Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

17/10/2007

ESTÓRIA E MORAL: O polvo socialista nunca ouviu falar de conflito de interesses

Estória

«Escritório de Vera Jardim e KPMG escolhidos para consultores do TGV
O TGV já tem consultores financeiro e jurídico. Segundo disse ao Jornal de Negócios fonte da Rave, empresa responsável pelo processo de implementação da Alta Velocidade em Portugal, já foi aprovada a escolha da consultora KPMG para a assessoria financeira do projecto, em detrimento da Deloitte e do Banco Efisa, que tinham apresentado proposta.»
(Jornal de Negócios)




O escritório de Vera Jardim é este escritório?

O Vera Jardim é este Vera Jardim?

O Sampaio é este Sampaio?

O Caldas é este Caldas?


Moral

Não basta parecer honesto, é preciso ser honesto.

PS: Um dia, após a fuga do engenheiro Guterres, o doutor Soares escreveu «ao PS fará bem uma cura de oposição ... para livrar-se de um certo oportunismo interesseiro e negocista que o atacou, como musgo viscoso». Não chegou uma cura de oposição. É preciso reenviá-lo de novo para as termas.

16/10/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: «é dizer mal, só por dizer mal»

«É dizer mal, só por dizer mal, e não querer reconhecer a acção positiva do governo» escreveu num email um detractor acidental a propósito dos posts de ontem e de anteontem.

Será? Para não me repetir, peço a ajuda de Camilo Lourenço que adjectivou ontem no Jornal de Negócios as declarações do ministro das Finanças a respeito do OE 2008 como «Batotices». Aqui vai:
«A receita do IRC cresce a 24,8%; a do IRS a 8,6%; a do IVA a 5,5%. Bem acima do PIB!!! As despesas com pessoal da Administração sobem 3,9%. As despesas correntes 3,2%. Os números (Agosto) são do Ministério das Finanças. Apesar destas evidências, o ministro continua a dizer (como fez na 6ª feira, em conferência de imprensa) que a consolidação orçamental está a ser feita, em 80%, pela via contenção da despesa pública.
Nada me move contra o ministro. Pelo contrário, até já o elogiei. Quando chegou, poucos davam alguma coisa por ele. Parecia talhado para o facilitismo. Dois orçamentos depois, Teixeira dos Santos provou que um ministro, para ser eficaz, não precisa de falar grosso. Mas isso não apaga os factos: não fora a espectacular revolução na Administração Fiscal, só teríamos o défice nos 3% lá para finais de 2008 (na melhor das hipóteses).
Onde é que isto nos deixa? Teixeira dos Santos é competente, mas não é anjinho. E, como tal, também faz as suas batotices. Uma delas foi denunciada pelo director deste jornal, no sábado, a propósito da comparação de previsões de crescimento entre Portugal e a União. A outra é apresentar o OE sem dar aos jornalistas quais elementos (sem papéis, não há análise; e sem análise, não há perguntas incómodas). Mas o que mais choca mesmo, ao analisar o OE 2008, é ficarmos com a sensação de que se podia ir (muito) mais longe.»

15/10/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: a coisa está (muito) pior do que a versão oficial faria supor

Secção Insultos à inteligência

Por indesculpável desatenção, quando escrevi o post a ecoanomia presa na armadilha do endividamento e o axioma do lugar do outro e onde ironizei sobre a obsessão governamental de fazer o lugar das empresas e das famílias em vez de reformar a administração pública, etc. , não tinha ainda lido as extraordinárias declarações do ministro das Finanças durante a conferência de imprensa de apresentação do OE 2008:
«uma Economia mais forte depende acima de tudo do esforço dos cidadãos, e não é tarefa do Estado»
Assim dito de repente, faz esquecer que todo o programa de governo, as declarações, as políticas adoptadas, os momentos-Chavéz (copyright do Abrupto) do engenheiro Sócrates, estão fundados na premissa exactamente oposta, ou seja que a economia depende acima de tudo do esforço do estado, e não é tarefa dos cidadãos.

A que se deve a novidade? No mínimo, a um lapsus linguae, ou, para citar Freud, a um desejo inconsciente de sacudir a água do capote, alijar a mochila, agora que se intuiu que o mau tempo não é passageiro e que a carga é muito mais pesada do que o imaginado. No máximo, a uma enorme desfaçatez e a um indesculpável atentado à inteligência dos sujeitos passivos.

No mínimo leva o doutor Teixeira dos Santos 3 chateaubriands e 4 urracas e no máximo leva 2 ignóbeis.

14/10/2007

CASE STUDY: a ecoanomia presa na armadilha do endividamento e o axioma do lugar do outro

O discurso cronicamente optimista do governo sofre uma (breve) pausa com as más notícias do desemprego que teima em não diminuir e as previsões de crescimento do FMI. Concentra-se momentaneamente nos auto-elogios ao milagre do redução do défice, conseguido à custa essencialmente do aumento das receitas fiscais (veja-se a demonstração feita neste post). O discurso certamente voltará, inevitavelmente reforçado e cada vez mais desligado da realidade, em sintonia com a doutrina oficial da «confiança», cuja putativa falta, decorrente das políticas dos governos Durão Barroso e Santana Lopes, segundo a explicação oficial, explicaria a anomia.

Não ocorrerá ao governo que se a causa fosse a falta de «confiança», a confiança já deveria ter regressado depois de 2 anos de poses de estado e de maciças manipulações mediáticas? Não ocorrerá ao governo que, como o próprio reconhece, sendo o problema principal a retracção do investimento, a solução terá que passar pelo seu aumento? Não ocorrerá ao governo que se o investimento for público (TGV, novo aeroporto, etc.), terá que ser financiado directa ou indirectamente com mais impostos e não terá senão um efeito marginal e evanescente na capacidade produtiva? Não ocorrerá ao governo que o aumento do investimento privado interno carece da (inexistente) poupança das famílias (endividadas) ou das decisões de investimento das empresas (endividadas)? Não ocorrerá ao governo que as empresas que produzem para o mercado interno não têm muitas razões para investir dada a retracção do consumo? Não ocorrerá ao governo que a retracção do consumo é o resultado inevitável do elevado nível de endividamento e do aumento das taxas de juro e do aumento do desemprego? Não ocorrerá ao governo que as empresas que produzem para exportação não são suficientemente competitivas, nem na qualidade e inovação, nem nos preços? Não ocorrerá ao governo que, por estas últimas razões, o país não é suficientemente atractivo para investimento directo estrangeiro, a menos que maciçamente subsidiado (por mais impostos)?

Não ocorrerá ao governo que no caminho para a convergência económica, para usar o europês, o seu papel não é fazer o lugar das empresas e das famílias, não é fazer o lugar do outro, é fazer o papel que ninguém poderá fazer por ele? Ou seja numa palavra
encolher:
reformar a administração pública, reduzir o aparelho de estado e a sua omnipresença sufocante, aliviar a burocracia, tornar a justiça eficiente, financiar a saúde e a instrução públicas, administrar o 1.º pilar dum sistema de pensões e pouco mais.

13/10/2007

ESTADO DE SÍTIO: o bombeiro incendiário (2)

No dia 29-07 escreveu-se aqui:

Ao mesmo tempo que, com uma mão, o estado napoleónico-estalinista espolia os sujeitos passivos para financiar abortos, com a outra mão o mesmo estado espolia os mesmos sujeitos passivos para financiar putativos incentivos à natalidade.

Incentivos putativos, apenas isso. Se o governo e a esquerdalhada imaginam que oferecer um aborto que custa em média 800 € aos contribuintes não é um incentivo para banalizar o aborto, como podem os mesmos imaginar que um subsídio que não atinge 800 € pode ser um incentivo à natalidade?


Se há 2 meses o governo do engenheiro Sócrates anunciava subsídios à natalidade, que com enorme boa vontade poderiam ser considerados negligenciáveis, agora no OE 2008 ao anunciar incentivos fiscais às famílias numerosas, o mesmo governo mostra a sua fé nos milagres que a sua engenharia social irá operar. E continua a não perceber que os portugueses, como outros povos, têm cada vez menos filhos por várias razões pelas quais o governo nada pode fazer, e por algumas outras que poderia e tem feito pouco ou, por vezes, o pior possível.

