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20/01/2025

Crónica de um Governo de Passagem (36)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

A declaração em epígrafe do Dr. Montenegro é, evidentemente, uma hipérbole. Ainda assim, o governo tem feito alguma coisa, apesar do semanário de reverência pretender insinuar o contrário com títulos como «Governo falha objetivo de acabar com atrasos nas cirurgias» numa peça onde se pode ler que as cirurgias realizadas em 2024 aumentaram 13% e 5%, o número de inscritos para cirurgia se reduziu 6% e 0,44%, e o número de doentes que excedeu os tempos máximos de resposta se reduziu de 70% e 3% (percentagens respeitantes a oncológicas e não oncológicas, respectivamente).

Entre as muitas coisas que o governo não fez encontra-se expurgar os Serviços de Urgências das resmas de doentes (38% do total) classificados com fitas azuis e verdes do Protocolo de Manchester que estão a tentar usar as urgências pela demora no atendimento nos serviços normais.

Um passo à frente e outro atrás na academia

O governo do Dr. Montenegro vai rever o quadro legal das universidades (Regime Jurídico das Instituições do Ensino Superior) limitando o inbreeding, a doença endémica da academia do Portugal dos Pequeninos, introduzindo um período de 3 anos durante os quais os doutorados não podem leccionar na universidade onde obtiveram o doutoramento. Podiam ter ficado por aí, mas não e vão reintroduzir a eleição directa dos dirigentes, infectando as universidades com outra doença endémica até 2007 - a “gestão democrática”.

Ameaça russa? Qual ameaça? «Os portugueses viveriam muito bem como parte do império russo»

O Dr. Montenegro foi muito claro em recusar aumentar as despesas militares para 3% do PIB, objectivo que a NATO irá adoptar. Afinal de contas, isso significaria mais 320 euros por ano a cada português o que seria suficiente para comprar Ozempic para manter a linha, no caso do SNS não comparticipar.

Tentando fazer passar uma aspirina por um veneno

Como já escrevi várias vezes, a minha fé os efeitos da alteração da chamada Lei dos Solos para promover a construção de habitação é limitada e daí que a garantia do governo que desta alteração resultará uma redução de 20% do preço das casas é puro pensamento milagroso a roçar a demagogia mais enjoativa.

Isso não justifica a estúpida e mentirosa campanha da esquerdalhada em curso nos jornais para distorcer as coisas, como Aguiar-Conraria (uma criatura um pouco irritante por causa do hífen… mas a quem reconheço inteligência, saber e, em doses moderadas, independência) explica no seu artigo de opinião «Combater um cancro com aspirina»).

Reforma fiscal ✅Já está!

A semana passada o governo, talvez como reflexo pavloviano ao desafio do Dr. Cavaco Silva, tirou da gaveta um pacote com 30 medidas de simplificação fiscal, que não sendo evidentemente inútil, deixa intacta a monstruosidade do sistema fiscal com os seus milhares de taxas e taxinhas.

O quid da contribuição está no “direta

O governo disse que «saúda … a proposta de financiamento apresentada pela Concessionária [a ANA] não prever contribuição direta do Orçamento do Estado, em pleno alinhamento com o Governo a este respeito».

A insustentável sustentabilidade da Segurança Social

Foi muito celebrado o aumento para 35,9 mil milhões (cerca de 13% do PIB) do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social. Pouca gente terá reparado que as responsabilidades futuras da Segurança Social pelo pagamento de pensões são estimadas em 807 mil milhões, ou seja, 290% do PIB e, por isso, o fundo cobre menos de 5% dessas responsabilidades.

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