconstitucionalidades que o TC encontrou também são manifestamente exageradas

Por falta de tempo e de vocação para esgravatar a Constituição não tenho uma opinião fundamentada, mas parece-me fazer sentido a análise e as conclusões de Miguel Pinheiro de que a divergência é mais de semântica do que outra coisa e por isso não fará sentido encostar al paredón verbal o TC.

Depois dos reformados, o governo conforta a tropa

O salário médio líquido da tropa aumentou o ano passado quase 20%, mais do triplo dos paisanos (6%) Depois não digam que as FA não estão preparadas.

O governo parece empenhado em fazer de cada português um funcionário público

Repetindo-me, o Dr. Costa aumentou os 655 mil funcionários públicos legados pelo Dr. Passos Coelho para mais de 740 mil, incluindo cerca de 16 mil “chefes” cujo número aumentou 45%. O Dr. Montenegro já atingiu 760,7 mil no 2.º trimestre, acrescentando mais 20 mil, acrescidos do número de reformados no período (no 1.º semestre foram 8 mil). A estes números devemos acrescentar em breve 1.406 técnicos dos quais 830 psicólogos e 576 especialistas da terapia da fala, serviço social e informática que irão ser contratados para as escolas.

 



17/08/2025

Ponhamos as barbas de molho

Fonte

O diagrama, baseado nos dados do estudo Excess mortality attributed to heat and cold: a health impact assessment study in 854 cities in Europe, mostra o aumento do risco de morte em 854 cidades europeias nos dias mais quentes (ou mais frios), com temperaturas superiores (ou inferiores) em média a 99% dos dias do ano. As nossas cidades têm uma exposição relativamente elevada ao risco de ocorrência de temperaturas extremas, não obstante serem cidades costeiras em que a proximidade do mar ameniza as temperaturas, principalmente porque a maioria das habitações tem uma eficiência energética baixa e a percentagem que dispõe de ar condicionado é muito baixa.

15/08/2025

A investigação e a inovação no Portugal dos Pequeninos submersas pelo corporativismo

A fusão anunciada pelo governo da FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia), responsável pela política de I&D (Investigação e Desenvolvimento), com a ANI (Agência Nacional de Inovação), poderá contribuir para resolver uma dicotomia que justifica a FCT viver numa torre de marfim e a AMI ter resultados medíocres para mostrar, como evidenciam os relatórios do European Patent Office (EPO) que tenho vindo a comentar há vários anos na série de posts "O surto inovador e inventivo que nos assalta"  [(1), (2), (3), (4), (5), (6) e (7)].  

Para me cingir a 2024, vejam-se os títulos encomiásticos produzidos pelo jornalismo de causas, que mostram bem a boa imprensa de que desfruta a comunidade, para celebrar os 347 pedidos de patentes correspondentes a 33,5 por milhão de habitantes, um quarto 1/4 da média da EPO o que nos coloca 28.º lugar dos 39 membros.

É claro que imediatamente após o anúncio da fusão da FCT com a ANI vieram os protestos da comunidade de apparatchiks que parasitam aqueles dois organismos, inquietados pela hipotética ameaça às suas tenças. Só encontrei duas vozes discordantes deste coro: António Coutinho, ex-director do Instituto Gulbenkian de Ciência, e Daniel Bessa, ex-director-geral da COTEC Portugal.

14/08/2025

CASE STUDY: Tomar conta da ocorrência é a acção mais frequente das polícias do Portugal dos Pequeninos

Uma cena de pancadaria num avião da Ryanair na passada terça-feira levou à intervenção da PSP. E em que consistiu a intervenção da PSP? perguntareis e eu respondo: segundo o DN durante uma hora consistiu em "tomar conta da ocorrência". 

E que é "tomar conta da ocorrência"?  Dada a frequência com que as nossas polícias tomam conta de ocorrências (só nos últimos 30 dias segundo o Google houve 121 referências à tomada de conta de ocorrências), em tempos incluí no Glossário das Impertinências a entrada "Tomar conta da ocorrência" onde tentei definir a coisa.