Que tal, para começar, um cheque-infantário/creche com a livre escolha pelos pais da creche/infantário?

12/10/2007

ESTADO DE SÍTIO: ejaculações legislativas aleatórias

Qualquer criatura que consulte o Diário da República aleatoriamente encontrará sempre exemplos da intrusão absurda e abusiva do estado napoleónico-estalinista, episodicamente comandado pelo engenheiro José Sócrates, na vida dos cidadãos. Os dois seguintes não são especialmente significativos, são simplesmente mais do mesmo. Um de emanação bruxelense, outro de inspiração local, ambos publicados no dia 10.

Decreto-Lei n.º 331/2007 de 9 de Outubro
Estabelece as regras a que deve obedecer a promoção e a comercialização de colecção cuja distribuição se realize por unidade ou fascículo

(E o hors collection? Não importa o hors collection?)

Decreto-Lei n.º 333/2007 de 10 de Outubro
Aprova o Regulamento Relativo ao Nível Sonoro à Altura dos Ouvidos dos Condutores de Tractores Agrícolas ou Florestais de Rodas, transpondo parcialmente para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 2006/26/CE, da Comissão, de 2 de Março

(E os passarinhos? Não importam os passarinhos?)

11/10/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: «reposição da verdade»

«Caro Senhor
Só agora "cheguei" a um post do seu blog, em 2005, em que se referia a mim, como uma "fadista sexotérica"(que é isso?), e logo abaixo, refere-se à minha pessoa, como uma candidata drag queen à Presidencia da Republica.
Acontece que essa Valéria, não sou eu!!! E fico extremamente incomodada de ver o meu blog linkado na sua página, como se eu fosse a tal Valéria travesti ou transexual.
Ora, acontece que ,com o devido respeito e até carinho pelos travestis deste país, eu não o sou.Sou unicamente uma pessoa que nasceu com um problema de indefenição genital (hermafroditismo), completamentre resolvido, fisiológica e psicologicamente.
Não escondo nada daquilo que sou(até poderia tê-lo omitido na introdução que faço no meu blog!), assino o meu blog pelo nome que consta no meu B.I.(o mesmo não o poderei dizer de si!), e não posso admitir que devido à sua irresponsabilidade, arraste o meu nome para lamas em que não caminho.
Esperando que apague do seu blog, esse link que "me faz de repente ex candidata à Presidencia", em abono da verdade e do respeito que, creio eu, merecerei, queira aceitar os meus cumprimentos.
Atenciosamente,
Valéria Mendez
Funchal, Madeira
http://www.fadista-valeria-mendez.weblog.com.pt»
Se publico integralmente o email da dona Valéria Mendez do passado dia 9 não é para demonstrar o meu respeito pelas minorias, que não precisa de mais demonstração do que a patente todos os dias no Impertinências em relação à minoria mais minoritária: homens, brancos, heterossexuais, monogâmicos, pais (e avôs) de família, auto-suficientes, livres-pensadores, que não recebem subsídios do estado, nem nunca pertenceram às juventudes partidárias.

A respeito da identidade já esclareci mais de uma vez que assinar «O impertinente» e descrever o blogue como «desalinhado, desconforme, herético, heterodoxo e homofóbico ... fora do baralho e impertinente» diz mais a respeito do proprietário do que se assinasse «António Silva» e descrevesse o blogue como «um lugar de reflexão sobre o mundo e a humanidade, onde escrevo o que me dá na realíssima gana».

08/10/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: o simplex local - mais milagres da regionalização (2)

Um fiel detractor do Impertinências dá dois exemplos pessoais do género de milagres que se poderia esperar em abundância com a devolução de mais funções do estado napoleónico-estalinista para os caciques locais.

O primeiro é uma visita da patroa dele ao viveiro da CM de Lisboa em Belém, para comprar umas verduras para o quintal da família. Depois de falar com meia dúzia de funcionárias que faziam crochet (1) e desconheciam por completo quais as espécies que por lá jaziam, foi encaminhada para a directora do jazigo das verduras, a qual com grande soma de pachorra e tempo disponível a acompanhou numa longa e pormenorizada visita ao jazigo. Tudo para concluir que, querendo comprar as verduras, teria que fazer-se um requerimento explicando as espécies e quantidades desejadas. Depois, se devidamente deferido o bendito requerimento pela hierarquia do viveiro, então o utente seria encaminhado para os serviços competentes no outro lado da cidade, no Campo Grande para pagar as verduras na respectiva tesouraria. Cumprida esta diligência o utente regressaria a Belém para recolher as ambicionadas verduras.

O segundo exemplo é um famigerado Plano de Segurança e Saúde que a CM de Oeiras lhe exigiu (2) para fazer umas carecidas obras lá na casita que comprou. A coisa, preparada por arquitecto, ficou com mais duma centena de páginas que são agora pasto das baratas numa qualquer sala do palácio do marquês de Pombal - este, podendo, ressuscitaria para expulsar à bordoada as centenas de criaturas, comandadas pelo inefável doutor Isaltino, que lhe povoam a habitação.

Entre os inúmeros anexos que o dito Plano inclui, encontra-se a notável peça seguinte relativa aos

TRABALHOS EM COLECTORES DE ÁGUAS RESIDUAIS:

RISCOS:
- Intoxicações pela via respiratória pela presença de gás sulfídrico.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO/PROTECÇÃO:
- Antes de qualquer trabalho que interfira com emissários, é obrigatória a medição e o registo dos índices de gás sulfídrico;
- Em obra, consoante os valores das medições, equacionar-se-ão as medidas de protecção colectiva e individual em conformidade;
- Em todo o caso, é obrigatório o uso em permanência de máscaras eficazes e certificadas contra este gás; (3)
- É também obrigatório o uso e manutenção de botijas de oxigénio perto dos trabalhos. Pode ser necessário o uso de botijas de oxigénio em simultâneo com as máscaras;
- A Entidade Executante deverá ter um registo do número de horas diárias que os trabalhadores gastam em trabalhos que interfiram com o emissário. É de prever pausas de 10 a 15 minutos por cada hora de trabalho contínuo.
(4)


NOTAS:
(1) É uma boutade. Tagarelavam simplesmente. Antes fizessem naperons.
(2) A ele e a todas as pobres criaturas que se lembram de pedir um licenciamento duma obra e esperam um ano ou mais para fazer uns trabalhos que poderiam começar no dia seguinte, pagando um emolumento aos fiscais e (com azar) uma coima à excelentíssima câmara.
(3) Segundo o fiel detractor, nenhum dos infelizes que por lá trabalharam na obra foi portador dum simples capacete, quanto mais duma máscara para evitar o cheiro a flatulências.
(4) Estas pausas foram as únicas medidas de prevenção/protecção que os infelizes operários cumpriram religiosamente, mesmo sem interferência com o emissário.
(5) Faço saber que não sou contra a descentralização. Antes pelo. Só que. Um dia explico.

07/10/2007

SERVICE PUBLIQUE: bel exemplaire au dos muet

La critique de l'Escole des femmes de Molière, édition Livres & Autographes
Suivant la copie imprimée, Paris, 1674.
Deuxième édition elzévirienne (Tchemerzine).
Format : 8 sur 14,5 cm.
48 pages.
Reliure plein vélin doré.
Dos muet.
1 rousseur marginale sur 3 feuillets.
Bel exemplaire.
550 €

06/10/2007

CASE STUDY: de candeia às avessas (3)

Não é só em matéria de economia, nem só de agora, que andamos de candeia às avessas. É uma longa tradição que pode ter começado com o Fundador (andou de candeia às avessas com a mãe, a tia e os primos), e continuou pelos séculos. Para não recuar mais, lembro o caso do salazarismo, também chamado fassismo pela esquerdalhada, que durou mais 30 anos do que os regimes nacional-socialistas europeus, e recordo o notório assincronismo que os nossos pêndulos políticos têm apresentado desde então - quando os EU e a Europa basculam para o centro-direita nós basculamos para o centro-esquerda e vice-versa.

Deve haver uma causa que explica esta singular tendência. Quando descobrir voltarei ao assunto.

