Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
28/11/2021
Pro memoria (415) - O Dr. Rendeiro é um pentelho na pentelheira socialista, mas é um pentelho sem pedigree, filho de um sapateiro
Uma pequena vitória do Dr. Costa e do PS preparando uma vitória dentro de dois meses
Qualquer que fosse o desfecho das eleições para líder do PSD, seria sempre um bom resultado para o Dr. Costa. Ou teria um adversário fraco ou teria um aliado, como claramente preferia e por isso a pandeireta mediática fez saber a preferência pelo Dr. Rio ao povo acagaçado pela pandemia e aos empreendedores da mineração do guito europeu salivando de expectativa pelo maná da bazuca.
A eleição do Dr. Rio é também uma vitória para o IL e o Chega que previsivelmente ganharão peso eleitoral à custa do PSD.
27/11/2021
O ruído do silêncio da gente honrada no PS é ensurdecedor (199) - À boleia das bodycams, o Dr. Costa a querer ser o Sr. Xi da Jangada de Pedra
«Como se não houvesse já um abuso generalizado da recolha de imagens no espaço público e a absoluta ausência de verificação da legalidade dos sistemas (graças à diluição de competências da autoridade responsável), o Governo demissionário quis criar uma verdadeira sociedade controlada, à boa imagem da ditadura chinesa. Para isso tentou passar uma lei absolutamente abusiva que só se alterou na especialidade graças à quantidade de pareceres humilhantes que recebeu. Mas fica o registo da tentativa – e da aceitação acéfala – que a maioria dos deputados fez deste projeto que dava às forças de segurança o controlo de um dos melhores mecanismos para minar a democracia e as liberdades individuais.
O projeto foi reduzido à utilização de imagens recolhidas por drones e por agentes da autoridade no exercício de funções. Mas a verdade é que o número de câmaras no espaço público cresce sem controlo e pouco ou nada se sabe sobre a forma como os registos são armazenados – e esta lei, que agora foi aprovada, vem simplesmente agravar o problema. O texto é propositadamente ambíguo, para permitir interpretações que conduzam facilmente ao abuso das liberdades. (...)
Mas a lei original, que passou no Parlamento, era muito pior. A lei original tornava todo e qualquer espaço público alvo de videovigilância, sem respeito pelas liberdades individuais nem proteção dos cidadãos. Pior, permitia a que se usasse inteligência artificial e se fizesse a recolha de dados biométricos. (...)
Toda a discussão foi feita em tempo recorde, com desprezo absoluto pelos princípios democráticos. (...)
É difícil saber se os deputados deixaram passar este monumento à ditadura por absoluta ignorância ou por influência de um qualquer lobby securitário liderado por um ministério da Administração Interna que vê ameaças onde elas não existem. (...)»
António Costa, o inesperado big brother, Diogo Queiroz de Andrade no Jornal Eco
NOTA: Na verdade este episódio é principalmente vergonhoso para o PS (exceptuando Cláudia Santos e Isabel Moreira que votaram contra), cujo governo apresentou o projecto de lei. Mas não exclusivamente, porque, além das duas deputadas PS, só votaram contra a aprovação na generalidade BE, PCP, PEV e IL (ver Projeto de Resolução 119/XIV/1), uma votação que é um exemplo das limitações da visão unidimensional esquerda-direita.
26/11/2021
Pro memoria (414) - O Dr. Rendeiro é apenas um pentelho na pentelheira socialista
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Trilema de Žižek |
Nos últimos meses as televisões e os jornais foram assaltados por resmas de jornalistas de causas, políticos comentadores e opinion dealers que nos intervalos de nos acagaçarem com a pandemia nos ensopam as meninges com os feitos do Dr. Rendeiro, como se de repente a criatura fosse o responsável por todos os desastres por que este país tem passado pela mão de vários governos, com um especial destaque para os governos do PS com os seus apparatchiks e toda a tralha que trazem pendurada e onde se penduram.
É por isso indispensável recordar como chegámos aqui, o que faço usando as palavras de Luís Marques no seu artigo Rendidos a Rendeiro:
«O BPN foi tomado e destruído por um grupo de gente sem escrúpulos, sem competência e sem dinheiro, perante o silêncio e inoperância do Banco de Portugal (BdP). A PT foi sacrificada no altar dos interesses do BES, de Salgado, de Bava e dos seus cúmplices, com a participação ativa do poder político. O BCP foi assaltado por um grupo liderado por Berardo e comandado à distância por uma mistura de inconfessáveis interesses empresariais e pessoais, alimentados pelo Governo de Sócrates e pela cumplicidade do BdP. O BES ruiu, com políticos e reguladores a assegurarem a sua solidez. O Banif foi vendido ao desbarato ao Santander, num percurso cheio de buracos.
