Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
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13/10/2025

Crónica da passagem de um governo (19)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Quereis reformas? Tomai lá!

Sabeis que o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, que é um instituto público, controla a produção, os stocks, certifica os vinhos e fixa as quantidades de pipas que os produtores estão autorizados a produzir, quantidades que, para responder à redução da procura, têm vindo a diminuir para evitar a descida dos preços. O Estado Novo não faria melhor. Isto, por um lado, pelo outro lado, o governo português paga 0,5 euros por quilo de uvas entregue para destilação, subsídio que até para as regras corporativas da UE não é considerado aceitável e, segundo o comissário europeu para a Agricultura e Alimentação, também não é eficaz sugerindo que em vez disso se combata a fraude e se adopte a “colheita em verde”.

«Investigar pessoas para ver se cometeram algum crime»

O caso Spinumviva, que agora voltou por uma oportuníssima fuga de informação à primeira página dos jornais, a pretexto da “convicção” dos procuradores que escarafuncham a vida empresarial do Dr. Montenegro, originou a minha rara concordância com o Dr. Daniel Oliveira. Rara porque sobre o Dr. DO, jornalista de causas / militante / comentador / analista e recordista dos ex (ex-comunista, ex-Plataforma de Esquerda, ex-Política XXI, ex-BE, ex-Livre, ex-Tempo de Avançar), escrevi coisas pouco simpáticas (ver a série «Arranjem um lugar ao rapaz. Ele merece!») nos tempos longínquos em que numa das suas múltiplas encarnações ainda não se tinha desiludido com a geringonça e dava o melhor da sua prosa para a justificar.

Trata-se do Dr. D.O. ter escrito «O Ministério Público investiga suspeitas de crimes que possam ter sido cometidos por uma ou mais pessoas, não investiga uma ou mais pessoas para ver se cometeram algum crime. Isso fazem ditaduras aos seus opositores», não a propósito do caso Spinumviva, como eu distraidamente pensava, mas da investigação ao Dr. Ivo Rosa.

Não é necessário desacreditar a Justiça. O Ministério Público já faz o suficiente

Vem a propósito registar que, segundo a revista Sábado, o MP e a PJ estão a investigar as férias no Brasil em 2024 do Dr. Montenegro e a da sua família por, alegadamente, terem sido pagas pela empresa que é propriedade da família, o que constituiria “crime de recebimento indevido de vantagem”. Melhor é difícil.

O SNS não tem tratamento para o défice de tabuada?

Segundo um estudo, a Linha SNS24 das 900 mil chamadas mensais que se esperam sejam feitas, cerca de 300 mil ficarão por atender por falta de recursos porque o serviço «opera acima da sua capacidade há mais de dois anos». Segundo o mesmo estudo, trabalham na triagem telefónica do SNS 3.200 profissionais, dos quais, devido a férias e ao desconto habitual por abstencionismo, digamos 10%, pelas minhas contas só cerca de 2.600 (90%x3200 – 1/12x3200) estarão em média ao serviço, os quais em cada mês poderão operar cerca de 140 horas e no total 364 mil horas. Assim, o atendimento das 900 mil chamadas poderia ser alcançado se cada um deles atendesse em média 2,5 chamadas por hora ou 17,5 por dia. Nesta altura do campeonato convirá dizer que, segundo o ChatGPT, «In most healthcare call centers, a reasonable target is 60–100 calls per operator per day, assuming 5–7 minutes average handle time and an 8-hour Shift».

O crescimento é poucochinho e o poucochinho depende de coisas que um dia acabarão

Para o BdP o crescimento do PIB este ano poderá superar a estimativa anterior de 1,6% e atingir 1,9% a cavalo do crescimento previsto de 3,3% do consumo das famílias, o que mais do que compensará a desaceleração da procura externa. E é claro que mesmo este crescimento só será conseguido à força da entrada da grana da Bazuca e do turismo que tem representado quase metade do crescimento da economia.

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