04/10/2007

CASE STUDY: de candeia às avessas (2)

Não é só a grafonola do Impertinências que não toca música dos amanhãs que cantam composta pelo engenheiro Sócrates (ultimamente entretido a desempenhar o papel que atribuiu a si próprio de grande líder mundial). A Standard & Poors também parece partilhar do cenário que ontem aqui se traçou sobre o abrandamento do crescimento europeu e a adiada aceleração da economia portuguesa. Enquanto do ministro Teixeira dos Santos «acredita» que o PIB crescerá 2,4% no próximo ano, Jean-Michel Six diz que a S&P «projecta» um crescimento para 2008 que será o mesmo previsto para 2007, ou seja uns modestos 1,9%.

Em conclusão, eu diria mesmo mais:

  1. Parece estar a chegar ao fim o período de recuperação da Europa continental, que não chegou a ser suficiente para acelerar o anémico crescimento da economia portuguesa;
  2. Em contra-ciclo, outra vez, com quase todos os mesmos problemas de sempre.

03/10/2007

CASE STUDY: de candeia às avessas (1)

«Mulheres-a-dias, trabalhadores de ONGs, prestadores de serviços a empresas e os serviços financeiros são das poucas áreas em que a oferta de emprego aumentou, no segundo trimestre, em Portugal. Ou seja, mais transacção e especulação, mas menos produção. Os dados relativos à criação de riqueza e de emprego mostram que Portugal é cada vez mais uma economia de pequenos serviços, pequeno comércio, de negócios financeiros e de tantos outros que giram em torno do fenómeno imobiliário, mas tem vindo a perder a base industrial. Fruto de um novo paradigma de concorrência global, que ditou o esvaziamento dos sectores tradicionais (têxtil e calçado, por exemplo), mas também da carência de trabalhadores com médias e altas qualificações e iniciativas empresariais inovadoras, o país conseguiu, o feito inédito de ultrapassar Espanha... no nível de desemprego. A reconversão do tecido empresarial começou tarde, evolui muito lentamente, continua a viver de actividades pouco produtivas, e defronta-se agora com um inesperado obstáculo: o maior custo no acesso ao crédito decorrente da crise que abala dos mercados financeiros, que vai atrasar os novos (bons) investimentos e os empregos do futuro, confirmam diversos economistas.

Apesar do baixo crescimento do produto, e do emprego estar, em média, estagnado desde 2002, há áreas que estão a criar postos de trabalho. O que podia ser positivo. Mas que não é. Segundo o INE, as áreas que mais empregos criaram no segundo trimestre – período marcado por uma destruição de emprego de 0,5% a nível nacional – foram as actividades com empregados domésticos e as actividades de produção para uso próprio, os chamados outros serviços, com um crescimento de 11% face ao período homólogo. Logo a seguir, as actividades imobiliárias e os serviços prestados às empresas, que cresceram 10%. Nesta categoria caem serviços tão diversos quanto o aluguer de veículos, actividades informáticas, jurídicas, de contabilidade, de consultoria de gestão, segurança, limpeza industrial, embalagem, secretariado, organização de feiras, etc. Em terceiro lugar, figuram os serviços financeiros, com uma criação de emprego de 4%.

Francisco Van Zeller, presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP), confirma que “só há criação de emprego digna desse nome nas áreas onde o valor acrescentado é mais baixo, não nos sectores de alta tecnologia ou de grande especialização pois ainda não há suficientes pessoas com essas qualificações, veja-se o caso dos engenheiros, nem investimentos à escala”. “Assim a criação de emprego assenta essencialmente nos serviços às empresas, limpezas, áreas comerciais e de vendas, no marketing, nos estudos de mercado”, junta. “As pessoas, mesmo as mais qualificadas como os antropólogos, os licenciados em jornalismo, em história, em literatura, ou não encontram emprego ou estão a aceitar trabalhos mal pagos”, ilustra o líder da CIP.
»
(Por que sobe o desemprego e em que profissões, Luís Reis Ribeiro no DE)

Em conclusão:
  1. O emprego tem sido destruído nos sectores de bens e serviços transaccionáveis que estão sujeitos à concorrência do mercado global;
  2. O pouco emprego que tem sido criado é nos sectores de bens e serviços não transaccionáveis e grande parte desse emprego tem sido emprego para emigrantes, que são os únicos dispostos a aceitá-los;
  3. Enquanto o coração económico da Europa continental atravessa um período de recuperação, com o desemprego a descer abaixo dos níveis históricos das últimas 2 décadas, Portugal começa a mostrar tímidos sinais de retoma no que pode ser o final desse curto período;
  4. Em contra-ciclo, uma vez mais, com quase todos os mesmos problemas de sempre.
NOTA: «de candeia às avessas» foi o nome duma coluna de Vasco Pulido Valente há uns anos n'O Independente, usado talvez para designar a sua incorrigível veia queirosiana. Uso a expressão aqui para nomear esta singularidade lusitana que consiste andar sempre ao contrário da vizinhança. Voltarei ao tema.

02/10/2007

TRIVIALIDADES: geometria fractal - Flame Fractals

[Auroral Spiral by rajah]















(Confissão: ou isto ou abordava o momentoso tema de qual dos doutores luíses conviria mais ao engenheiro Sócrates - o que desacreditará ainda mais o PSD, ou o que se desacreditaria ainda mais a si próprio)

30/09/2007

SERVIÇO PÚBLICO: da discussão nasce a luz (se a lâmpada não estiver fundida)

Embora correndo o risco de ser triturado pelo blasfemo jcd (eu andava a cogitar com os meus botões que o meu próximo carro seria um Prius), resolvi fazer uma boa acção (de boas intenções ...) e vir em socorro do operador incumbente de energia eléctrica (mais um pecado) que anda a distribuir lâmpadas de baixo consumo.

Segundo as dicas rapidinhas para o MarketWatch de Jennifer Openshaw, as lâmpadas fluorescentes compactas de baixo consumo são uma opção economicamente preferível às incandescentes convencionais. Aqui fica o resumo.




29/09/2007

CASE STUDY: a propósito de The Bourne Ultimatum

O cinema americano mainstream começou por mostrar a CIA, nas décadas de 40, 50 e 60, como uma agência patriótica que defendia os interesses dos EU por meios discutíveis, mas em geral aceitáveis nas circunstâncias. Nos finais da década de 60 e princípios da década de 70, a emergência contestatária dos baby boomers, pouco dispostos a seguir o exemplo dos seus pais e ainda menos a morreram no Vietname, foi o primeiro sinal da perda confiança dos americanos nas suas instituições. O episódio Watergate com a posterior resignação de Nixon foi o momento de viragem na opinião pública. Os meios liberais (esquerdistas pelos padrões europeus) tornaram-se especialmente cínicos a respeito do governo. A CIA, segundo esses meios, era uma organização sinistra que com eficácia aterradora organizava assassinatos, financiava e apoiava golpes de estado, mantinha no poder ditadores cruéis e corruptos, e nos intervalos fazia lavagens aos cérebros do seu pessoal e espiava e interferia na vida dos cidadãos americanos, apesar disso estar fora da sua missão.

Entretanto Hollywood, infestada pelos liberais, produzia dezenas de filmes mostrando duma forma ultra-fantasiosa essa aterradora eficácia da CIA, só contrariada pela acção de um insider (e, às vezes, de alguns outsiders) que heroicamente denunciava à imprensa, ou ao único officer impoluto sobrevivente, as maquinações ilegais de personagens funestas para protegeram as conspirações do director da CIA, do presidente ou dum seu adviser.

Muitas dessas actividades sinistras ficcionadas por Hollywood podem ser, e são, prosseguidas pela CIA, como pelas outras agências de espiões (seria oportunismo comparar a CIA com a NKVD e o seus sucessores KGB, do qual foi officer Vladimir Putin, e a SVR, manobrados por cordéis cujas pontas estão no Kremlin). O que parece ser puro domínio da ficção é essa putativa eficácia porque, em boa verdade, a CIA tem falhado em toda a linha desde a sua criação. Para citar apenas alguns dos seus falhanços mais clamorosos:
  • Em 1949 não antecipou a primeira bomba atómica soviética em 1949
  • Em 1950 não previu a invasão chinesa da Coreia do Sul
  • Foi surpreendida pelas revoltas anticomunistas na Alemanha de Leste em 1953 e na Hungria em 1956
  • O fiasco da Baía dos Porcos em 1961
  • Passaram-lhe ao lado os mísseis soviéticos para Cuba em 1962
  • O tiro no pé com o golpe de estado do partido Bath no Iraque em 1963
  • Não previu a guerra israelo-árabe de 1967
  • Foi surpreendida a invasão do Kweite em 1990
  • Não detectou nenhum dos preparativos para o atentado WTC em 2001, apesar das inúmeras pistas.
É claro que Hollywood apresentasse a CIA como uma agência essencialmente incompetente isso seria mais ridículo do que ameaçador.

