Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

29/11/2023

Sobre o centro que se afunda nas sondagens, o congresso do PS-D que celebra o Estado assistencialista falhado e as coincidências da vida

O que há de comum entre o centro que se afunda nas sondagens, o congresso do PS-D e as coincidências da vida? Nada de especial, apenas o facto deste vosso escriba ter intenção de escrever sobre os dois primeiros temas e ter-se dispensado de o fazer porque lhe tiraram as palavras da boca.

Começou com uma mensagem de um amigo a propósito das sondagens com o destaque «Centro afunda-se, Chega dispara» da primeira página do Público, que me induziu a responder-lhe com poema The Second Coming de Yeats, que é citado desde há alguns anos no cabeçalho deste blogue. Tudo para mais tarde ler o editorial do mesmo Público citando o mesmo poema.


E chegamos ao congresso do PS-D (para quem consiga ler até ao fim este post, imagino ser desnecessário explicar esta minha grafia), que adiava comentar desde há dois ou três dias. Admito não ter conseguido ver integralmente o pletórico vídeo da intervenção do Dr. Montenegro, contudo, vi o suficiente para concluir que João Miguel Tavares escreveu um resumo melhor do que eu teria escrito.
«No sábado, Luís Montenegro prometeu subir o rendimento mínimo garantido dos pensionistas portugueses para 820 euros até 2028. Na segunda-feira, André Ventura prometeu subir todas as pensões até ao nível do salário mínimo. Lembram-se de 1974, quando todos os partidos de direita tiveram de arranjar nomes de esquerda para não serem acusados de fascistas? Cinquenta anos depois estamos mais ou menos na mesma: a direita está convencidíssima que só consegue ganhar eleições fingindo que é de esquerda. Vai daí, propõe ao país doses cavalares de políticas redistributivas e promete gastar ainda mais dinheiro com pensionistas do que o PS.»
E o que porventura faltaria (a referência ao crescimento económico sem o qual todas as promessas são miragens) estava escrito num post do Corta-Fitas.
«Atendendo ao último congresso do PSD, não há dúvidas: Montenegro entrou no leilão com o PS por pensionistas e salários mínimos, somando a recuperação da esquecida função publica nos últimos anos e acrescentando um prometido renascimento da esmagada classe média. Só coisas boas. Fiquei apenas surpreendido por não haver menções enfáticas ao crescimento económico que poderia permitir que estas promessas sejam realistas. Montenegro promete transformar PNS num menino de coro.»
A reforçar a ideia do mimetismo do PS-D, o comentador oficial Dr. Marques Mendes regozija-se pelo PS-D ter dado «primazia aos temas sociais. Até que enfim!» e o Dr. Miranda Sarmento, líder parlamentar do PS-D, certamente preocupado com as "contas certas", garantiu que «o complemento solidário para idosos (...) nunca colocará em causa o equilíbrio orçamental», passando ao lado da questão central que é a sustentabilidade da segurança social. 

As políticas públicas para reparar a avaria do elevador social que o sistema de ensino deveria ser, para recuperar o sistema de saúde do estado comatoso em que o PS o deixa, e para assegurar a sustentabilidade do sistema de segurança social, não dei conta que tivessem sido mencionadas pelo Dr. Montenegro.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu também gostaria de ouvir outras coisas ao Dr. Montenegro, mas infelizmente qualquer coisa que ele pudesse dizer só importaria se ele ganhasse as eleições. E em Portugal não ha outra maneira de as ganhar.

Impertinente disse...

Para executar as políticas públicas socialistas, o melhor partido é o PS. E se em Portugal só essas políticas ganham eleições e se queremos viver em democracia então o PS está destinado a ser a nova União Nacional e os socialistas serão os novos situacionistas.
Porém, há apenas um pequeno quid: para saber se só as políticas públicas socialistas ganham eleições é preciso que sejam apresentadas políticas públicas alternativas.