Do velho capitalismo português ficaram um monte de ruínas, uma enorme montanha de dívidas, pagas pelos contribuintes, e alguns figurões que continuam a rir-se na nossa cara, tomando-nos por parvos. Rendeiro é mais um dessa já longa lista, daqueles que se julgam acima do poder e da lei e a quem, não poucas vezes, o poder e a lei se rendem. Por ação, por omissão ou por incompetência.»
25/11/2021
ACREDITE SE QUISER: Quase um quinto dos trabalhadores do Portugal dos Pequeninos gostariam de ser pagos com criptomoedas
Se as conclusões de um inquérito da empresa coverflex, com o apoio da Associação Portuguesa de Gestão das Pessoas, abrangendo 814 participantes, tiverem alguma aderência à realidade laboral mostram uma mão-de-obra surpreendentemente moderna e arejada (ou, para os cépticos, não surpreendentemente lunática).
Não surpreende a preferência de 60% dos inquiridos por uma semana de quatro dias, nem mesmo a de 30% que preferiam uma semana de 32 horas. Começa a surpreender que um quinto dos inquiridos declare receber ajudas de custo em teletrabalho, uma retribuição que se destinar a compensar custos extraordinários e aleatórios, normalmente nas deslocações em serviço, quando neste caso se trabalha em casa e se suportam geralmente menores custos.
O mais surpreendente, porém, é o desejo manifestado por 23% dos inquiridos de terem uma parte da remuneração paga em cripto-moedas. Só me recompus da surpresa quando recordei a espantosa capacidade imaginativa dos indígenas mostrada por exemplo num estudo de opinião de há uma meia dúzia de anos que concluiu haver uma percentagem considerável de portugueses cujo local favorito para o sexo era junto a uma lareira, um dispositivo presente apenas numa pequena percentagem de habitações.
24/11/2021
DIÁRIO DE BORDO: A principal virtude do Dr. Rangel é não ser o Dr. Rio
A boutade do título é de Alberto Gonçalves, um veterano da bloguilha agora no Observador, e traduz bastante bem (substituindo na virtude o qualificativo «enorme» por principal) o que eu penso do Dr. Rangel, uma criatura que para nele votar teria de fazer como preconizou o Dr. Cunhal que os comunistas fizessem ao votar no Dr. Soares: «Se for preciso tapem a cara com uma mão e votem com a outra».
Por várias razões, entre as quais não se conta o seu comportamento na esfera privada nem as suas ideias e práticas sobre a sexualidade, matéria que só a ele diz respeito, mas onde se inclui a cobardia do seu voto contra o casamento dos homossexuais no parlamento em 2008.
Razões como os conflitos de interesse enquanto deputado europeu (denunciados por Pedro Arroja, que o detesta, talvez por boas razões), como a sua choruda avença mensal da sociedade de advogados Cuatrecasas, entre outros. Ou a sua auto proclamada virgindade política, comparando-se com «António Costa e Rui Rio (que) são pessoas que estão há 40 anos no sistema», sendo certo que ele com as idades dos dois já terá 27 e 31 anos de «sistema», respectivamente. Ou a sua insensatez demagógica de propor «por razões económicas» a subida de um salário mínimo que já representa a maior percentagem na UE em relação ao salário médio e é uma ameaça à sobrevivência das dezenas de milhar de pequenas e micro empresas.
Razões próprias que não tenho a certeza se são anuladas pelas razões dos portugueses, com a sua histórica falta de discernimento, que parecem preferir abertamente o Dr. Rio para opositor (ou candidato a vice do Dr. Costa). Ou se são anuladas pelas razões do PS que, pelos vistos, já perdeu de todo o recato e faz abertamente campanha oficial pelo Dr. Rio, como é o caso do Dr. Ferro Rodrigues, no seu habitual estilo de múmia, e do Dr. Santos Silva, com a sua proverbial falta de decoro, a que se juntam as vozes de apparatchiks menores.