28/09/2007

CASE STUDY: a quantidade de vitualhas é limitada

Luís contra Luís - dois luíses uma só luta
O que evidencia a crise do PSD? O costume. O afastamento do poder é a travessia do deserto para o PSD, como para o PS. À medida que a caravana se afasta do oásis da última passagem pelo governo, aumenta perigosamente a desidratação, desfalecem criaturas, falecem outras, começam as alucinações colectivas, chegam as miragens.

E porquê? Porque, como já muitos disserem e vários escreveram, a presença no governo, importante para todos os partidos, é o oxigénio que respiram os nossos partidos do arco do poder (que raio de expressão). Sem essa presença, não há mordomias nem sinecuras para distribuir, enfraquece a fé e desertam os fiéis. Durante as travessias do deserto sobrevive (mal) o aparelho, dividido por lutas fratricidas na disputa das poucas migalhas que caiem da mesa do orçamento.

Por isso, o fortalecimento do partido no governo, que incha à custa do fortalecimento da enfraquecida fé dos cristãos velhos e da recém-adquirida fé dos cristãos novos revigorada pelas vitualhas que a ocupação do aparelho de estado lhes proporciona, só pode fazer-se à custa do enfraquecimento do partido da oposição, que emagrece irremediavelmente, sem cristão novos e com a deserção en masse dos cristãos velhos.

É preciso esperar pelo cansaço dos eleitores, ele próprio também dependente do esgotamento das vitualhas do orçamento, e pelos primeiros sinais de desgaste do governo para os fiéis do partido da oposição vislumbrarem o longínquo oásis. Nessa altura, o líder de serviço, ou um dos seus challengers, sofrerá uma metamorfose, terá uma visão, e conduzirá as hostes à partilha dos despojos deixados pelo governo anterior.

Foi assim, é assim e assim será. Não há milagres. Levou séculos para chegar aqui, levará gerações para sair daqui. É mau? Já foi pior.

27/09/2007

ESTÓRIA E MORAL: Mugabe & Ahmadinejad contra os "brutos" ocidentais

Estória
«Os presidentes do Zimbabwe, Robert Mugabe, e do Irão, Mahmud Ahmadinejad, planeiam criar uma "coligação para a paz". Os dois chegaram a essa conclusão num encontro à margem da Assembleia Geral da ONU que decorre em Nova Iorque. Acusados pelos EUA de dirigirem "regimes tirânicos", Mugabe e Ahmadinejad terão sentido a necessidade de se unirem contra os "brutos" ocidentais.» (no DN)

Moral
Les bons esprits se rencontrent.

25/09/2007

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: milagres da regionalização

Com um atraso pantagruélico para os padrões online, aqui se publica o recorte do Correio do Minho de 18 de Maio sobre os prodígios gastronómicos d'Os Telhadinhos de Ponte de Lima, enviado pelo detractor habitual JARF.

[Clique para ver aumentar o prodígio]

23/09/2007

BLOGARIDADES: um sistema aberto não é um sistema fechado

Não é a primeira vez que Pacheco Pereira se revela desconcortável com a vulgaridade dominante na Web, na blogosfera e em especial no centro geométrico das blogaridades que é a bloguilha. Desta vez é mais evidente do que o costume. Refiro-me ao post ESTA' A INTERNET A MATAR A NOSSA CULTURA? publicado no dia 12 - já com barbas pela bitola da blogosfera.

Nesse post JPP faz eco do livro de Andrew Keen «The cult of the amateur» que tem como subtítulo o título do seu post. Esclareço que não li o livro, nem prevejo que venha a lê-lo, a não ser que a prosa resista 10 anos. Adoptando (com reservas) algumas das angústias de Keen, JPP conclui preocupado não saber «até que ponto se encontrará um qualquer equilíbrio que trave o lixo demagógico que hoje enche tudo impante da sua nova voz tecnológica e salve a "nossa cultura", mas não posso, em nome dessa mesma "cultura", deixar de valorizar o acesso de milhões à porta de um mundo em que habita o "espírito", mesmo que assustado com tanta confusão.»

Não se vê motivo para tamanha preocupação. Pelo contrário, a pletora de amadores na Web, um fenómeno natural resultante da banalização da internet, constitui uma evolução desejável de vários pontos de vista e reflecte a extensão duma literacia que umas décadas atrás estava reservada a elites, frequentemente decadentes e quase sempre cooptando-se no interior das suas capelas bafientas. Essa literacia é visível até na bloguilha onde milhares de portugas discorrem num português escorreito (*) e, frequentemente, com pertinência (ocorre-me agora que este blogue se chama Impertinências) sobre os mais variados temas. Pode não ser uma academia, mas é um fórum bastante ventilado onde se confrontam ideias. É um mercado de ideias, onde da quantidade se pode depurar a qualidade, como em quase tudo.

Das centenas de milhar de miúdos e praticantes de todas as idades - amadores - que com mais ou menos jeito chutam bolas em becos e campos pelados, podem surgir Figos e Cristianos Ronaldos e, pasme-se, até Mourinhos. Dumas centenas de criaturas em inbreeding, que vivem num raio de 10 quilómetros com centro no Estoril, que frequentaram os mesmos colégios, que vão às mesmas missas, que treinam uns com os outros, podem surgir uns outros amadores, uns Sousas Uvas, que episodicamente fazem um brilharete no râguebi. Não mais do que isso.

Que a qualidade sobrevive sem dificuldade à quantidade poderia deduzir-se do facto do Abrupto (que certamente JPP considerará um paradigma dos blogues) resistir tão bem à concorrência que até está entre os mais visitados da bloguilha. Não fosse a concorrência tão numerosa e o Abrupto teria muito menos freguesia.

(*) Há excepções. Algumas nelas notáveis, como o maradona que escreve com imensos erros por diletantismo, presumo.

20/09/2007

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: está por um fio

Para quem imagina a Turquia na EU como o cavalo de Tróia do islamismo e antevê as nossas mulheres todas cobertas por véus, é melhor mudar de ideias e não desvalorizar as turcas. Em ajuda desta antítese vem o Economist (provavelmente a melhor revista de economia, finanças e outras miudezas) esclarecer-nos sobre as preocupações das luminárias islâmicas:
«Nowadays, the Islamic intelligentsia seems less preoccupied with the veil than with whether it is appropriate for pious female Muslims to wear G-string knickers - because, as one luminary has opined, "they keep women in a permanent state of sexual arousal".»

16/09/2007

CASE STUDY: Bambi e The Joker, separados à nascença

Prima para ver em grande

DIÁRIO DE BORDO: se não fosse a ameaça das verrugas e do pé-de-atleta...

... deixava cair a corrente milagrosa lançada pelo fassista do Portugal Contemporâneo, que me chegou através doutro fassista d'O Insurgente, sob a forma do desafio: «enuncie dez características que, em sua opinião, separam e distinguem a nossa direita partidária (PSD e CDS) do PS e do governo».

Não é um desafio. Dez distinções é uma missão impossível. Em todo o caso, ocorrem-me as seguintes:
  • O primeiro ministro benze-se e a direita ainda não ergue o punho;
  • O líder do PSD percorre o circuito da carne assada aos beijinhos às mulheres de bata e o líder do PS faz o circuito das escolas a distribuir portáteis e a bajular os adolescentes («estás porreiro, pá?»);
  • A direita defende a redução da carga fiscal hic et nunc e o governo diz que só para o ano;
  • O PS pensa que é melhor não referendar o tratado europeu e diz que está a pensar nisso e a direita está a pensar nisso e diz que ainda não sabe se é melhor referendar.
Por agora não me ocorre mais nada. Haverá outras? Ignorabimus. Volto cá se me lembrar de mais. E quanto a continuar a corrente, no way.