Por falar em tomar conta da ocorrência, ocorre-me para tal são necessários com frequência "operacionais", geralmente em número significativo como se pode ver neste levantamento de há três anos, frequência e número que pelos vistos se mantém - nos últimos 30 dias ocorrerem mais de uma centena de situações que exigiram operacionais, algumas das quais certamente para tomar conta das ocorrências. É a esta luz que se deve avaliar a escassez de polícias, como tenho dado conta na série Outros casos de polícia.

13/08/2025

If you torture data long enough, it will confess to anything or if you don't like the message shoot the messenger


«Broadly speaking, Donald Trump’s authoritarian moves come in two flavors. The first is devious plans that help him amass power (say, turning the Departments of Justice and Defense over to lackeys, or using regulatory threats to bully media owners into favorable coverage). The second is foolish impulses that he follows because they make him feel momentarily better.

Firing Erika McEntarfer, the commissioner of the Bureau of Labor Statistics, as Trump did via a Truth Social post this afternoon, (*) falls into the second category.

McEntarfer’s unpardonable sin was to oversee the routine release of BLS jobs data. This morning’s report showed that job growth last month fell somewhat short of expectations. The more interesting—and, to Trump, unwelcome—information came in its revisions, which found that previous months had much lower job growth than previous estimates. Economists had been puzzling over the economy’s resilience despite Trump’s imposition of staggering tariffs. Now that we have the revised data, that resilience appears to have largely been a mirage.

Trump went with the familiar “fake news” defense. McEntarfer, he posted, had ginned up fake numbers to make him look bad. “We need accurate Jobs Numbers,” he wrote. “I have directed my Team to fire this Biden Political Appointee, IMMEDIATELY. She will be replaced with someone much more competent and qualified. Important numbers like this must be fair and accurate, they can’t be manipulated for political purposes.” (...)

One problem with this move, even from the narrow standpoint of Trump’s self-interest, is that his complaints with economic statistics don’t fit together logically. Revisions of past numbers are a normal part of BLS methodology. Every monthly report is a projection based on limited information, so the bureau continues to update its findings. Last August, the BLS revised previous months’ job numbers downward. This was obviously a bad thing for the Biden administration, but Republicans decided that it was in fact evidence that the BLS had been cooking the books to make the economy look good. (They did not address the apparent puzzle of why it finally came clean, months before the election.) Now that Trump is president, however, downward revisions prove that the BLS is cooking the books to make the economy look bad.

The most prominent exponent of these incoherent theories is, of course, Trump himself. In his post firing the BLS commissioner, Trump cited the downward revisions as evidence that she was faking the numbers to hurt him: “McEntarfer said there were only 73,000 Jobs added (a shock!) but, more importantly, that a major mistake was made by them, 258,000 Jobs downward, in the prior two months.”

In another post an hour and a half later, he cited last year’s revisions as evidence that she had faked the numbers to make Joe Biden look good: “Today’s Jobs Numbers were RIGGED in order to make the Republicans, and ME, look bad — Just like when they had three great days around the 2024 Presidential Election, and then, those numbers were ‘taken away’ on November 15, 2024, right after the Election, when the Jobs Numbers were massively revised DOWNWARD, making a correction of over 818,000 Jobs — A TOTAL SCAM.” (The truth, as we’ve seen, is that the downward revisions under Biden were announced last August, not after the election, but never mind.) (...)»

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Excerpt from Donald Trump Shoots the Messenger

(*) August 1st

12/08/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (66)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Investimento público, a autoestrada mexicana do PS. As contas certas estavam erradas

Segundo as contas do Tribunal de Contas Europeu, Portugal é o país em que o investimento público mais depende (em 90%) dos fundos de coesão (fonte). É esta luz que devemos ver as “contas certas” dos executivos socialistas que nesta matéria e como aqui descrevi consistiram na comparação sistemática do investimento público orçamentado no ano (nunca executado) com o investimento público executado no ano anterior (sempre inferior ao orçamentado) e anunciar que está sempre a aumentar, quando na verdade não aumentava ou mesmo diminuía.

A educação sexual – depois da imigração o PS dá mais um tiro no seu pé esquerdo

Refém do berloquismo interno, que por sua vez é refém dos parceiros da geringonça, o Dr. Carneiro, não percebendo que a endoutrinação da ideologia woke nas escolas foi chão que já deu uvas, em vez de apoiar as reformas moderadas e sensatas do Dr. Fernando Alexandre insiste no mais do mesmo.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro»

mais liberdade

O diagrama mostra os resultados da paixão socialista pelo SNS.

