Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
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20/12/2023

Lost in translation (368) ou «P'ra a mentira ser segura / e atingir profundidade, / tem de trazer à mistura / qualquer coisa de verdade.»

Visivelmente, o Dr. Mário Centeno tem de si próprio uma ideia mais excelente do que a maioria tem dele e isso, impulsionado por uma ambição que parece ignorar o princípio de Peter, leva-o a procurar freneticamente colocar-se a jeito para uma promoção. Tal ambição já o levou a alguns equívocos e o último foi a sua comunicação ao Financial Times que este citou no dia 13 de Novembro, como tendo sido dito no dia 12 de Novembro, 5 dias após o fatídico 7 de Novembro em que o Dr. Costa anunciou que iria demitir-se. Disse o Dr. Centeno ao FT:
“I had an invitation from the president and prime minister to reflect on and consider the possibility of leading the government. (...) the invitation for this reflection resulted from the conversations that the prime minister had with the president of the republic”

Um mês depois o Comité de Ética do BCE publicou o relatório de conclusões da sua avaliação da conduta do Dr. Centeno onde concluiu «he has neither been formally asked to take up the position of prime minister nor given an indication that he would be inclined to accept it» e, por isso, «did not act in a way that compromised his independence». 

A conclusão do Comité funda-se em duas considerações: (1) a informalidade de um convite que foi publicamente divulgado pelo primeiro-ministro demissionário e pelo presidente da República e (2)  a suposta falta de indicação do Dr. Centeno para aceitar esse convite. A primeira consideração é ridícula porque deixa supor que para ser considerado formal deveria ser feito por carta registada com aviso de recepção e a segunda foi desmentida pelo Dr. Centeno ao dar conhecimento formal do seu convite a um jornal financeiro internacional de grande  notoriedade. Ou seja, a conclusão do Comité é puro bullshit em dialecto europês para fazer esquecer um assunto polémico, bullshit que o Expresso aproveita para produzir uma peça com o seguinte título:    

«Comité de Ética do BCE conclui que convite de Costa “não comprometeu a independência” de Centeno»

Jogando com as palavras, como se um convite em si mesmo comprometesse alguém para além de quem convida e omitindo que o convidado considerou tão seriamente o convite que o divulgou ao Financial Times e assim «comprometeu a independência». Ou seja bullshit do jornalismo de causas à maneira do semanário de reverência.

1 comentário:

Unknown disse...

Generosidade sua considerar "jornalismo" o que, na prática, é simples prostituição...