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08/02/2025

As virtudes públicas, os vícios privados tornados públicos e os riscos da limpeza ética

[Uma continuação de ESTÓRIA E MORAL: Virtudes públicas, vícios privados tornados públicos]
«It is usually futile to try to talk facts and analysis to people who are enjoying a sense of moral superiority in their ignorance.»
Thomas Sowell
O historiador Rui Ramos faz no artigo «Não se distraiam com as malas» um exercício de relativização política das falhas morais dos deputados do Chega na esfera pessoal, por comparação com as falhas morais dos deputados do PS e do PSD na esfera política no exercício de funções públicas.

É um exercício que pode ser feito, mas é um exercício perigoso se a relativização for levada ao ponto de poder ser confundida com uma limpeza ética do partido do Dr. Ventura. É também um exercício enganador porque os partidos do regime têm cinco décadas de ocupação do aparelho de Estado e o Chega não tem nenhuma, pelo que a comparação das falhas políticas não faz o menor sentido com um partido que ainda não teve a oportunidade de mostrar do que é capaz nesse domínio. 

Diferentemente fará algum sentido um juízo probabilístico de antecipar o que farão, se e quando o Chega for um partido de poder com ocupação do Estado, os seus deputados que até agora revelaram em média uma qualidade política, profissional, pessoal e ética que, para dizer o mínimo, não os distingue dos outros.

2 comentários:

Afonso de Portugal disse...

«O historiador Rui Ramos faz no artigo «Não se distraiam com as malas» um exercício de relativização política das falhas morais dos deputados do Chega na esfera pessoal, por comparação com as falhas morais dos deputados do PS e do PSD na esfera política no exercício de funções públicas.

Mentira. Em momento nenhum o Dr. Rui Ramos desculpabilizou o comportamento dos dirigentes do Chega (chamar-lhes simplesmente “deputados” é manhoso, porque dá a falsa sensação que eram todos deputados da AR), nem menorizou a gravidade do que eles fizeram.

O que o Dr. Rui Ramos fez – e muito bem – foi notar que há um foco excessivo sobre os dirigentes do Chega, mas não tem havido o mesmo critério e escrutínio em relação aos dirigentes dos outros partidos, sobretudo sobre aqueles que, por exercerem funções governativos, têm um impacto muito mais significativo nas vidas dos portugueses.


«É também um exercício enganador porque os partidos do regime têm cinco décadas de ocupação do aparelho de Estado e o Chega não tem nenhuma, pelo que a comparação das falhas políticas não faz o menor sentido com um partido que ainda não teve a oportunidade de mostrar do que é capaz nesse domínio.»

Inversão do ónus da prova: é precisamente pelo facto de que o Chega nunca esteve no poder que o partido (ainda) não pode ser declarado igual ao PS e ao PSD em matéria de corrupção.


«Diferentemente fará algum sentido um juízo probabilístico de antecipar o que farão, se e quando o Chega for um partido de poder com ocupação do Estado, os seus deputados que até agora revelaram em média uma qualidade política, profissional, pessoal e ética que, para dizer o mínimo, não os distingue dos outros.»

Outra mentira: a diferença entre o Chega e o PS/PSD nesse capítulo tem sido gritante! Sempre que alguém do Chega é acusado criminalmente, essa pessoa é imediatamente demitida. Já o líder do PSD não só não demite criaturas como o Hernâni Dias, como ainda tem a lata de dizer que não é necessário demiti-las. E o PS tem Sócrates no currículo, entre muitos outros seres igualmente deprimentes.

Por outras palavras, o (Im)Pertinente condena o que considera ser “um juízo probabilístico” num sentido que lhe desagrada, mas não se coíbe de fazer o “juízo probabilístico” de sentido contrário, dando como adquirido que o Chega seria pelo menos tão mau no Governo com o PS e o PSD. Infelizmente, para o (Im)Pertinente, esse género de futurologia não pode ser feito em nenhum dos sentidos, pelo menos, para já.


«It is usually futile to try to talk facts and analysis to people who are enjoying a sense of moral superiority in their ignorance.»

Assenta como uma luva ao que o (Im)Pertinente escreveu nesta posta, desde logo porque aqui nem sequer há factos para informar. Mas pronto, continue lá a insultar a inteligência dos seus leitores. Foi assim que Trump voltou ao poder, pode ser que também resulte com o Chega aqui em Portugal.

Afonso de Portugal disse...

Já agora, aqui fica outro comentador do Observador, que até é afecto ao PSD, a explicar a diferença:

«O PSD já devia ter afastado há muito, muito tempo os dirigentes que têm controlado o partido em Lisboa. Como não quis, ou não soube, fazer isso, restava-nos a Justiça. Só não se façam de surpreendidos»

https://observador.pt/opiniao/coitadinho-o-psd-nao-sabia-de-nada/