No dia de Natal o primeiro-ministro Passos Coelho anunciou na sua mensagem que «… o emprego começou a crescer e, em termos líquidos, até ao terceiro trimestre foram criados 120 mil novos postos de trabalho…»
Dois dias depois dessa mensagem este vosso escriba perante a óbvia calinada escreveu neste post:
Deveria ser evidente para o speechwriter e para o primeiro-ministro que o líquido de entre empregos criados e destruídos este ano nunca poderia ter sido 120 mil, pela prosaica razão que a população activa aumentou apenas de 22 mil entre o último trimestre de 2012 e o 3.º trimestre de 2013 (ver INE, Estatísticas do Emprego - 3.º Trimestre de 2013). Para compor o discurso, em vez de começar o ano em 1 de Janeiro o speechwriter começou o ano em 1 de Abril, dia das mentiras, porque desde então até 30 de Setembro o aumento líquido do emprego foi de facto 120 mil.
Como seria de esperar, o jornalismo de causas que deixou passar em silêncio durante 2 anos a esperteza de José Sócrates, ao confundir deliberadamente a recuperação de 150 mil postos de trabalho perdidos (prometida no programa do XVII governo) com a criação de novos postos de trabalho (ver aqui a retrospectiva), não deixou passar em branco a calinada/habilidade (cortar consoante o gosto).
Dois meses depois, o licenciado em Economia com frequência de um doutoramento em Filosofia Política João Galamba escreveu o artigo de opinião «Mistificações milagreiras» onde nos dá conta da sua descoberta: «os tais 120 000 novos empregos transformaram-se subitamente em 30 000 e não foi o setor privado, nem o setor dos bens transacionáveis, quem criou emprego líquido em 2013 … de acordo com a Estatísticas do Emprego do 4º trimestre de 2013, publicadas pelo INE, dos 30 000 empregos criados em 2013, 25 000 foram no sector Administração Pública, Defesa e Segurança Social Obrigatória».
Assim é, como se pode constatar no quadro seguinte, o que levanta uma séria questão: onde está o resultado da reforma da administração pública que em vez de emagrecer engorda?
Fonte: INE |
Lamentavelmente, João Galamba até hoje ainda não descobriu a mistificação milagreira do seu mestre José Sócrates que no Programa de XVII Governo anunciou «como objectivo recuperar, nos próximos quatro anos, os cerca de 150.000 postos de trabalho perdidos na última legislatura», objectivo que ao longo do seu mandato se transmutou em 150 mil novos desempregados, como aqui se mostra em pormenor.
Por tudo isto, além dos três chateaubriands para o speechwriter pela calinada/habilidade, dos quatro para o primeiro-ministro por o ter escolhido e dos três bourbons para o jornalismo de causas por continuar igual a si próprio, já atribuídos, reservo mais cinco chateaubriands e outros cinco bourbons para o licenciado em Economia com frequência de um doutoramento em Filosofia Política por ter precisado de dois meses para descobrir as «mistificações milagreiras» de Passos Coelho e ainda hoje, decorridos 8 anos, não ter descoberto as do seu mestre.
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