Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

03/01/2024

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (81) Unintended consequences (XXXII) - Starting and finishing

Outras marteladas.

Recapitulando: o intervencionismo dos bancos centrais (Fed e BoE, copiados pelo BCE), adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012 criou oceanos de liquidez que impulsionaram os mercados de capitais e incentivaram o investimento em activos de risco, criando as condições para um processo inflacionário que só esperava um trigger que surgiu com a invasão da Ucrânia.

Reiteradamente, salientei os efeitos do alívio quantitativo com as suas taxas de juro evanescentes que alimentaram aplicações especulativas (desde 2014), criaram uma bolha de crédito que incendiou os preços do imobiliário (também desde 2014) e pela gigantesca massa monetária posta a circular criou as condições para mais tarde ou mais cedo se desenvolver um processo inflaccionário (ver, por exemplo, os posts de 2015 sobre O mito da deflação).

As startups durante todos estes anos beneficiárias do quantitative easing, furada a bolha passaram a prejudicadas pelo quantitative tightening, como escrevi aquiaqui e aqui. Com décadas de atraso, a imaginação dos nossos políticos, sempre à procura do quick fix milagroso para o desenvolvimento do Portugal dos Pequeninos, viu nas startups a poção mágica que tornaria o Portugal dos Pequeninos numa economia desenvolvida desde que dinheiro suficiente fosse derramado em cima delas. 

Tudo o que a respeito das startups era antecipável há vários anos e visível desde há pelo menos dois anos, tem sido totalmente ignorado pelo jornalismo económico e a comentadoria do regime que, sem surpresa, só percebeu que havia um problema quando a Farfetch, uma antiga startup criada por um português, que vinha tendo problemas há mais de um ano, colapsou há duas semanas. E na maioria dos casos parecem pensar que o problema se limita à Farfetch - só li uma única excepção na imprensa doméstica que percebeu a vaga em curso. 

2 comentários:

Camisa disse...

Só acrescentar a massiva impressão de dinheiro durante a pandemia que fez o período de 2012 a 2020 parecer uma brincadeira de crianças.

Penso que foi essa injecção de dinheiro na pandemia sem a produção correspondente que rebentou com a economia mundial.

Impertinente disse...

Sim é certo o que escreve. Porém, o meu foco é no quantitative easing como factor explicativo e a injecção de dinheiro a pretexto a pandemia é um outro factor que agravou o processo em curso há mais de 10 anos.