23/11/2021
SERVIÇO PÚBLICO: Como uma lei iníqua dá ao Partido Comunista, através dos sindicatos que controla, um poder que os votos há muito deixaram de lhe dar
«Enquanto há 50 ou 100 anos a maioria dos membros dos sindicatos trabalhava no sector privado, em muitos países hoje a maioria dos membros dos sindicatos trabalha para o sector público ou para empresas diretamente ligadas ao Estado. Ou seja, os sindicatos deixaram de ser uma forma de os trabalhadores se unirem para ganhar poder negocial em relação ao seu patrão, que, sem sindicatos, tinha um poder quase monopsonista sobre alguns deles. Os membros dos sindicatos públicos ganham antes poder negocial sobre os restantes contribuintes, que estão muito menos organizados e dependem do Governo para zelar pelos seus interesses difusos.
Por fim, há um terceiro facto que é particularmente extremo em Portugal. Como o jovem economista Hugo Vilares tem documentado (com Addison, Portugal e Reis), em Portugal só cerca de 10% dos trabalhadores são membros de um sindicato. Mas a lei (*) impõe que 90% dos trabalhadores sejam afetados pelos contratos negociados por esses sindicatos. É difícil imaginar um maior défice democrático em Portugal. Há uma enorme discrepância entre os que têm voz nas negociações e aqueles que são afetados por elas.
Combinando todos os factos, temos que, se Portugal continuar a abrir a sua economia ao comércio internacional (como é inevitável, tendo em conta a nossa dívida externa), os sindicatos vão possivelmente praticamente desaparecer do sector privado. Ao mesmo tempo, protegidos pela lei, eles vão continuar a determinar as tabelas salariais por toda a economia e, graças a umas dezenas de milhares de associados no sector público, vão conseguir bloquear serviços públicos essenciais usando greves. Junta-se a este panorama a suposta subordinação de uma fração significativa dos sindicatos aos interesses políticos do PCP, que tantos comentadores afirmam como sendo um facto. Se assim for, acabamos com um partido que caminha para ter menos de 5% dos votos, e, usando como seus peões menos de 2% ou 3% dos trabalhadores em Portugal, a conseguir bloquear a economia, influenciar quem ganha quanto e a dificultar seriamente quaisquer reformas, tudo ao serviço de impor em Portugal princípios marxistas-leninistas rejeitados em todo o mundo e com os quais quase nenhum português concorda. Talvez seja verdade, mas é de certeza uma situação perversa num regime democrático.»
Excerto de O PCP e os sindicatos, Ricardo Reis no Expresso
(*) O autor refere-se ao mecanismo das Portarias de Extensão previsto no Código do Trabalho, mecanismo cujo alcance foi limitado pelo governo de Passos Coelho e reposto pelo governo do Dr. Costa, por exigência dos comunistas para embarcarem na geringonça - ver o post SERVIÇO PÚBLICO: Regresso ao passado (continuação).
22/11/2021
Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (112) - A Passarola Afundada (IV)
«Estamos preparados»
O processo de vacinação continua a patinar sem o Vice-Almirante e os objectivos de vacinar totalmente os mais idosos são cada vez mais obviamente inalcançáveis.
21/11/2021
Mitos (317) - O contrário do dogma do aquecimento global (XXVII) - A COP26, a histeria climática e a fábula de Esopo
20/11/2021
Proposta Modesta Para Evitar que os Áctivistas Desperdicem Acções e Indignações (10) - Áctivistas das mudanças climáticas ide plantar Relógios do Resgate
[Em 1729 Jonathan Swift publicou um panfleto satírico com o título longo e insólito A Modest Proposal: For Preventing the Children of Poor People in Ireland from Being a Burden to Their Parents or Country, and for Making Them Beneficial to the Public.]
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Público |
19/11/2021
Lost in translation (356) - O que eles disseram traduzido em linguagem simples
- Mário Mourão, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sector Financeiro e o próximo secretário-geral da UGT disse em entrevista ao Público «É altura de repor aquilo que a troika nos retirou»
Tradução: É obrigação deste governo do PS esmifrar os contribuintes da UE ou, não sendo possível, os contribuintes portugueses, para repor as mordomias que tiveram de ser retiradas para resgatar o país do estado em que o outro governo do PS o deixou.
- António Horta Osório, ex-presidente do Lloyds Bank e actual do Credit Suisse, disse no encerramento da conferência “Banca de Futuro”, «É dramático que em Portugal se ganhe 1.000 euros em média por mês»
Tradução: É dramático que Portugal tinha a décima produtividade mais baixa da UE em 2000 e vinte anos depois tenha a sétima mais baixa.
- Catarina Martins, líder do BE, em entrevista à RTP disse «O Bloco de Esquerda nunca permitirá com a sua força que a direita seja Governo, isso é óbvio.»