15/09/2007

ESTÓRIA E MORAL: momento zen nacional

Estória

O Felipão falhou escandalosamente um murro nas ventas dum qualquer sérvio que, diz ele, chamou nomes à família Scolari. Foi censurado pelo falhanço? Foi condenado por não ter tentado um pontapé nas partes do ofensor? Foi demitido por não ter feito uma espera ao biltre à saída do estádio, como costumam fazer os adeptos do FêCêPê aos árbitros que não comem a fruta do Pintinho? Não, não e não.

Foi censurado pelo doutor Laurentino, um senhor secretário de estado do desporto que usa um capachinho, e que falou com grande pompa e circunstância, não se sabe se na qualidade de secretário se de adepto do futebol, sobre atitudes e comportamentos e bla bla.

Foi censurado pelo senhor presidente da república que viu a coisa do seu «sofá» como «um gesto lastimável»

Até aquela menina jornalista que, dizem, namora o senhor primeiro ministro veio escrever, possivelmente em sua substituição, ocupadíssimo com o plano tecnológico a distribuir portáteis aos meninos nas escolas, que ficou «varada com o upper cut falhado», deixando-nos na angustiante dúvida sobre se a vara se deveria a achar que teria sido melhor um jab de esquerda em vez dum upper cut de direita ou pelo falhanço, tout court.

Vou iniciar aqui e agora uma corrente de solidariedade e organizar um jantar de desagravo ao mister.

Moral

Quem não se sente não é filho de boa gente

12/09/2007

SERVIÇO PÚBLICO: antes a morte que tal sorte

As vítimas dos escombros dos paraísos socialistas batem os privilegiados do estado providência.

10/09/2007

CASE STUDY: leis duras e prática mole

Ele sabia do que falava
Este país pode ter, e tem, défices crónicos de diferentes naturezas. Por exemplo, défice orçamental, défice de literacia, défice de diligência, défice de vergonha, entre muitos outros.

Este país não tem um défice de legislação. Veja-se o exemplo recente da baderna na noite tripeira. Por acaso na noite tripeira, como podia ser na alfacinha, ou na do All Garbe. Segundo o Expresso «21 diplomas legislam sobre os bares e as discotecas». Se Filipe II de Espanha, I de Portugal, ainda fosse vivo diria, uma vez mais, que as leis em Portugal são duras, mas a prática é mole.

E porquê? Ora porque é mais fácil ser-se advogado, jurista, deputado, ou ministro, do que polícia (e muitas outras coisas).

08/09/2007

DEIXAR DE DAR GRAXA PARA MUDAR DE VIDA: os cemitérios estão cheios de insubstituíveis

Imaginemos um país onde os mercados de capitais funcionassem normalmente, digamos. Supunhamos que uma das empresas com maior capitalização bolsista estivesse cotada há 7 anos acima dos 5,40, e captado aos accionistas milhões de euros em diversos aumentos de capital, e quatro anos depois estivesse cotada a pouco mais de 1,90. Decorrido outros três anos, ainda vacila na região dos 3,30.

Consegue-se imaginar que esse país venere como o maior gestor financeiro do planeta uma criatura que liderou essa empresa destruindo 2/3 do valor detido pelos seus accionistas nos quatro anos de 2000 a 2004?

Consegue-se imaginar que esse gestor seja apoiado por fracção significativa dos accionistas a quem destruiu valor para continuar a decidir os destinos dessa mesma empresa?

Consegue-se, se souber que esse país é Portugal, que a empresa é o Millenium bcp e que uma parte significativa dos accionistas são clientes do banco e lhe devem dinheiro (com parte do qual aliás compraram as suas accções), e que parecem dispostos a apoiar o do engenheiro Jardim Gonçalves na sua entronização vitalícia na liderança do Millenium bcp, ainda que por interposto procurador.

07/09/2007

ESTADO DE SÍTIO: a mão visível

Afastada, desde a queda do muro de Berlim, das opções de política económica praticáveis na Europa a intervenção directa do estado na economia via nacionalização, o segundo modelo mais pernicioso de intervenção estatal ainda ao dispor dos governos dirigistas é a política de subsídios com que os governos arruínam o funcionamento do mercado a pretexto de o melhorarem ou, como agora é o caso, de lhe diminuírem os efeitos indesejáveis nas classes mais desfavorecidas.

O montante dos subsídios que o governo atribui é por isso um bom indicador do grau de dirigismo económico e, consequentemente, da irremediável ineficiência na utilização dos recursos. É a este título muito esclarecedor da política económica praticada pelo governo socialista do engenheiro Sócrates que o montante das eufemisticamente chamadas «indemnizações compensatórias pela prestação de serviços públicos» tenha aumentado 6% em 2007. É também esclarecedor que o facto seja anunciado orgulhosamente pelo secretário de estado do Tesouro e Finanças e que do aumento do bolo orçamental, as empresas públicas, que é suposto prestarem o mesmo serviço em concorrência que as empresas privadas, se aboletaram com 90%.

Pode o governo anunciar as reduções do défice que lhe aprouver, à custa do aumento da carga fiscal, que isso nada contribuirá para a competitividade da economia e para o progresso do país, enquanto continuar a entropiar os mercados com a sua pesada mão visível.

06/09/2007

LA DONNA E UN ANIMALE STRAVAGANTE: para quem gosta de gajas de todas as idades do homem



Three-minute video created by EggMan

[enviado por JARF, um notório apreciador de gajas]

ESTADO DE SÍTIO: frase assassina

«A meio do ciclo político deste Governo, se o país está cansado, o Governo está exausto, com excepção do primeiro-ministro, para quem governar tem uma parecença próxima com o jogging, com as vantagens e os defeitos de uma actividade que não se caracteriza por ter um destino, mas sim um trajecto.»
(PÔR OS PÉS NA TERRA, no Abrupto)

02/09/2007

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: é muito injusto

O que terá levado a IAU a aprovar, fez agora um ano, critérios que rebaixaram Plutão ao nível dum qualquer calhau perdido no espaço? Ainda por cima um planeta que, não sendo grande (concedo, é pequenino, mas muito jeitoso), até tem 3-luas-3 uma das quais é uma bela duma lua que se pode ver ao longe.

Não concordo!

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: a nova encarnação do doutor Portas na Web 2.0

Secção Insultos à inteligência

Depois de ter sido sucessivamente o Paulinho da Feiras eurocéptico e uma figura de estado eurófila, a criatura entrou em reflexão sabática, espécie de casulo donde saiu a mariposa dum líder renovado com novo penteado, nova dentição, novo sorriso e novas propostas políticas que ultrapassam o engenheiro Sócrates pela esquerda.

No segundo dos 3 tubes que publicou da série «Há um caminho», o doutor Portas 2.0 preocupa-se com as taxas de juros e o silêncio do governo e do ministro anexo doutor Constâncio e promete dedicar os seus múltiplos talentos e «usar todos os meios do novo regimento da assembleia da República para que este tema, o crescimento económico, a questão dos juros e como limitar os danos para as famílias que estão endividadas e que têm crédito, nomeadamente para compra de habitação, esteja no centro da agenda política». Uns minutos atrás ficou uma contraditória declaração de fé na independência do BCE e nos impulsos intervencionistas do presidente Sarko.

É a demagogia em todo o seu esplendor. É isto que a direita portuguesa tem para oferecer no mercado das ideias.

Quatro bourbons para o doutor Portas por não conseguir deixar de seguir a sua natureza de farsante e três chateaubriands se acredita no que diz ou, em alternativa, quatro ignóbeis no caso contrário.

