Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

27/10/2025

Crónica da passagem de um governo (21)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Take Another Plan. Vai ser preciso escolher entre uma TAP viável e manter um marsúpio subsidiado

Não se sabe se o governo do Dr. Montenegro já se deu conta de que, com toda a probabilidade, nenhum grande operador internacional comprará a TAP sem garantias de que a poderá governar ou para manter o marsúpio com o ventre cheio de utentes. Por exemplo, um dos potenciais interessados o Grupo IAG (British Airways, Iberia, Vueling, AerLingus e Level) que comprou a Iberia – a TAP espanhola – e, depois das greves do costume, «Willie Walsh o CEO do IAG, pôs a Iberia perante o dilema receber o investimento necessário para a recuperação ou falir. O Estado Espanhol fica de fora de conflito empresarial» (ver aqui a estória contada por Sérgio Palma Brito).

Com outros interessados, como a Lufthansa, poderá haver algumas nuances, porém, os princípios básicos manter-se-ão porque quem compra sabe que vai ter de sobreviver num mercado muito concorrencial – a não ser que o Dr. Montenegro queira continuar a extorquir os contribuintes portugueses para pagar a factura de manter no ar o dinossauro.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro», seguido de Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Um excelente exemplo de como o SNS se afunda cada vez mais quanto mais dinheiro lhe despejam e mais “profissionais” lá estacionam, é o caso das “cirurgias adicionais” que se transformou num expediente para aumentar a produção “adicional” e que nalguns hospitais representa quase metade do total, tornando o aumento das listas de espera uma oportunidade de negócio para cirurgiões que dão prioridade às cirurgias mais simples e lucrativas, como explica o médico Luís Teixeira.

A meritocracia do Estado sucial é uma espécie de caquistocracia

Para quem não saiba ou não se lembre, a CReSAP é uma entidade que avalia os candidatos a nomeações para cargos públicos. Criada pelo governo de Passos Coelho, foi completamente ignorada pelos governos do Dr. Costa com os resultados que se viram de colocação de gente incompetente ou corrupta ou com ambas as características.

O Dr. Montenegro ressuscitou a CReSAP, e bem, mas persiste um outro pequeno problema. Recentemente, na falta de candidatos com mérito reconhecido, o governo nomeou para a Direção-Geral das Autarquias Locais um candidato que já tinha sido previamente nomeado em regime de comissão de serviço, usando o expediente dos governos socialistas. O mesmo voltou agora a acontecer com a nomeação para a Unidade dos Grandes Contribuintes da AT do director-adjunto, uma vez mais por falta de «candidatos com mérito». E por que faltam candidatos com mérito? Ora, por que haveria de ser? Porque na vaca marsupial pública em que se transformou o Estado sucial o mérito é na melhor hipótese supérfluo, ou na pior inconveniente.

Grão a grão enche a galinha o papo

Em boa verdade, é muito mais do que um grão, são 3,2 mil milhões de euros (dos quais 2,4 mil milhões do sector público) do aumento para 857 mil milhões de euros do endividamento da economia (dívida total das famílias, Estado e empresas não financeiras).

Não há vida para além do orçamento

Se acreditamos nas previsões do Conselho das Finanças Públicas (CFP) - há melhores razões para isso do que acreditar nas do governo -, o excedente de 2026 será de 0,1% do PIB e não de 0,3% como prevê o governo, ou seja, menos 2,3 mil milhões de euros. Já a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) vai mais longe e prevê um equilíbrio receitas-despesas devido ao “estímulo orçamental” de 5% do PIB e alerta para os riscos, nomeadamente das tensões geopolíticas e do impacto das “tarifas” do Dr. Trump.

1 comentário:

Luís Lavoura disse...

cirurgiões dão prioridade às cirurgias mais simples e lucrativas

Recentemente tive que fazer (no SNS) uma cirurgia relativamente simples (durou somente uma hora e envolveu pouco risco). Foi marcada muito rapidamente (completamente de acordo com os tempos de espera prescritos pelos protocolos, segundo a cirurgiã me informou). Foi realizada no horário normalíssimo de trabalho. Duvido que tenha sido especialmente lucrativa para a cirurgiã.