Tradução: Não é preciso explicar que se estivéssemos em Cuba ou na Venezuela, a direita nunca seria governo, nem talvez o Bloco de Esquerda.
18/11/2021
Bons exemplos (140) - Prime Minister shut the fuck up and sit down, said in other words a Speaker with balls
«You may be the prime minister of this country, but in this House, I'm in charge.»
Speaker of the House of Commons Sir Lindsay Hoyle's intervention «to stop Johnson from turning Prime Minister's Questions into, err, Leader of the Opposition Questions.»
SERVIÇO PÚBLICO: Aristides Sousa Mendes, a construção de um mito (2) - "Raramente a verdade é pura, e nunca é simples"
Citei há três semanas um artigo Sousa Mendes no Panteão: justifica-se? de Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva, publicado no jornal Nascer do Sol, pelo gosto da desmistificação porque visava reduzir o mito do herói Aristides à sua suposta real dimensão.
Acontece que no sábado passado, o mesmo jornal publicou o direito de resposta de um familiar de Sousa Mendes que coloca em causa as principais conclusões do artigo de Sá-Nogueira Saraiva.
Pelo meu gosto pela verdade, só possível pela prática do contraditório, gosto que supera o da desmistificação, resolvo agora encaminhar quem leu o post anterior para a resposta de António de Moncada Sousa Mendes, que desta vez tem um link que me dispensa de citação.
17/11/2021
Dúvidas (324) - Será o Wokeismo um Transtorno obsessivo-compulsivo ou Esquizofrenia paranóide? (II)
ARTIGO DEFUNTO: Como dar boas notícias insultando a inteligência dos leitores (que a têm). Ou pode ser ignorância
Com a verdade me enganasProvérbio popularP'ra a mentira ser segurae atingir profundidade,tem de trazer à misturaqualquer coisa de verdade.António Aleixo
- Portugal com segunda maior subida do PIB em cadeia no segundo trimestre na UE
- Economia portuguesa cresceu acima da média europeia no terceiro trimestre
- Portugal com crescimento acima da média europeia no terceiro trimestre
- Portugal cresce acima da média europeia no terceiro trimestre. Tem o sexto maior crescimento
16/11/2021
SERVIÇO PÚBLICO: A realidade alternativa criada "pela mais poderosa organização de comunicação desde há muitas décadas"
«Verdade é que a fantasia é a última a morrer. Vivemos, há uns anos, tempos de crença. Os socialistas de António Costa estão absolutamente convencidos de que a realidade que vêem todos os dias nos jornais e nas televisões é verdadeira. Esquecem-se do simples facto de que foram eles que lá colocaram grande parte dos dados e das informações. Que parecem tanto mais verdade quanto as alternativas não existem. O que o PSD, o CDS e o Chega afirmam não tem sustento nem merece confiança. O que o Bloco e o PCP garantem é do domínio do irreal. O que faz com que o Governo e o PS não necessitem de ser rigorosos, nem coerentes, muito menos verdadeiros. O governo e os Socialistas são incapazes de provar o que, sem pestanejar, afirmam sobre o nível de vida dos portugueses (a subir, dizem…), sobre a pobreza em Portugal (a descer…), sobre o emprego (a dilatar…), sobre o investimento privado nacional e estrangeiro (a crescer…), sobre o êxito escolar (a aumentar…) e sobre os cuidados de saúde (a melhorar…). Nas suas melhores fantasias, aumenta o investimento público e privado na economia, na cultura e na ciência. E da dívida nem se fala. Nem da mediocridade do desenvolvimento das duas décadas do século XXI.
O governo é incapaz de criticar o que há de mais negativo na realidade, a não ser que possa dizer que a culpa é dos governos anteriores. Como os socialistas gostam de dizer, desde o inefável Sócrates, a realidade socialista é uma narrativa confirmada pela mais poderosa organização de comunicação desde há muitas décadas.»
Excerto de Acreditar em si próprio, António Barreto no Público
15/11/2021
Crónica da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa (111) - A Passarola Afundada (III)
14/11/2021
Dúvidas (323) - Estará a inflação a caminho?
Um pouco por todo o mundo os preços estão a aumentar. Os preços na produção industrial na União Europeia registaram um aumento homólogo de 16,2% em Setembro, sobretudo devido aos preços da energia que aumentaram 40,1%. Os mesmos preços na China também dispararam (ver gráfico seguinte).