01/09/2007

CASE STUDY: série reis de África (18 and last, but not least)

Sua Majestade GOODWILL ZWELETHINI, King of Zulu, South Africa
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

31/08/2007

DIÁLOGOS DE PLUTÃO: não há bem que sempre dure, mas há mal que nunca acaba (pelo menos desde o século XVI)

- Lembras-te que há anos me falas que a Espanha não sei quê, que os espanhóis não sei que mais?
- Não estou a perceber.
- Pois, que o PIB espanhol cresce 3 ou 4 por cento, que o orçamento tem um superavit, que os espanhós fizeram as reformas, etc.
- Ah, sim! Lembro-me. No es verdad?
- Talvez tenha sido verdade. Ou tem sido verdade. Prepara-te para a má notícia.
- E qual é a má notícia?
-Que «a Moody's e a Standard and Poor's, as maiores agências mundias de rating, coincidem quanto à advertência de que o milagre económico espanhol impulsionado pelo consumo interno poderá conhecer "um final abrupto"» diz aqui o Diário Económico. Como vês não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe, diz o povo e com razão.
-Hombre, mas nós já tivemos o final abrupto com 7 anos de avanço e nunca chegámos a ter os 3 ou 4 por cento de crescimento, o superavit, e as reformas.
-Desisto. Não há nada a fazer contigo.
[Inspirado numas conversas que eu cá sei, com um amigo que eu sei que ele sabe que eu sei, como disse uma vez aquela marmota do CDS ao Paulinho das Feiras]

30/08/2007

BREIQUINGUE NIUZ: tem o ministro toda a razão

Respondendo às críticas da oposição desconstrutiva (1) que o censuraram pela falta de segurança a propósito duma qualquer rixa, o recém-ministro da Administração Interna, vindo duma passagem fugaz pelo Tribunal Constitucional, deu à oposição o merecido troco à saída da reunião semanal do Conselho de Ministros garantindo que «Portugal dispõe de 50 mil membros das forças de segurança. Dá um rácio dos melhores da Europa e do mundo».(Público)

Tem o ministro toda a razão e se o digo é para mostrar que não é verdade:

  1. que a oposição tenha sempre razão
  2. que o Impertinências só dá com o pau no governo.
E para demonstrar a razão do ministro cito (2), duma só vez, 3 fontes com grande credibilidade (3):
«Segundo os números do Pocket World in Figures citado por Pedro Arroja ... o estado português é o 4.º mais policiado do mundo. É um estado policial, por assim dizer.

Total police personnel per 100.000 pop.
1. Mauritius 756
2. Italy 560
3. Barbados 516
4. Portugal 491

Portugal tem mais polícias por 100.000 habitantes do que o Casaquistão, que é o 7.º com apenas 464.»
Há uma interessante questão que fica, por agora, pendente que é saber onde se encontram tantos polícias que não aparecem quando são precisos.

NOTAS:

(1) Fica de fora o hipotético futuro líder doutor Menezes, que deixou claro, a respeito do tema que agora me ocupa, não ser «dos que fazem discursos permanentes de "bota abaixo"»;

(2) Nesta altura aproveito para marcar as minhas diferenças em relação a doutor Menezes, recentemente acusado de plágio. Aproveito também para esclarecer que, se há coisa que o doutor Menezes não faz, é copiar quem quer que seja. Ele é único.

(3) Por ordem de credibilidade: o Impertinências, o doutor Arroja e o Economist.

29/08/2007

CASE STUDY: quanto mais, menos

Lost in data migration

No Japão, um país com a indústria electrónica mais avançada do planeta, o serviço de segurança social não consegue relacionar 50 milhões de registos de pensões com os contribuintes entre os quais se encontram 14 milhões que nunca foram registados no sistema informático (ver aqui, por exemplo).

28/08/2007

ESTADO DE SÍTIO: como os deputados se vêem a si próprios

Algumas alterações ao Estatuto dos Funcionários Públicos, perdão dos Deputados, introduzidas por uma das últimas ejaculações legislativas da assembleia da República (Lei n.º 43/2007 de 24 de Agosto):

Artigo 8.º Perda do mandato
1 - ...
2 - Considera-se motivo justificado a doença, o casamento, a maternidade e a paternidade, o luto, força maior, missão ou trabalho parlamentar e o trabalho político ou do partido a que o Deputado pertence, bem como a participação em actividades parlamentares, nos termos do Regimento.
3 - ...
4 - Em casos excepcionais, as dificuldades de transporte podem ser consideradas como justificação de faltas.

Artigo 15.º Outros direitos

1 - ....
2 - Ao Deputado que frequentar curso de qualquer grau de ensino, oficialmente reconhecido, é aplicável, quanto a aulas, exames e outras prestações de provas académicas e científicas, o regime mais favorável de entre os que estejam previstos para outras situações.

27/08/2007

ESTÓRIAS E MORAIS: o papagaio fidelista

Estória

En Cuba, un niño regresa de la escuela a su casa, cansado y hambriento y le pregunta a su mamá:
-"Mamá, que hay de comer?"
-"Nada, mi hijo."
El niño mira hacia el loro que tienen y pregunta:
-"Mamá, por qué no loro con arroz?"
-"No hay arroz."
-"Y loro al horno?"
-"No hay gas."
-"Y loro en la parrilla eléctrica?"
-"No hay electricidad."
-"Y loro frito?"
-"No hay aceite."
El loro contentísimo gritaba:
-"¡¡¡VIVA FIDEL!!! ¡¡¡VIVA FIDEL!!!"


Moral

Cada um tem os admiradores que merece.

[Estória enviada por JARF]

25/08/2007

CASE STUDY: série reis de África (17)

Sua Majestade EL HADJ MAMADOU KABIR USMAN, Emir of Katsina, Nigeria
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

24/08/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: não há cura para esta maleita

Secção Still crazy after all these years

«O dirigente do PCP Vasco Cardoso acusou hoje o Governo de ser "o campeão" não só do desemprego mas também da precariedade, alegando que em Portugal um em cada quatro trabalhadores não tem um vínculo laboral. "Em vez da prometida criação de 150 mil postos de trabalho assumida pelo PS durante as últimas eleições legislativas, o que se verifica é que o número de desempregados cresceu desde a tomada de posse do Governo, de 399.300 para os actuais 440 mil", criticou.» (Público)

É inesgotável a minha admiração pela capacidade dos comunistas não aprenderem nem esquecerem nada. Será que estas criaturas não entendem que uma das causas do que eles chamam de «precariedade» é o excesso de garantias de emprego para toda a vida? É a função zingarilho em plena acção: quanto mais garantias mais desemprego. Não percebem que os pais dos recibos verdes são os «vínculos laborais» mais duradouros do que os casamentos pela santa madre igreja?

Não entendendo estas trivialidades, não espanta que as criaturas imaginem que o governo cria «postos de trabalho». Quanto muito, mais emprego a adicionar aos 750 mil utentes da vaca marsupial pública.

É por isso que também não espanta que levem com mais 4 bourbons e 4 chateaubriands. E agradeçam ao branco Cunha Martins 2006 (que ainda me está a amaciar o fígado) não levarem uns quantos ignóbeis.

23/08/2007

DIÁRIO DE BORDO: apesar do final de bom nível, com frutos secos e uma pequena sensação tostada

Pode faltar-me a inspiração, o talento e o tempo, por esta ordem, mas não me faltam temas para tratar aqui no Impertinências. Tenho uma lista de espera maior do que a das operações às varizes nos hospitais civis. A única forma de reduzir a lista é esperar que o tema perca a oportunidade - o equivalente à morte dos utentes varicosos.

Hoje é um daqueles dias. Olho para a lista transbordante de temas desafiantes e nada. Nem um clique. Em desespero, recorro à receita do casal Quevedo, magnanimamente dada a conhecer aos leigos na Atlântico, onde escreveram sobre as eleições para a cama (?) de Lisboa.

Fui a correr ao Carrefour, vasculhei as prateleiras, desencantei o branco Cunha Martins 2006, impacientei-me enquanto a botelha arrefecia no congelador, na companhia duma água das pedras, sentei-me, relaxei, saboreei.

«Com 13% Vol tem uma bonita cor amarelo-citrino de leve concentração. No nariz, apelativo e nada tímido mostra aromas de maçã Golden, relva e um toque tropical de manga a dar uma boa entrada. Nota-se ainda com o passar do tempo no copo um ligeiro aroma de manteiga que traz alguma complexidade.

Na boca, embora de estrutura ligeira, não é um vinho apenas citrino e refrescante, pois nota-se alguma profundidade aromática, onde a madeira está muito discreta, mas fez o seu papel. Tropical, maçã e ananás, ligeiramente doce embora com a acidez presente. O final é de bom nível, com frutos secos e uma pequena sensação tostada.