Hospital da Cruz Vermelha, o coio socialista. Invendável

Em retrospectiva, o Hospital da Cruz Vermelha (HCV), uma quinta do PS, falido e nacionalizado em 1998 pelo governo do Eng. Guterres, passaram por lá desde a Dr.ª Maria Barroso, esposa do Dr. Soares, até ao Dr. Francisco Ramos, o coordenador da fracassada task force de vacinação. Falido, no final de 2020 a Santa Casa da Misericórdia comprou uma participação de 55% à Parpública depois desta lá torrar muitos milhões. Por último, a Parpública acredita tanto na recuperação do HCV que teve de reconhecer no seu balanço a imparidade total do valor da participação.

Com um atraso de vários anos o Dr. Carneiro pôs no correio uma carta sobre a habitação

«O secretário-geral do PS enviou na passada semana uma carta ao primeiro-ministro com as medidas que o partido defende para uma nova estratégia de combate à falta de habitação e a disponibilidade para ajudar na resolução do problema.» (fonte).

11/08/2025

Crónica da passagem de um governo (11)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Não acrescentaria nada ao que disseram os juízos que votaram contra o chumbo pelo TC da “lei de estrangeiros”

«A legislação numa democracia constitucional não deve ser produto de uma transação entre as preferências políticas da maioria parlamentar e da maioria dos membros da jurisdição constitucional, mas um exercício de liberdade programática limitado pelo respeito pelos direitos fundamentais e princípios estruturantes de uma república de pessoas livres e iguais». Foi assim que fundamentaram o seu voto os juízes Gonçalo Almeida Ribeiro e José António Teles Pereira.

A esquerdalhada agarrou-se à mama e esqueceu o resto

Num país que registou 85 mil nascimentos o ano passado, onde o índice de fertilidade anda por 1,36, isto é, em média é precisa uma mulher e meia para ter dois filhos (ó senhores censores, isto é uma piada), onde menos de 2/3 das mulheres amamentam até aos quatro meses e aos seis meses menos de 1/3 e a OMS recomenda até aos seis meses, o histerismo mediático à volta da limitação até aos dois anos anunciada pela ministra do Trabalho parece mais uma armadilha para a oposição se entreter e passar ao lado das outras alterações da legislação laboral.

Eu também pergunto, ó Dr. Castro Almeida, como é se torna interessante a limpeza das florestas?

Também tenho a mesma dúvida de Henrique Pereira dos Santos, face à recusa do ministro fazer a limpeza das florestas usando um serviço de gestão de combustíveis finos que são os grandes responsáveis pelo deflagrar e propagação de incêndios florestais.

Ne me kits, pá

Por falar de incêndios florestais, se o governo acredita (é precisa alguma fé) que os aviões são um meio adequado para combater os incêndios num território pequenito e montanhoso como o centro e norte do país, porque diabo não compra os kits para as «10 aeronaves que podem combater fogos»?

Uma boa ideia e uma lambidela no eleitorado velhote

À primeira vista, o programa E-lar para subsidiar as famílias para trocarem um fogão a gás por um eléctrico pode parecer ser mais uma medida para encher o olho. A mim começou por me parecer e continuaria a parecer não fora o desconfiómetro me levar a verificar que, dependendo do tipo (bobina ou indução), o fogão eléctrico permite consumir até menos de metade da energia do fogão a gás. (*)

Já o aumento ridículo do limite da comparticipação de 35% em tratamentos termais de uns 95 euros para 110 euros por ano, à primeira vista e à segunda vista, parece uma medida popularucha para recuperar os votos da velhada.

Hoje há, amanhã não sabemos

Surpreendentemente, a OCDE concluiu que entre os seus 38 membros foram as famílias portuguesas as que registaram a maior queda do rendimento real devido, sem surpresa nenhuma, ao aumento dos impostos. Também não é uma boa notícia o agravamento do défice da balança comercial devido à redução das exportações e ao aumento das importações (-0,1% e 3,9%, respectivamente, em Junho),

Boa Nova ou talvez não

Celebra-se o aumento da população empregada para 5 248,3 mil no 2.º trimestre (1,3% em cadeia e 2,9% em relação ao ano anterior). Ou seja, aumentos superiores aos do PIB o que significa estarem a ser criados empregos em actividades pouco sofisticadas e a produtividade desce em vez de subir.
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 (*) Corrigido: onde estava fogão "eléctrico" deveria estar "a gás".

