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15/11/2023

Mitos (331) - A ideologia e os preconceitos distorcem o retrato dos imigrantes

«(...) uma semana depois da OCDE ter publicado o seu “International Migration Outlook 2023”, pareceu-me oportuno revisitar o tema na imigração em Portugal. (...)

Também Portugal recebeu em 2021 94 000 novos imigrantes de longo prazo ou permanentes, mais 11% do que em 2020. Brasil, Índia e Bélgica foram as três principais nacionalidades de recém-chegados. Os residentes não nacionais representam agora cerca de 11 % da população.

3 – Não obstante estes valores record, a situação dos imigrantes no mercado de trabalho melhorou. Entre 2021 e 2022, a taxa de emprego dos migrantes melhorou em todos os países da OCDE, exceto na Polónia – que teve elevados fluxos de refugiados da Ucrânia – e atingiu o nível mais elevado alguma vez registado, em toda a OCDE. Em mais de metade dos países da OCDE, a taxa de emprego dos migrantes é a mais elevada em mais de duas décadas. Os aumentos registados tanto na nova migração laboral como na taxa de emprego dos migrantes residentes estão ligados ao facto de muitos países da OCDE estarem enfrentando escassez de mão de obra.

Estes bons resultados verificam-se também em Portugal onde a taxa de emprego é 77,8%, 6 pontos percentuais acima do valor para nacionais. A ideia de que os imigrantes parasitam os portugueses e os seus sistemas de apoio social parece, assim, não encontrar suporte nos dados.

4 – Uma dimensão importante da integração dos migrantes nas sociedades de acolhimento é o seu nível de escolaridade. Em 2020, 35,6% dos migrantes adultos (com idades compreendidas entre os 25 e os 54 anos) que nasceram noutro Estado-Membro da UE tinham um nível de ensino superior. Esta taxa foi mais baixa para os migrantes que nasceram fora da UE (29,6%). Em contrapartida, a percentagem da população com formação superior que vivia no Estado-Membro onde nasceu era de 36,7%.

Em Portugal a situação é diversa: 51% dos imigrantes oriundos da UE e 34,8% dos oriundos fora da EU, têm educação terciária completa. Estes valores contrastam com os 28,2% dos nacionais com mais de 25 anos que completaram o ensino superior.

5 – Concluindo, os imigrantes permanentes para Portugal são em média mais bem qualificados que os residentes e têm uma participação superior no mercado de trabalho. A maioria (47,6%) dos portugueses que emigra também tem formação superior. Não sei se o influxo imigratório compensa estas saídas (suspeito que não), mas a delapidação do stock de capital humano nacional seria ainda maior se não existisse imigração.»

Um retrato dos imigrantes, José Ferreira Machado

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