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08/08/2004

CASE STUDY: Tudo como dantes, quartel-general em Abrantes (ACTUALIZADO).

A respeito do arquitecto José António Saraiva, escreveu um dia o doutor Rangel, o Fuehrer da TV Catástrofe, no Correio da Manhã:
«O Lesma foi à televisão. Com o mesmo ar de homem das cavernas que lhe marca perfil, com o mesmo casaquinho cor de merda que usa todos os dias e em todas as ocasiões, com os mesmos tiques de troglodita tímido que chega à cidade e não sabe onde pôr os pés.»
Sabe-se lá porquê, lembrei-me dessa frase assassina, ao ler no Expresso de ontem a coluna «Política à Portuguesa» do arquitecto Saraiva que propõe a mudança da capital para um remoto lugar, situado algures para os lados de Abrantes.
Apesar de ser uma tese claramente menos interessante do que o circo cardinalli dum governo itinerante, já proposto por um bloguenauta (quem?), não deixa de merecer consideração.
A tese do arquitecto Saraiva funda-se no propósito de combater a desertificação do interior, contrariar a divisão norte-sul e o bairrismo Porto-Lisboa, e dar aos portugueses, agora que as provisões de auto-estima reforçada com o Euro 2004 estão outra vez em baixa, um «grande objectivo nacional, como a construção de uma nova capital».
Não estando certo se a proposta do arquitecto Saraiva salvaria Portugal da divisão norte-sul ou do bairrismo, e tendo dúvidas se esse «grande objectivo nacional» revigoraria a alma nacional e superaria o evidente cansaço de viver, estou com ele incondicionalmente quanto ao sucesso no combate à desertificação do interior.
A nova capital para os lados de Abrantes, apenas com a transferência do governo e da imensa parafernália que compõe os órgãos lisboetas da vaca marsupial pública, promoveria esse ignoto cu de judas ao topo dos concelhos mais populosos do país. Acessoriamente, proporcionaria ao Bloco de Esquerda a sua segunda base eleitoral mais importante, a seguir a Telheiras. Por fim, seria a salvação da laboriosa classe dos construtores e empreiteiros, já quase sem nada para fazer, agora que o número de fogos se aproxima velozmente do número de telemóveis.

ESCLARECIMENTO (desnecessário):
A pedido dum detractor habitual do Impertinências, esclareço que «número de fogos», no contexto em que foi aqui escrito não significa número de incêndios, mas «número de habitações», como qualquer pessoa que não seja um detractor habitual terá percebido.

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