Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

29/02/2024

SERVIÇO PÚBLICO: Uma obra de demolição de alguns dos mitos mais populares no Portugal dos Pequeninos (5)

Continuação de (1), (2), (3) e (4

Mais um post sobre os mitos cuja demolição considero mais importante, recordando que os factos que fundamentam a demolição foram amplamente estudados e documentados no livro de Nuno Palma (NP) e nas dezenas de trabalhos de investigação que publicou (cfr o seu Research output).

No post anterior referi a conclusão de NP de que a afluência de ouro do Brasil destruiu a maior parte de uma indústria incipiente (sobretudo nos têxteis, sabão, ferro, vidro e seda). Acrescento que, de acordo com os dados citados, as percentagens da população a trabalhar fora da agricultura (grande parte na indústria) foi crescendo gradualmente a partir de meados do século XVII, atingiu o máximo com mais de 45% em meados do século seguinte para desde então ter decrescido para cerca de 36% em 1890, precisamente no período de afluência do ouro.

Ao mesmo tempo que teve impacto na economia e nas actividades económicas, o ouro brasileiro teve repercussões políticas e sociais significativas. Desde logo, como sublinha NP, criou um capitalismo de compadrio que capturou o Estado e, acrescento, se manteve desde então quase intacto até meados do século XX e nas últimas décadas se transformou num capitalismo dependente pendurado nos fundos europeus.

Na esfera política, um efeito perverso da abundância de receitas extraordinárias do Estado resultou de, a partir de D. João V, o rei ter deixado depender dos impostos que até então precisara de negociar com as Cortes as quais deixaram de reunir a partir de então, iniciando um ciclo de centralização,

Deve salientar-se nesse período, a expulsão dos Jesuítas por Pombal de efeitos profundos no ensino com uma enorme redução do número de estudantes e do nível de ensino das matérias. Tudo isto está bem documentado no livro de NP que conclui que a partir de então Portugal, que antes não estava atrasado na educação, experimentou um retrocesso ainda hoje persistente. 

Vem a propósito citar Jorge Buesco que no seu "Matemática em Portugal" escreveu «a criação do ensino público pombalino foi provavelmente a grande oportunidade perdida para a Matemática em Portugal». Isso explicará a tradicional inumeracia das nossas elites merdosas a que aqui no (Im)pertinências dedicámos muitas dezenas de post sob a etiqueta «a tabuada faz muita falta». Essa inumeracia, que no jornalismo de causas é endémica, junto com a incultura, a preguiça e a falta de escrúpulos explica muita do superficialidade opinativa, na melhor hipótese, ou o enviesamento deliberado, na hipótese mais provável.

(Continua)

1 comentário:

Afonso de Portugal disse...

«Isso explicará a tradicional inumeracia das nossas elites merdosas a que aqui no (Im)pertinências dedicámos muitas dezenas de post sob a etiqueta «a tabuada faz muita falta».

Não, não explica. Isso pode ter contribuído historicamente para o fenómeno, mas a iliteracia dos portugueses no que respeita tanto à matemática como a praticamente todas as outras áreas do conhecimento científico, tem sido deliberada, calculada e devidamente programada pelos sucessivos ministros da educação dos (des)governos abrilinos.

Um excelente exemplo dessa intencionalidade é o chumbo da proposta da IL que pretendia que os alunos do ensino básico aprendessem conceitos básicos de literacia financeira. A proposta foi chumbada pelo PS e pelo BE, cujos dirigentes sabem perfeitamente que os alunos que aprendem a poupar e a investir desde pequeninos têm significativamente menos hipóteses de se tornarem socialistas.