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Fonte |
Na OCDE a taxa de inflação homóloga em Setembro subiu para 4,6% puxada pelos preços da energia que aumentaram 18,9%. O índice dos preços de produtos agrícolas da FAO atingiu o valor mais elevado em dez anos. Nos EU nos preços registaram em Outubro um aumento homólogo de 4,6% (ver gráfico).
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Fonte |
E no caso dos EU, os maiores aumentos estão a ser registados nos salários mais baixos (ver gráfico).
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13/11/2021
ARTIGO DEFUNTO: O jornalismo de causas como câmara de eco dos áctivismos
Numa peça publicada há dias sobre a área de plantação de eucaliptos, além duma porção de disparates, como habitualmente nestas questões que fazem parte das agendas dos áctivismos esquerdistas, o Público presta-se a ser câmara de eco de uma carta aberta ao governo de oito associações, incluindo a ACRÉSCIMO (uma fachada para um sujeito com uma história de slalom ideológico) e a CLIMÁXIMO (uma sucursal do BE "gerida" pelo genro do Dr. Louçã), além das habituais GEOTA, QUERCUS e ZERO e ainda três outras menos mediáticas.
(Pode ler-se no Corta-fitas a autópsia da peça do Público por Henrique Pereira dos Santos)
12/11/2021
DIÁRIO DE BORDO: A aversão ao risco é um convite ao autoritarismo e uma ameaça à democracia liberal
«A verdadeira ameaça à sobrevivência da democracia não são grandes desastres como a guerra. São perigos comparativamente menores, que na natureza das coisas ocorrem com mais frequência. Isso pode parecer paradoxal. Mas reflita por um momento. Quanto mais rotineiros os perigos dos quais exigimos proteção, mais frequentemente essas demandas surgirão. Se conferirmos poderes despóticos ao governo para lidar com os perigos, que são uma característica comum da existência humana, acabaremos fazendo isso a maior parte ou o tempo todo. É porque os perigos contra os quais agora exigimos protecção do estado são muito mais numerosos do que antes, que provavelmente levarão a uma mudança mais fundamental e duradoura em nossas atitudes em relação ao estado. Este é um problema mais sério para o futuro da democracia do que a guerra.
Surge por causa da crescente aversão das sociedades ocidentais ao risco. Ansiamos por proteção contra muitos riscos inerentes à própria vida: perdas financeiras, insegurança econômica, crime, violência e abuso sexual, doenças, lesões acidentais. Mesmo a pandemia tardia, por mais séria que tenha sido, estava dentro da ampla gama de doenças mortais com as quais os seres humanos sempre viveram. Certamente está dentro da ampla gama de doenças com as quais devemos esperar viver no futuro.
Apelamos ao estado para nos salvar dessas coisas. Isso não é irracional. De certa forma, é uma resposta natural ao notável aumento da competência técnica da humanidade desde meados do século XIX, que aumentou consideravelmente a gama de coisas que o Estado pode fazer. Como resultado, temos expectativas excessivamente altas em relação ao estado. Estamos menos inclinados a aceitar que há coisas que ela não pode ou não deve fazer para nos proteger. Para todos os perigos, deve haver uma solução governamental. Se não houver nenhuma, isso significa falta de competência governamental.
As atitudes em relação à morte fornecem um exemplo notável. Poucas coisas são tão rotineiras quanto a morte. “No meio da vida, estamos na morte”, diz o Livro de Oração Comum. No entanto, as possibilidades técnicas da medicina moderna com financiamento público nos acostumaram à ideia de que, exceto na velhice extrema, qualquer morte por doença é prematura e que toda morte prematura é evitável. Começando como um evento natural, a morte se tornou um sintoma de fracasso social.
Nas condições modernas, a aversão ao risco e o medo que a acompanha são um convite permanente ao governo autoritário. Se responsabilizarmos os governos por tudo que dá errado, eles tirarão nossa autonomia para que nada dê errado. Tivemos uma demonstração espetacular disso durante a pandemia, onde medidas coercitivas com efeitos radicais em nossas vidas foram tomadas por ministros com forte apoio público, mas com mínimo contributo parlamentar. Um ministro me disse há alguns meses que considerava a democracia liberal um instrumento inadequado para lidar com uma pandemia e que algo mais “napoleônico” era necessário. Ele estava fazendo uma afirmação mais significativa do que imaginava. O que quer que se pense sobre isso - e minhas próprias opiniões são bem conhecidas -, sem dúvida, marca uma mudança significativa em nossa mentalidade coletiva.»
When fear leads to tyranny, Jonathan Sumption, ex-juiz do Supremo Tribunal do Reino Unido