O jornalista Gustavo Sampaio escreveu “Os Políticos São Todos Iguais!" escarafunchando o passado de vários políticos portugueses e o Expresso publicou um artigo com uma versão reduzida de um capítulo dedicado ao populismo. Nesse artigo Gustavo Sampaio passa em revista o passado doutrinário do Dr. Ventura e mostra-nos que esse pensamento mudou, o que é natural porque todo o mundo é composto de mudança. O que alguns, como eu, podem não apreciar é que a epifania que atingiu o Dr. Ventura há uns cinco anos, e que os seus seguidores verão como o caminho da escuridão para a iluminação, é vista como o caminho da pouca luz para a obscuridade ou talvez a procura de um produto para um mercado.
«... argumentou contra o securitarismo, contra o populismo penal, contra os políticos que procuram ganhar votos com o acicatar dos medos e dos preconceitos» (tese de doutoramento)
«... países como Portugal e a Irlanda não devem esquecer o seu passado e devem acolher o maior número de migrantes» (artigo de opinião)
«Hoje, tornou‑se uma espécie de gíria popular — ou uma certa elite intelectual — atacar a comunicação social. Digo isto completamente livre nesta matéria. Nós, em Portugal, temos tido a sorte de ter meios de comunicação social capazes de tocar com o dedo na ferida. […] Temos que ter alguma cautela quando apontamos o dedo à comunicação social.»
«Quando perguntam ao Presidente dos EUA (Trump) porque é que ele usa o Twitter, é porque dá um poder enorme não haver nenhuma espécie de intermediário. Eu escrevo o que quiser. Ninguém me faz a pergunta, sequer”, explicou Ventura. “Na verdade, por trás desta perceção está a lógica de os intervenientes políticos se quererem furtar aos intermediários que fazem perguntas. É incómodo. É muito mais fácil (recorrer às redes sociais). E é por isso que se utiliza isto. […] É esta a lógica das fake news, que são perniciosas, porque nos levam à negação e à defesa permanente. Mas, sobretudo, porque são capazes de convencer em períodos de grande turbulência noticiosa.»
«O Estado manterá nas suas mãos uma função arbitral, de regulação e de inspeção sediada em organismo dependente da Presidência do Conselho de Ministros. Essas funções seriam exercidas sobre todos os graus de ensino não superior (planos de estudo, exames, etc.). As instalações escolares passariam, num primeiro momento, para a tutela da Direção‑Geral do Património, que, de seguida, as ofereceria a quem nelas demonstrasse interesse, dando‑se prioridade absoluta aos professores nelas lecionando nesse momento. Os professores que pretendessem assumir a posse do seu estabelecimento de ensino criariam uma empresa ou uma entidade cooperativa para a qual transitaria a propriedade desse estabelecimento.» (programa político do Chega de 2019)
1 comentário:
Nestas questões do "populismo", o (Im)Pertinente comete sempre o mesmo "erro" de análise. Escrevo "erro" entre aspas, porque não acredito que seja realmente um erro, mas sim uma estratégia deliberada, por parte do (Im)Pertinente, de tentar ludibriar os seus leitores.
Antes de chegarmos ao “erro”, convirá relembrar o modus operandi do (Im)Pertinente:
1. Apontar as contradições no discurso dos políticos que merecem a reprovação do (Im)Pertinente; o Presidente Trump costuma ser o alvo de eleição, mas o Doutor Ventura (assim mesmo, por extenso, que ele é mesmo doutorado e não apenas licenciado), também vai merecendo o mesmo tratamento de vez em quando.
2. Na sequência de (1.), concluir ou dar a entender que, em função dessas contradições, os políticos em causa não são de fiar, sendo implicitamente preferível votar nas alternativas.
Esta posta é um excelente exemplo de implementação dessa estratégia adoptada pelo (Im)Pertinente: o Doutor Ventura costumava dizer uma coisa, mas agora passou a dizer outra, o que significa que ele só pode estar a quer dizer o que os seus eleitores querem ouvir.
O que nos leva ao tal “erro” de análise. Há pelo menos três razões pelas quais esta estratégia está condenada ao fracasso, que passo a listar por ordem crescente de importância:
1. O critério é escandalosamente diferente para os políticos de que o (Im)Pertinente não gosta e para aqueles que gozam da simpatia do (Im)Pertinente. Basta, por exemplo, comparar as dezenas (centenas?) de postas feitas neste espaço acerca do Presidente Trump com a dúzia (se tanto?) de postas feitas acerca do Presidente Biden.
2. Quando as pessoas decidem em quem vão depositar o seu voto, elas não estão apenas a escolher uma alternativa, mas, sobretudo, a rejeitar as restantes. O (Im)Pertinente pretende que os eleitores do Doutor Ventura o rejeitem pelo seu passado, mas o resultado prático dessa exclusão seria ficarmos com o mesmo futuro de sempre: PS, PSD e o resto das agremiações criminosas que se apoderaram de Portugal na sequência da Grande Tragédia Abrilina.
3. Quem vota em Trump ou em Ventura não o faz apenas em função do que eles dizem, mas apesar do que eles dizem; eu e outros leitores já explicámos isto ao (Im)Pertinente vezes sem conta, mas o (Im)Pertinente é teimoso. A aparência, o estilo e até as contradições programáticas dos políticos como o Doutor Ventura são irrelevantes face à necessidade de mudar o paradigma governativo, sobretudo em questões como a imigração e a natalidade. Quando o Presidente Trump disse que podia matar a tiro uma pessoa e mesmo assim ser eleito, os seus adversários – em especial o coro de castrati amestrados das televisões ocidentais – quiseram à viva força dar a entender que ele estava a dizer que os seus eleitores eram estúpidos, que o idolatravam de tal forma que lhe perdoariam tudo e mais alguma coisa. Mas não era nada disso: Trump apenas percebeu que o seu seguidor médio está(va) sedento de uma mudança política completa, de um corte radical com o paradigma político vigente. E que, nesse sentido, aquilo que um líder político diz ou faz passa a ser secundário face às suas promessas.
Também já foi dito ao (Im)Pertinente o que é preciso fazer para derrotar o Doutor Ventura: apresentar alternativas credíveis para a política imigração que vem sendo seguida pelos (des)governos do PS e do PSD nos últimos 40 anos. Mas isso o (Im)Pertinente não quer, seja porque não tem alternativas ou, mil vezes pior, porque acha que assim é que está bem.
Só que não está bem, (Im)Pertinente. Não está mesmo nada bem!
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