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25/08/2023

Tenho cada vez mais dificuldade em perceber a devoção dos Putinversteher

The Telegraph

Ainda não se sabe, e provavelmente nunca se saberá ao certo - os russos dizem que "a Rússia é um país com um passado imprevisível” - o que aconteceu a bordo do avião que transportava Yevgeny Prigozhin, o cozinheiro de Putin e chefe da milícia do grupo Wagner, até recentemente uma espécie de exército privado do czar Vlad. Como escreveu a Spectator, «na Rússia, “problemas mecânicos” podem ser qualquer coisa, desde questões de manutenção até a dificuldade de voar quando uma bomba abre um buraco na fuselagem».   

Tudo indica que a Prigozhin aconteceu o que costuma acontecer aos que são vistos como uma ameaça ao statu quo putinesco. Porém, se na maioria dos casos anteriores o assassinato (*) representou um reforço para a posição de Putin, neste caso parece poder ser visto mais como demonstração de fraqueza de um líder que parece não saber se dá corda ao relógio ou se vai ao WC, como o McMurphy protagonizado por Nicholson dizia à enfermeira no «Voando Sobre Um Ninho de Cucos» de Forman, que é o que me ocorre quando o czar passa sucessivamente em pouco tempo de admitir o financiamento do grupo Wagner, a chamar traidor a Prigozhin, a convidá-lo para a cimeira em África, para finalmente encomendar uma "avaria mecânica" que fez cair o avião onde viajava Prigozhin.

Percebo que a devoção fora da Rússia por Putin tem várias causas, sendo uma delas o fascínio e admiração, partilhada por esquerdistas e direitistas de várias tendências, da imagem de chefe forte, omnipotente e omnisciente em contraponto aos políticos ocidentais que esses devotos veem, não sem alguma razão, como fracos e pusilânimes. Porém, face ao que vem acontecendo desde o início da invasão da Ucrânia, a que o chefe, demonstrando uma inesperada falta de coragem, baptizou de "operação especial", tenho cada vez mais dificuldade em entender a devoção dos Putinversteher, como são designados actualmente pelos alemães os que no passado teriam sido tratados pelos comunistas soviéticos como idiotas úteis.

(*) Desde o início de 2022 até agora 46 apparatchiks e oligarcas tiveram morte suspeita de assassinato por siloviki ao serviço do czar (fonte)

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