09/08/2025

Dúvidas (354) - O Portugal dos Pequeninos é um país pobre entre os ricos ou é um país rico entre os pobres?

Fonte

A comparação do PIB per capita a PPC (Paridade do Poder de Compra), no segundo diagrama, com o mesmo indicador ajustado às horas trabalhadas, no terceiro diagrama, confirma conclusão do outro contribuinte: no Portugal dos Pequeninos a produtividade é fraca mas a produtividade total poderia aumentar trabalhando mais horas e esquecendo a fantasia da semana dos quatro dias.

08/08/2025

ACREDITE SE QUISER: Semana de quatro dias, já! E por que não um diploma com a primeira matrícula?

Jornal Eco

Foi esta a conclusão de um inquérito promovido pela Federação Académica do Porto (FAP). O presidente da agremiação diz que «um estudante a tempo inteiro, num curso de licenciatura, dedica cerca de 46 horas por semana às atividades académicas, entre aulas, estudo e avaliações» e conclui que «o modelo atual não responde à realidade de quem trabalha, vive longe ou enfrenta dificuldades socioeconómicas. A implementação da semana de quatro dias é, sem dúvida, um contributo relevante na qualidade de vida dos estudantes universitários». A solução segundo o presidente seria «a inovação pedagógica, através da implementação de métodos de ensino e de avaliação mais adequado».

46 horas por semana? Se acreditar, não posso estar mais de acordo quanto à necessidade de mais uma reforma a juntar à lista do Dr. Gonçalo Matias. É de facto um desperdício de tempo quando comparamos com a reduzida ciência com que uma criatura sai da universidade depois de vários anos de frequência. Porém, não concordo com a solução proposta.

Falando da minha experiência pessoal, nos anos do fássismo gastei pouco mais do que essas 46 horas semanais para fazer uma licenciatura de 5 anos enquanto trabalhava full time. Se naquela época o áctivismo universitário reclamava passagens administrativas, parece justo que o actual reclame o direito ao diploma com a primeira matrícula, isso sim seria uma inovação pedagógica.

06/08/2025

Krugman on tariffs agreement Trump - EC. Apparent concessions?

«Like many U.S. institutions, the European Union has abysmally failed the Trump test. The EU is an economic superpower and could have retaliated effectively against Trump’s illegal tariffs — illegal under both U.S. and international law. Instead, Europe did nothing and even made some apparent concessions.

But notice my wording: apparent concessions. The optics of the Trump-EU deal were humiliating, and optics matter. If you examine the substance, however, it starts to look as if Europe played Trump for a fool. Specifically, a fossil fool.

The EU made two sort-of pledges to Trump. First, that it would invest $600 billion in the United States. Second, that it would buy $750 billion worth of U.S. energy, mainly oil and gas, over the next three years. The first promise was empty, while the second was nonsense.

About those investments: European governments aren’t like China, which can tell companies where to put their money. And the European Commission, which made the trade deal, isn’t even a government — it can negotiate tariffs but otherwise has little power. (...)

So what the EU actually promised on investment was nothing, Nichts, rien.

The pledge to increase U.S. energy exports was a lot more specific and gave a timeframe. But it’s not going to happen. In fact, it’s going to not happen on three levels. (...)

So a big increase in U.S. energy exports driven by demand from Europe is not going to happen. But how will Europe explain its failure to follow through?

It might not have to. Back during Trump’s first term, China promised to buy a lot of U.S. agricultural goods but never did. As far as I know, Trump never made an issue of it. He got to announce a big deal, then lost interest. (...)

Bottom line: Whatever Trump may think, Europe is not going to provide a big boost to U.S. fossil fuel production. He won’t like that, if anyone tells him. But the rest of us should be glad. As I’ve written before, renewables are clearly the energy technology of the future. Trump and his allies are Luddites, trying to stand in the way of progress and keep us burning fossil fuels. Their “burn, baby, burn” obsession is very bad for America and the world. But at least we can be reasonably sure that Europe won’t help, um, fuel that obsession.»

