Há cinco anos escrevi aqui sobre o anúncio do Dr. Galamba, na altura secretário de Estado «para a Transição», de uma «mega fábrica de hidrogénio em Sines» em parceria com a Holanda. Nos anos seguintes a mega fábrica de hidrogénio foi-se gradualmente evaporando, como fui relatando em (2), (3), (4) e (5). Cinco anos depois, a coisa esfumou-se definitivamente e só vale a pena voltar a falar dela porque é um paradigma de projectos lunáticos promovidos por apparatchiks que nunca lançaram uma empresa, nem criaram um posto de trabalho e não têm qualificações para avaliar o risco e a viabilidade de negócios que lançam com os dinheiros dos contribuintes a quem nunca prestarão contas.
Luís Mira Amaral, uma das poucas pessoas com tino que escreve com propriedade sobre temas de energia, escreveu mais uma peça da qual extraí o texto abaixo a propósito do lunatismo estatal.
«Por toda a Europa, incluindo Portugal, governantes ignorantes suportaram-se em powerpoints (que tudo permitem) para de uma forma iluminada desenharem estratégias irrealistas de transição energética. Isto é particularmente evidente com o hidrogénio verde, em que, como refere o presidente da EDP, temos agora um vale de desilusões com projetos a não saírem do papel, outros a serem cancelados, e empresas a falirem. Conclui-se que os avultados subsídios não são suficientes para o tornar competitivo no mercado, pois que os preços extremamente elevados levam a uma falta de procura pelo produto em sectores difíceis de eletrificar, tais como a siderurgia e o cimento. Apenas cerca de 20% do hidrogénio verde previsto na União Europeia deverá vir a ser produzido... O projeto do avião a hidrogénio da Airbus, subsidiado pelo Governo francês com €1,5 mil milhões, foi encerrado, a Hyvia, filial da Renault para os veículos utilitários a hidrogénio está em dificuldades e o Tribunal de Contas Europeu criticava o impasse na aventura do hidrogénio verde.
Por cá, fizemos com outros colegas um manifesto a criticar o megalómano projeto de produção em Sines de hidrogénio verde para ser exportado para os Países Baixos, pois a tecnologia estava imatura para grandes produções centralizadas e consequentes grandes transportes de energia, aconselhando começar-se por projetos de demonstração mais pequenos. Como resposta, um eletrizante (usando a expressão do Expresso) secretário de Estado brindou-nos com uma série de diatribes num webinar organizado pela Ordem dos Engenheiros sobre o hidrogénio e o então primeiro-ministro Costa chamou-nos velhos do Restelo. Respondi em direto na SIC a esse modernaço de Benfica (bairro em que vivia) que eu era um velho de Cascais e não do Restelo. Depois o agora europeizado Costa foi inaugurar a Fusion Fuel Portugal, que iria produzir eletrolisadores, subsidiou-a em €5 milhões do PRR e disse que a reindustrialização de Portugal começava aí! Azar dos Távoras, a empresa já faliu!»
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