Sérgio Palma Brito, ex-Director Geral da Confederação de Turismo, escreve regularmente no seu blogue sobre temas da aviação e a TAP, sobre a qual publicou o ano passado o livro «TAP Que Futuro? Como chegámos aqui!» e tem em preparação um livro sobre o Relatório Preliminar da Comissão Técnica Independente do Novo Aeroporto, do qual antecipou algumas conclusões num artigo publicado no Jornal Nascer do Sol no dia 19-01 de que cito a seguir o essencial.
I. A projeção do número de passeiros a 2050 é o indicador
mais importante para justificar o aeroporto no Centro de Tiro da Força Aérea
(CTA). Eis dois dos erros da Relatório Preliminar da Comissão Técnica Independente
(CTI) que deitam abaixo este indicador.
Os relatórios da CTI publicados no Verão são de 52 e 67
milhões passageiros em 2050, hipótese alta e baixa. Em dezembro, os números já
são 66, 85 e 108 milhões, em baixa, média e alta. Entre os valores máximos do
verão e os do outono, 67 e 108 milhões, há um aumento de 61%. Nestes três meses
não houve alteração do mercado que justifique este salto. O que mudou? No
Portugal em que vivemos, apenas mudou a necessidade de números que garantam a
rentabilidade de rodas as Opções que a CTI inventou. Mais, o número de
Residentes em Portugal que viajará de avião em 2050 será de 9,5, 12,3 e 15,8
milhões. Azar, a previsão do INE para a População Residente de Portugal é de
7,5 milhões. A CTI põe toda a População do País a viajar de avião pelo CTA e
com muitos residentes a viajar mais de uma vez.
II. A CTI quer fazer do CTA um 'aeroporto hub', coisa que
não existe. Há hubs de companhias aéreas nos aeroportos que são a sua base. Na métrica
do Airports Council International, o hub da TAP vale cerca 6.500 unidades. Os 5
'majors' (Francoforte, Amesterdão, etc.) valem cerca de 50.000 unidades. Até
2050, o hub da TAP teria de multiplicar esta métrica por 8 para atingir 52.000,
objetivo impossível. A CTI prevê que os turistas em hub passem de 1,9 milhões
em 2019, a 5,3, 6,8 e 8,7 milhões em 2050, um exagero. Seriam necessárias centenas
de voos diretos da TAP para os aeroportos das Américas e Africa, já servidos
por grandes companhias europeias.
Um número de passageiros excessivo e um 'aeroporto hub' impossível
deitam abaixo o segundo grande argumento da CTI a favor do CTA, o de vir a ser
um 'aeroporto hub'.
III. No seu Podcast, Daniel Oliveira questiona a presidente:
«Portugal terá condições, pela sua localização, para ser a porta de entrada das
Américas para a Europa?». A presidente não se fica «Toda a análise económica que
fizemos está fortemente apoiada nesse pressuposto». Pum! Ambos ignoram a escala
do tráfego aéreo entre as Américas e a Europa via os hubs das grandes
companhias. Não há 'porta para a Europa', há um hub de nicho em Lisboa e meia
dúzia de grandes aeroportos de entrada/saída na e da Europa.
IV. A CTI prevê o CTA operacional em2031 com duas pistas. A
ligação ferroviária entre CTA e Gare do Oriente exige via-férrea dedicada que
não estará pronta. A CTI tem resposta: «Aeroporto no Campo de Tiro de Alcochete
poderá avançar e vir a funcionar sem acessos ferroviários e, apenas, com acessos
rodoviários». A CTI já perguntou às companhias aéreas se aceitam voar para
'este' CTA?
V. A CTI ignora que o CTA implica deslocalizar cerca de 21.000 postos de trabalho, atualmente no AHD. Não prever o indispensável Planeamento Urbano «vai resultar numa pressão, urbanística brutal. E os municípios, que estão articulados, já sabem disso. Vemos já enormes pressões urbanísticas» segundo Gonçalo Byrne. É aberta a via livre para a especulação imobiliária.
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