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27/03/2025

ARTIGO DEFUNTO: Jornalismo de causas artísticas, um exemplo

Steve Reich é um velhote com quase 90 anos compositor de inspiração minimalista, rótulo que ele questiona. Ganhou um Grammy em 1990 e o Pullitzer da Música em 2009 e a sua peça mais conhecida é provavelmente "Música para 18 Músicos". A pretexto do lançamento de uma edição da sua obra completa (até agora), foi entrevistado pela Blitz e a entrevista foi também publicada pela Revista do Expresso.

A certa altura, o entrevistador vai à sua agenda de jornalismo de causas artísticas e saca de várias perguntas absolutamente previsíveis na sua tentativa tosca de politizar a música no pressuposto que os músicos são ou devem ser militantes ideológicos. As respostas de Reich, de que cito a seguir alguns excertos, são desarmantes.

«Não, a ideia de mudar o mundo é... é uma ambição tola para um artista. (...) Por isso não acho que a arte consiga mudar o mundo, acho, sim, que imaginamos ou esperamos que os artistas tenham um efeito transformador no mundo. (...)

Porquê começar por Gaza? Comecemos muito antes, há 2000 anos, por exemplo. Ou talvez ainda mais, há 3400 anos. A questão é que a terra de Israel tem sido um ponto fulcral na civilização ocidental e na civilização oriental há quase 4000 anos, por um motivo ou por outro. (...)

Bem, ser remunerado é importante. Qualquer outro ser humano que trabalhe poderá concordar com isso. Um dos meus modelos, claro, foi Igor Stravinsky, que era famoso por sempre encontrar uma forma de ser recompensado pelo seu trabalho. Ele pensava numa peça e depois tentava encontrar quem a quisesse e pudesse pagar por ela. Sempre trabalhei com agentes, na Europa, aqui nos Estados Unidos, é basicamente a mesma coisa. É um princípio muito simples: se conseguirmos que muitas pessoas paguem por uma só coisa, fica mais barato para cada uma. (...)

Como é que as condições políticas atuais me afetam a mim ou a outras pessoas enquanto compositores? Não tenho a certeza que afetem, na verdade. Quero dizer, não sei quantos Presidentes diferentes em partidos políticos diferentes estiveram no poder durante todas estas décadas em que tenho trabalhado. Claro que isso faz diferença no mundo, mas em termos da minha própria perceção do trabalho, sigo aquilo que me interessa.»

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