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06/10/2025

Crónica da passagem de um governo (18)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Preços e rendas “moderadas”: um caso exemplar de inabilidade do governo e de estupidez e despudor jornalístico e da comentadoria

Não me ocorre outro tema nos últimos anos que tenha causado discussões, análises e polémicas mais despudoradamente estúpidas do que as relacionadas com este tema. A coisa consiste simplesmente em (1) redução da taxa liberatória de IRS que os senhorios têm de pagar de 25% para 10% nas rendas até 2.300 euros; (2) redução da taxa de IVA de 23% para 6% na construção de habitações até 648 mil euros; (3) aumento do limite à dedução no IRS dos inquilinos de 700 euros por ano para 900 euros em 2026 e 1.000 euros em 2027. Podia e devia-se discutir a eficácia para limitar o aumento dos preços da habitação dos benefícios fiscais resultantes dessas medidas para (1) os senhorios, (2) os inquilinos e (3) os construtores e os compradores.

Em vez disso, a produção jornalística e opinativa (supondo que existe alguma distinção entre estas duas produções) concentrou-se em saber quem “ganhava” mais e se o adjectivo “moderado” se aplicaria aos valores em causa. Mais estúpido é difícil (mas não impossível).

Take Another Plan. A venda da TAP como exercício de pensamento mágico

Segundo o governo, a Lufthansa e a Air France/KLM são os dois principais interessados na TAP e a coisa é apresentada como se as duas estivessem dispostas a um combate mortal para ficarem com o chaço. Não parece que seja assim. A primeira acabou de anunciar 4 mil despedimentos até 2030, o que não prenuncia grande generosidade nas propostas, e a segunda já fez saber que o seu interesse depende de dispor de poder para gerir a TAP, nomeadamente compra de aviões e definição de rotas. O pensamento mágico irá presumivelmente durar até serem conhecidos os termos e os valores das propostas.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Segundo um estudo do ISEG para a CIP (apud), entre 2015 e 2024 a despesa do SNS aumentou 72% de 9 para 15,5 mil milhões de euros, em 2022 os “tarefeiros” realizaram 5,7 milhões de horas (o equivalente a 3.038 profissionais full-time), na última década as horas extraordinárias aumentaram 82% (o equivalente as 11 mil profissionais full-time) e nos dois últimos anos os médicos e os enfermeiros tiveram aumentos salariais acumulados correspondentes a 20% e 11%, respectivamente, ou seja, o equivalente a mais do dobro da inflação no caso dos médicos.

Enquanto isso, o nível e a qualidade dos serviços de saúde degrada-se, apesar do aumento dos recursos utilizados e da correspondente despesa - por exemplo, as chamadas “cirurgias extra” que aumentaram 50% e custaram 620 milhões em três anos. É a isto que costuma chamar-se o resultado de uma gestão incompetente que não se resolve deitando dinheiro em cima dos problemas. Por exemplo, o Hospital Amadora-Sintra que está com tempo de espera nas urgências de mais de 15 horas e enquanto foi gerido em regime PPP teve um desempenho que se degradou após ter voltado à gestão pública por razões ideológicas.

Hoje há excedentes, amanhã não sabemos

Pouca gente parece ter reparado que os tão celebrados excedentes do OE orçamentais se devem inteiramente aos volumosos saldos positivos da Segurança Social. Por exemplo, até Agosto deste ano o saldo da Segurança Social foi 4.408 milhões ou mais 32% do que os 3.340 milhões do mesmo período de 2024 (BdP), comparando com os 2.011 milhões e 524 milhões dos saldos das Administrações Públicas. Como os excedentes da Segurança Social se devem sobretudo aos trabalhadores imigrantes muito mais jovens, cujas contribuições ano passado atingiram 3.600 milhões e representaram 12,4% do total, podemos antecipar o que se passará com cada vez menos contribuintes nacionais e cada vez mais pensionistas nacionais e dentro de algumas décadas um número crescente de pensionistas imigrantes. Se o Chega tivesse uma equipa de actuários capaz de explicar isto ao Dr. Ventura, perder-se-iam as bandeiras da imigração e ficava só a bandeira dos ciganos, que é muito mais barata.

Quereis reformas? Tomai lá!

Por exemplo (seguindo uma ideia de João Silva de Almeida), reduzir o número de ordens profissionais ou de entidades reguladoras dos actuais 240 para um terço, ainda assim ficando acima das 75 profissões reguladas da Suécia e reduzindo o número dos milhares de actos profissionais reservados aos membros dessas ordens.

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