Fossil Fool - How Europe took Trump for a ride, Paul Krugman

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If Paul Krugman is right, the deal would be yet another case of a President focused on appearances who doesn't care about the results as long as he can present himself as a big winner.

05/08/2025

ARTIGO DEFUNTO: A maneira estúpida de usar a Inteligência Artificial para fabricar notícias

Para fabricar uma notícia sobre o festival Vodafone Paredes de Coura um jornalista da SIC, do grupo que publica o "semanário de referência" Expresso, recorreu a um dos modelos de IA que, depois de lhe sugerir o conteúdo da notícia, terminou oferecendo

«Se quiseres, posso adaptar o texto para imprensa escrita, incluir citações simuladas ou adicionar um parágrafo introdutório mais promocional. Queres isso?»

O jornalista copiou diligentemente todo o texto sugerido, incluindo a oferta, que publicou online, texto que chamou a atenção e mereceu comentários da concorrência, como este do 24 Horas.

Sem surpresa, talvez receando o Efeito Streisand, o grupo Impresa não deu explicação oficial nem se encontraria qualquer referência no seu semanário de referência não fora o artigo de opinião «A nova era da batota» de Aguiar-Conraria, economista e comentador do Expresso (cujos artigos leio habitualmente, apesar da urticária que o hífen me faz), que denuncia o caso, sem citar o órgão informativo em causa.

04/08/2025

Crónica da passagem de um governo (10)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Se as intenções parecem boas, convirá lembrar que o inferno está cheio delas

Reformar o Estado é torná-lo mais eficaz e/ou mais eficiente, seja para fazer mais e/ou melhor o que já faz hoje, seja para fazer o mesmo com menos recursos, seja, melhor ainda, aliviar a sociedade civil e fazer melhor e menos com menos recursos. No patuá governativo isto diz-se com muito mais prosa, mas qualquer reforma do Estado tem de alcançar esses propósitos e das duas uma: ou bem mantém o aparelho administrativo e a despesa com pessoal ou bem reduz um e outra, o que inevitavelmente passa por “violar” os direitos adquiridos de muitos dos 760 mil apparatchiks, como fez o governo “neoliberal” de Passos Coelho.

E é aí que a porca torce o rabo, ou seja, o coro das oposições de esquerda e de direita (sim, não se vê o Chega a patrocinar tal coisa), mais o coro dos sindicatos, das redacções onde pululam as oposições de esquerda, mais o Tribunal Constitucional, entram em sintonia a gritar pelas ameaças ao Estado sucial, significando as ameaças à preservação do statu quo que todos parasitam e querem preservar. Sem esquecer que o Dr. Marcelo, o patrocinador das contra-reformas do Dr. Costa, não deixará de usar o seu púlpito em Belém para tentar polir a sua imagem e reservar o seu lugar cativo num rodapé da História.

Por exemplo, o que vai acontecer aos milhares de apparatchiks que habitam o terço dos organismos que as boas intenções do ministro da Educação querem eliminar? Outro exemplo, vai a spending review que o governo consagrou no Decreto-Lei n.º 87/2025, de 25 de julho algum dia sair das páginas do Diário da República para constituir um instrumento de gestão da dívida pública e «promover maior eficiência na alocação de recursos, reduzir desperdícios e otimizar a priorização das despesas públicas»?

Este governo (e os anteriores) esperam que os “privados” façam o papel da assistência social

Em 2016 o Dr. Costa anunciou que até 2020 todas as crianças teriam acesso ao ensino-pré-escolar. Nove anos depois, o número de crianças matriculadas era praticamente o mesmo de 2016 e havia milhares de crianças sem vaga. Dezasseis meses depois da posse do primeiro governo AD das 12.475 lugares que o governo espera serem proporcionados pelos “privados” estes só ofereceram 1.213 lugares.

E porquê? Porque o governo quer pagar uma mensalidade de 208 euros que é metade da mensalidade que um colégio privado (Colégio Moderno) com accionistas socialistas (a família Soares) cobra no ensino pré-escolar (515 euros). E poderiam os “privados” cobrar menos? Não parece, quando se percorrem as muitas centenas de página espalhadas por 6 (seis) leis, 5 (cinco) decretos-leis, 4 (quatro) portarias e 14 (catorze) despachos que compõem o quadro regulamentar do ensino pré-escolar, sem contar com o Plano individual de sesta proposto pelo PAN. Ora aqui está um campo fértil para reformas do governo.

