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27/04/2010

DIÁRIO DE BORDO: dúvidas que me assaltam (2)

Intrigava-me eu com a apreciação positiva deste governo e do seu chefe (mais deste do que daquele) que o povo do Estado Social parece continuar a ter, depois de tudo o que se viu e do que se adivinha venha ainda a ver-se. Intrigava-me, mas já não me intrigo. Substituí aquela dúvida por outra que é: o que vai na mente de Miguel Sousa Tavares (MST), um dos mais celebrados comentadores do reino, quando na sua coluna habitual do Expresso desvaloriza uma a uma, seja por falta de substância, seja por falta de provas, seja porque não merece destaque no meio da «bandalheira» (o diploma), as trapalhadas em que José Sócrates (JS) está notoriamente envolvido e retém precisamente aquela que me parecia a mais inócua, para não dizer que até via nela qualquer coisa de positivo.

MST, dos casos Freeport, Cova da Beira, diploma da UI, Face Oculta, PT-TVI, Taguspark-Luís Figo, etc. retém o de Luís Figo, «que é grave», e os outros branqueia-os todos, com excepção das «casinhas para os amigos», considerando que, visto ter JS assumido «a autoria daqueles abortos urbanos», a coisa é «deveras preocupante» prefigurando o que o excelso projectista faria depois como responsável pelo ambiente.

Casinha e satisfeito autor do projecto

Antes de ser iluminado pelo pensamento de MST, eu pensava que sendo os projectos das «casinhas para os amigos» aparentemente a única actividade produtiva conhecida de JS deveriam ser valorizados como um exemplo positivo do seu (pouco) fazer pela vida, ainda que com o reverso negativo da qualidade de «abortos urbanos». Reverso negativo que deveria relativizar-se, pensava eu, pelo seu alinhamento pelo padrão geral dos projectos de casinhas. Apesar de iluminado, fiquei preocupado. Se a intelligentzia vê as trapalhadas daquele calibre como questões menores e elege a estética como critério da ética, o que pensará dessas trapalhadas o povo do Estado Social pouco dado à estética?

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