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12/03/2018

Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (126)

Outras avarias da geringonça.

É difícil acreditar mas continua a saga do roubo das armas de Tancos com o adiamento uma vez mais da entrega do relatório no parlamento passados nove meses do roubo, que afinal pode ser ou não roubo.

Entretanto, ficámos a saber que a factura da resolução do BES continua a crescer. Segundo a estimativa da CE, as injecções de capital após a resolução já vão em 9,2 mil milhões and counting. Perguntarão: mas o que tem isso a ver com ao governo? Respondo: tem imenso. Um antecessor de Costa na liderança do PS está acusado de ter sido um notório cúmplice do DDT Ricardo Salgado e o governo de Costa tem a bordo meia dúzia de membros de um ou dos dois governos de Sócrates, incluindo o próprio Costa.

Não estando para breve desfazer a ménage à trois, que por enquanto ainda convém a todos, a desavença é impossível de esconder seja a propósito dos "precários" (o contrário de trabalho precário é emprego vitalício) ou de qualquer outra coisa e os sindicatos não tem falta de outras coisas. Os professores estarão em greve de 13 a 16 de Março, os professores universitários estão a pensar nisso, a greve dos enfermeiros está marcada para 22 e 23 e a dos médicos para 10 a 12 de Abril, com uma manif em frente do ministério da Saúde a 10 de Abril (fonte).

 A tese de que crescimento da economia que o governo atribui ao virar da página da austeridade, tem dois problemas. O primeiro, desde logo, é que a página só foi virada no que respeita às reposições de "direitos adquiridos" dos funcionários públicos e de uma pequena parte dos reformados, isto é da clientela eleitoral da geringonça. Vejam-se as cativações, a compressão do investimento público e das despesas de capital e o estado de degradação em que se encontra a administração pública. E, por falar em cativações, a Ordem dos Médicos do Norte acusa o ministro da Saúde de estar «refém» do Ronaldo das Finanças. É claro que está e tem de estar, porque a equação aumento das despesas com salários + aumento das compras de bens e serviços + manter despesas de investimento + diminuir o défice + aumentar a carga fiscal só tem soluções com números imaginários.

O segundo problema é que o crescimento da economia não é por causa do governo mas apesar do governo. O crescimento de 2,7% do PIB em 2017 ficou a dever-se em primeiro lugar às exportações (+1,5%) e ao investimento (+0,4%). O consumo - o coelho que haveria de sair da cartola do socialismo - contribui apenas com 0,8%, apesar do consumo privado ter crescido 2,2% (estimativas de João Duque no Expresso), simplesmente porque, como seria de esperar, a maior parte do incremento do consumo dirigiu-se às importações, agora como no passado.

Comparem-se as previsões do cenário que o PS apresentou no relatório dos Doze Sábios com a realidade. O crescimento e o investimento total e público ficaram claramente abaixo das previsões, o consumo privado ficou em linha, as exportações salvaram a festa e a consolidação orçamental foi à custa do aumento da carga fiscal.
Fonte: "Alguns alertas sobre o crescimento de 2017", Joaquim Miranda Sarmento no jornal Eco
E para repormos as coisas no seu lugar relativo compare-se também o crescimento português com o dos outros países membros da UE28

Fonte: Jornal Eco
Se o crescimento se deve em grande parte às exportações, a prosperidade esgota-se na compra de mais casinhas com os bancos a ajudarem diminuindo os spreads do crédito para compra de habitação até ao nível de antes da crise e na compra de popós (41 mil nos dois primeiros meses, mais 4% do que em 2017).

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