Um vinho claramente bem feito, excelente para o preço e que para quem tiver paciência que perca algum tempo com ele, apreciando-o, pois não é mais um branco de verão.
»

[no Vinho da Casa, de Paulo Miguel Silva, um jovem de 23 que só consegue escrever coisas como estas, que um cidadão comum só pode aspirar aos 40 anos, à custa de muito estudo dos cunhas martins e doutras honradas famílias].

Perdi tempo com ele, apreciei-o, vi-lhe o amarelo-citrino, cheire-lhe os aromas nada tímidos de maçã e de relva, dei-lhe uma boa entrada. Só o final me desiludiu. Nicles. A inspiração foice. Foice? Será foisse? Xente, estes 13 degraus acabarão cumigo. Ceria da ágoa das phedras?

22/08/2007

SERVIÇO PÚBLICO: as brincadeiras dos filhos da burguesia berloquista (3)

Destaque para a competente desmontagem que o Abrupto leva a cabo aqui e aqui da limpeza ética que os verdeufémios e os gaias estão a realizar nos seus sites para se inocentarem da delinquência de Silves.

Azar o deles. Estaline pode ter mandado queimar os livros de história, mas estas criaturas não conseguirão apagar o seu passado da Web.

CASE STUDY: série reis de África (16)

Sua Majestade SALOMON IGBINOGHODUA, Oba Erediauwa of Bénin, Nigeria
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

20/08/2007

SERVIÇO PÚBLICO: as brincadeiras dos filhos da burguesia berloquista (2)

As brincadeiras dos filhos da burguesia berloquista subsidiadas pelo estado napoleónico-estalinista governado pelo engenheiro Sócrates.
«A página do Governo (citada em baixo) onde se apelava à participação na Ecotopia foi retirada de linha. (Muita coisa aconteceu neste domingo moroso...) Isto não isenta a responsabilidade do Governo na sua existência, e no compromisso que ela traduz. Falta também saber se o Governo subsidiou directa ou indirectamente a Ecotopia e porque razão os meus impostos servem para pagar estas palhaçadas. Sim porque a leitura dos documentos da Ecotopia não enganam ninguém na mistura de causas radicais, new age anti-cíentifico, misturado com um clima de utopia de acampamento com "democracia directa".» (Abrupto)

19/08/2007

ARTIGO DEFUNTO: os pobres que paguem a crise

O Sol deste fim de semana mostra-nos um case study do jornalismo económico praticado pelo jornalismo de causas. A notícia é um scoop e o título é um verdadeiro achado.

Outros títulos alternativos: «Os pobres portugueses ajudam os pobres americanos»; «A filantropia dos bancos americanos que emprestam dinheiro aos inadimplentes americanos prejudica os inadimplentes portugueses»; «Bancos portugueses encontram o álibi quase perfeito para aumentarem os spreads».

18/08/2007

SERVIÇO PÚBLICO: as brincadeiras dos filhos da burguesia berloquista

«Cerca de cem activistas (*) contra os OGM (Organismos Geneticamente Modificados) destruíram esta sexta-feira cerca de um hectare de milho transgénico cultivado numa herdade em Silves, enquanto o proprietário, em lágrimas, os tentava desmobilizar.»

(*) Eufemismo que o jornalismo de causas utiliza para designar delinquentes.

Ver aqui o vídeo da brincadeira dos filhos da burguesia berloquista depois duma noita nas discotecas algarvias.

17/08/2007

CASE STUDY: série reis de África (15)

Sua Majestade BOUBA ABDOULAYE, Sultan of Rey-Bouba, Cameroun
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

16/08/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: um país, dois sistemas (2)

Secção Padre Anchieta

O PIB cresceu 0,7% no 1.º trimestre e o governo facturou por conta dos amanhãs que iriam cantar. Os amanhãs não cantaram, o PIB cresceu 0,4% no 2.º trimestre e o governo, num momento de inspiração, disse pela boca do ministro das finanças que é «um padrão de comportamento intra-anual».

Se o governo quer ser creditado pelos 0,7%, tem que ser debitado pelos 0,4%. Se o senhor Jerónimo de Sousa quer debitar o governo pelos 0,4%, como anunciou ontem aos 200 maduros que se reuniram para o ouvir na Mata de Monte Gordo (uma espécie de Pontal comunista), devia ter-lhe creditado os 0,7% do 1.º trimestre.

O governo e o senhor Jerónimo de Sousa padecem de doenças da mesma família. O governo só trata da economia mediática (aquilo de que falam os «200 palhaços que vão à televisão falar de economia»). O secretário-geral comunista só trata de planos quinquenais.

O governo já teve ontem a sua conta com dois chateaubriands para o doutor Teixeira dos Santos e três pilatos para o engenheiro Sócrates. É justo que hoje se atribua ao senhor Jerónimo de Sousa três chateaubriands e cinco bourbons.

15/08/2007

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: um país, dois sistemas

Secção Insultos à inteligência

O PIB cresceu 0,7% no 1.º trimestre, o doutor Teixeira dos Santos disse: estamos no bom caminho, aproxima-se o fim das vacas magras, ou uma qualquer outra coisa parecida. O engenheiro Sócrates disse mesmo mais, já vejo a luz ao fundo do túnel.

O PIB cresce 0,4% no 2.º trimestre, o doutor Teixeira dos Santos diz que "estas oscilações são habituais e não preocupantes", que Portugal se está "a aproximar da média europeia" (Portugal deve ter desacelerado por solidariedade, digamos), "este é um padrão de comportamento intra-anual que não é de estranhar" (e o 1.º trimestre não foi de estranhar?). O engenheiro Sócrates desta vez não disse mesmo mais, por estar ausente em parte incerta.

Dois chateaubriands para o doutor Teixeira dos Santos e três pilatos para o engenheiro Sócrates e votos de continuação de boas férias.

14/08/2007

CASE STUDY: série reis de África (14)

Sua Majestade OBA JOSEPH ADEKOLA OGUNOYE, Olowo of Owo, Nigeria
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

13/08/2007

BLOGARIDADES: correcção da correcção ou o criminoso volta sempre ao local do creme

Há um par de dias publiquei o Diário de Bordo «eu diria mesmo mais», a propósito das campanhas gay de angariação de novos aderentes a que se referia o post de João Miranda Adolescentes nas marchas gay.

Para ilustrar o deboche, juntei uma foto do post E agora um pouco de demagogia e desonestidade intelectual que também tenho direito, que não confirmei (por náusea) fazer parte do lote das 120 do Canal Parade Amsterdão 7 de Agosto.

Reparei hoje que o escrúpulo do insurgente Carlos G. Pinto o levou a fazer uma «correcção», preocupado com o facto da foto que publicou (e eu com ele) poder não fazer parte do deboche deste ano. É bem possível, mas permita-se-me a correcção da correcção - é igual ao litro porque no lote das 120 deste ano estão lá outras igualmente significativas, como estas (a 3.ª também foi publicado pel'O Insurgente):

[clicar para ver o deboche em grande]

11/08/2007

ESTADO DE SÍTIO: separados à nascença

Não sei se o que me chamou a atenção foi a foto (na página 14 do Confidencial) dos dois lustrosos figurões, quais gémeos separados à nascença, encenando um almoço no «Terreiro do Paço». Também poderia ter sido a citação destacada do gémeo doutor Bernardo Trindade, secretário de estado do Turismo, congratulando-se pelo «belíssimo ambiente entre governo e iniciativa privada», iniciativa ali à mesa protagonizada pelo outro gémeo, doutor Miguel Rugeroni, administrador da Espírito Santo Turismo.

Os dois gémeos partilham não apenas o look lustroso, as fatiotas cinzentas do mesmo alfaiate, os grizalhos, a bem-falância, mas também o mesmo patrão - o grupo Espírito Santo, apesar do primeiro estar temporariamente afastado do banco do mesmo grupo de que é director.

Partilhando ambos o optimismo em relação ao resultado do conúbio entre governo e iniciativa privada, o doutor Rugeroni, não muito confiante na noiva, faz um apelo ao noivo à altura do melhor da política salazarista do condicionamento industrial. Preocupado com os efeitos perversos do excesso (acha ele) de oferta já existente e com a anunciada pletora de novos projectos turísticos, o homem dos Espíritos sugere «alvarás», naturalmente administrados com parcimónia pelo noivo. Para que não haja confusões e para marcar a sua diferença, o homem dos Espíritos esclarece que «não seria um sistema de quotizações».

