Li com curiosidade e interesse «O equívoco político nacional: governos minoritários» um artigo de Mafalda Pratas (doutoranda em ciência política em Harvard) no Observador. O equívoco em causa está relacionado com a raridade dos executivos minoritários, a estranheza com que são vistos em Portugal e o prognóstico de vida curta que geralmente lhes é associado.
À primeira vista a realidade é esmagadora. Usando as palavras da Drª Pratas, «Entre 1945 e 2015 houve, na Europa (26 países), 705 executivos formados a partir de legislaturas democraticamente eleitas (isto é, excluindo os chamados governos de gestão, de iniciativa presidencial, caretaker governments, etc). Destes 705 governos, apenas 15% foram governos de maioria absoluta (108 governos).» De onde a Drª Pratas conclui que seria perfeitamente possível termos em Portugal um governo minoritário estável baseado na «rule by multiple majorities», por exemplo.
Supondo que a lógica seja inatacável (não é), como explicar que em Portugal nunca houve um governo minoritário estável ou pelo menos com estabilidade duradoura? Antes de tentar responder deixai-me recontar a estória do professor Jay Beetleson, que apresentou num congresso cientifico uma comunicação sobre a aerodinâmica do voo do besouro onde demonstrou que o bicho era demasiado pesado, tinha as asas demasiado pequenas, um abdómen nada aerodinâmico e um cérebro incapaz de enfrentar as complexas tarefas do voo, pelo que não poderia voar. A plateia ficou siderada num respeitoso silêncio só quebrado por um participante que perguntou com ingenuidade por que razão o besouro voava, não podendo voar, ao que o professor Beetleson respondeu «o besouro voa por não saber que não pode voar».
Receio que o eleitorado ou, mais exactamente, os políticos e os partidos portugueses, a quem podemos explicar incansavelmente não haver razões políticas ou outras que impeçam a viabilidade de um governo minoritário, fazem como o besouro e, não sabendo ou não estando convencidos, derrubam o governo minoritário logo que daí imaginem extrair alguma vantagem.
A razão é simples e para a compreender basta comparar a cultura (*) dos povos que habitam os Estados que conseguem manter governos minoritários estáveis com a cultura do Portugal dos Pequeninos.
(*) Cultura no sentido sociológico: «as línguas, costumes, crenças, regras, artes, conhecimento e identidades e memórias colectivas desenvolvidas por membros de todos os grupos sociais que tornam seus ambientes sociais significativos» (American Sociological Association).
1 comentário:
Essa frase é atribuída ao escritor e poeta brasileiro Mário Quintana. Ele é conhecido por sua poesia simples e filosófica, e essa frase em particular reflete a ideia de desafiar limitações autoimpostas e seguir em frente mesmo quando os obstáculos parecem insuperáveis
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