Insanidade é continuar a fazer o mesmo e esperar resultados diferentes

Os preços da habitação continuam a subir, explodem os títulos dos jornais. E podia ser de outra maneira? Poder podia, mas não era a mesma coisa, porque exigiria políticas públicas para reduzir os custos de contexto do desenvolvimento urbano e incentivar a construção ou, em alternativa, aumentar os impostos para financiar a “habitação social”, que a prazo teria os mesmos maus resultados que tem em todo o mundo. Em vez disso, com uma oferta insuficiente, este governo, e os anteriores, promovem a procura com medidas como o “crédito jovem” com garantias públicas que no 1.º semestre deste ano representaram 25% do crédito total concedido.

«Pagar a dívida é ideia de criança»

Este governo parece acreditar no mantra do Eng. Sócrates e continua briosamente a aumentar a dívida pública que cresceu nos dois trimestres deste anos para 96,4% e para 98,1% e em Junho acrescentou-lhe 2,5 mil milhões (BdP). E não, o aumento da dívida não tem sido para investir em projectos que melhorem a produtividade e a competitividade – vejam-se as dotações orçamentais para investimento em Investigação & Desenvolvimento em que a capitação da despesa é menos de 79 euros o que nos coloca nos últimos 5 cinco lugares da UE.

Sem o turismo estaríamos de volta a 2011

No segundo trimestre o PIB cresceu 1,9% em relação a 2024 e 0,6% em relação ao trimestre anterior (estimativa rápida do INE) e teria sido pior se não fosse o consumo a puxar pela economia e, principalmente, sem o turismo que em 2024 representou 12% do PIB e este ano poderá crescer mais.

03/08/2025

CASE STUDY: The benefits of AI are greatly exaggerated, at least for now and in the context of the Economy

«In early February Openai, the world’s most famous artificial-intelligence firm, released Deep Research, which is “designed to perform in-depth, multi-step research”. With a few strokes of a keyboard, the tool can produce a paper on any topic in minutes. Many academics love it. (...) 

Should you shell out $200 a month for Deep Research? (...) To help you decide, your columnist has kicked the tyres of the new model. How good a research assistant is Deep Research, for economists and others?

The obvious conclusions first. Deep Research is unable to conduct primary research, from organising polls in Peru to getting a feel for the body language of a chief executive whose company you might short. Nor can it brew a coffee, making it a poor substitute for a human assistant. Another complaint is that Deep Research’s output is almost always leaden prose, even if you ask it to be more lively. Then again, most people were never good writers anyway, so will hardly care if their ai assistant is a bit dull. (...) 

When it comes to data questions requiring more creativity, however, the model struggles. (...) The model has even greater difficulty with more complex questions, including those involving the analysis of source data produced by statistical agencies. For such questions, human assistants retain an edge.

01/08/2025

DIÁRIO DE BORDO: Elegeram-no? Então aguentem outros cinco anos de TV Marcelo (21) - Sem vergonha e sem limites

Então aguentem outros cinco anos, uma espécie de sequência indesejada da série Outras preces (não escutadas).

«Para se salvar, Marcelo está disposto a contribuir para o aumento da “pós-verdade” na política portuguesa. Também na questão da imigração, a “verdade” deixa de existir, e “não há números credíveis”. As “narrativas” é que contam; e ter influência nos meios de comunicação social para espalhar as “narrativas” convenientes ao senhor Presidente. Cada vez que ouvirem o PR a criticar o populismo e a demagogia não liguem nenhuma, ou comecem às gargalhadas. Marcelo Rebelo de Sousa é o político mais populista que existe em Portugal. Numa década, reduziu a presidência da república a um populismo sem vergonha e sem limites.»

«Populismo sem vergonha e sem limites», escreveu João Marques de Almeida sobre o Dr. Marcelo palavras que não hesito em subscrever. Não sei se estes últimos episódios terão ou não surpreendido JMA, mas seguramente não me surpreenderam a mim 9 (nove) anos e centenas de posts depois.