DIÁRIO DE BORDO: eu diria mesmo mais

«No entanto, nem todas as pessoas com comportamentos homossexuais são homossexuais biológicos. As comunidades homossexuais dependem da transmissão cultural para se formar e para se expandir. Para se formarem novas comunidades porque o baixo número de homossexuais na população torna difícil a formação de comunidades de pessoas com os mesmos interesses sexuais. Para se expandir porque quer os homossexuais biológicos quer os culturais precisam, para aderirem às comunidades homossexuais, de ultrapassar as barreiras culturais que as sociedades tradacionais colocam à homossexualidade.

Sendo assim, a selecção cultural tenderá a premiar a cultura gay que se auto-promove, quer através de manifestações públicas, quer através da arte e da literatura. Não é por isso estranho que a cultura gay tenha gerado manifestações públicas exuberantes como as paradas gay. E também não é estranho que se procure enquadrar adolescentes nessas paradas (ver aqui, e aqui). Os adolescentes são ao mesmo tempo um alvo fácil e apetecível. Fácil porque se encontram em formação. Apetecível porque garante a transmissão da cultura gay muito para além da próxima geração. Se as igrejas e os clubes de futebol procuram recrutar os seus futuros elementos nas camadas mais jovens, porque é que a comunidade gay não haveria de o fazer? Devemos esperar que a preocupação em transmitir ideias e comportamentos aos menores seja uma característica de qualquer cultura bem sucedida
[do post blasfemo Adolescentes nas marchas gay]
[foto da Canal Parade Amsterdão 7 de Agosto, também publicada pel'O Insurgente]

Eu diria mesmo mais, se a comunidade gay procura recrutar os seus futuros elementos nas camadas mais jovens, porque é que a comunidade homofóbica não haveria de o fazer?

08/08/2007

DIÁRIO DE BORDO/ARTIGO DEFUNTO: a náusea

Assistir a um qualquer dos telejornais é uma experiência nauseante para uma alma que ainda não esteja totalmente impregnada do paradigma jornalístico doméstico.

Telejornais que duram sempre mais de 30 minutos, por vezes até uma hora, atascando-se na lama das banalidades. Estagiário(a)s esganiçado(a)s aproveitam os minutos mediáticos a que têm direito, expelem ansioso(a)s dilúvios de palavras sobre trivialidades e fazem as perguntas fatais aos desgraçadinhos a quem enfiam o micro pelos queixos (tem alguma ajuda estatal? já recebeu o subsídio? a câmara/o governador civil/as autoridades já cá estiveram?). Câmaras manipuladas por potenciais realizadores, suspensos do primeiro subsídio, filmam as mãozinhas do entrevistado e os rostos alarves dos curiosos que espreitam por cima dos ombros uns dos outros.

07/08/2007

CASE STUDY: série reis de África (13)

Sua Majestade JOSEPH LANGANFIN, Benin
(Créditos Gulf Air Co, via FM, no Barhein)

06/08/2007

CASE STUDY: como que a assembleia geral dos lampiões

Até há 6 meses ninguém arriscaria prever que o discreto Millenium bcp, onde cada reunião do conselho de administração ou do conselho geral mais parecia um family gathering, realizaria assembleias gerais que mais pareceriam as do Sport Lisboa & Benfica.

60-sessenta-60 jornalistas e repórteres cobrem o mediático evento, que a estas horas acaba de ser interrompido sem que nada de substancial tenha sido resolvido (mais uma semelhança com as assembleias dos lampiões).

Quem diria que, desfeito o verniz da excelência, o Millenium bcp se revela tão genuinamente português? Luta surda pelo poder que os protagonistas negam, protestando juras de concordância, fidelidade e lealdade, pegas de cernelha, tudo de mistura com palhaçadas, desejos de mediatismo, bicos de pés, graxismo.

05/08/2007

ESTÓRIAS E MORAL: o sobrinho taxista vai abrir outra conta na Suíça

Estória n.º 1

Há um ano um munícipe de Oeiras apresenta na câmara um projecto de remodelação da sua moradia. Durante 4 meses o processo cria bolor em cima da secretária de um arquitecto. Após muitas insistências, o projecto de arquitectura foi finalmente (informalmente) aprovado no 6.º mês. Pelo meio algumas cenas kafkianas, como a insistência para harmonizar o projecto com os projectos originais das moradias próximas, todas elas já entretanto modificadas sem projecto aprovado («só nos interessa o que está no processo»). Os projectos de especialidade entregues imediatamente a seguir precisam de mais 2 meses para ser aprovados. Dez meses após a entrega do projecto, é emitida a licença de construção. Foi bastante rápido, disseram ao pobre munícipe criaturas conhecedoras dos meandros camarários.

[A quem possa interessar: o Decreto-Lei n.º 555/99 de 16 de Dezembro estipula um prazo máximo de 30 dias para deliberação da câmara neste tipo de obras. Perguntem a um juiz porque razão é mais fácil encontrar um autarca honesto do que um munícipe que tente obter uma decisão de aprovação tácita num tribunal.]


Estória n.º 2

Há 10 anos o IPE apresenta uma proposta à câmara de Oeiras para edificação na zona da Fundição de Oeiras. A proposta é chumbada com o argumento dum índice de construção excessivo (1,7) que a câmara queria reduzido para 1,5. Três anos depois a Fundição de Oeiras é comprada ao IPE por 30 milhões de euros por um «promotor» que a vende ao Invesfundo em 2006, por 44,4 milhões. Um ano depois, em 11 de Julho passado, a câmara aprova um outro projecto com um índice de ocupação de 1,85, que inclui 13 edifícios e 2 torres de 21 andares. Segundo o Sol, os terrenos da Fundição de Oeiras passarão agora a valer 113 milhões de euros.

A aprovação do projecto corre à velocidade da luz. A projecto apresentado em 29 de Junho obtém todos os pareceres uma semana depois (o da divisão de Trânsito e Transportes foi feito em 24 horas). O doutor Isaltino despacha o processo no sábado 7 de Julho e a câmara aprova-o na sua reunião seguinte de 11 de Julho.

Moral

It is inaccurate to say that I hate everything. I am strongly in favor of common sense, common honesty, and common decency. This makes me forever ineligible for public office. (H. L. Mencken)

04/08/2007

TRIVIALIDADES: geometria fractal - Cats in a bag

BREIQUINGUE NIUZ: um contabilista em Belém?

É difícil a uma criatura não contaminada pelo controleirismo serôdio do ministro doutor Santos Silva deixar de concordar com o veto do presidente da República ao vergonhoso estatuto do jornalista.

Para rejeitar o diktat corporativista da limitação aos licenciados do acesso à profissão de jornalista o professor Cavaco Silva tinha à mão argumentos de peso (uma inaceitável intromissão do estado napoleónico-estalinista no exercício da profissão) e até alguns politicamente correctos (a discriminação dos jovens vítimas do insucesso escolar). Como compreender que não tenha encontrado um fundamento melhor do que «o acréscimo de despesas de pessoal» (Expresso) que daí resultaria?

[É uma pergunta retórica. A impermeabilidade do professor Cavaco à política pura e dura e a sua insegurança face às ideias, que o leva constantemente a camuflar as escolhas políticas sob vestes pseudo-técnicas, não faria prever outra coisa.]

02/08/2007

ESTADO DE SÍTIO: «preços sociais»

Pior do que a desconfiança dos mercados endémica no estatismo do PS, na circunstância protagonizada pelo doutor António Costa, membro do governo em comissão de serviço na câmara de Lisboa, só o furor intervencionista do Zé e dos seus amigos berloquistas.

Pior do que qualquer deles em separado é o segundo encavalitado na primeira. O preço do voto do Zé nas sessões da vereação vai incluir uma medida que o falecido regime salazarista não desdenharia ter tomado: a obrigação a impor aos promotores imobiliários da venda de 20% das casas a «preços sociais». Para além do facto do diferencial do preço social para o preço de mercado ter que se fatalmente pago por quem não tem acesso à mordomia, acresce que tal imposição se presta a todo o tipo de expedientes que acabarão por lhe retirar todo o alcance «social».