Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

06/06/2025

Truth comes out in anger or with friends like these, who needs enemies?

Elon Musk's post on X

Produtividade, o calcanhar de Aquiles da economia portuguesa

Foi há dois dias publicado pela Comissão Europeia o «2025 Country Report - Portugal». Com mais de uma centena de páginas traça o retrato em várias dimensões do Portugal dos Pequeninos de entre as quais destaco a produtividade do trabalho que é a chave para criar a riqueza de um país. Criar riqueza? Sem dúvida porque, ao contrário da doutrina predominante na esquerda e na direita, nem do aumento dos salários em geral, nem em particular do salário mínimo, resulta necessariamente riqueza. O que resulta inevitavelmente é aumento do consumo e, em certas condições, inflação.  


Como o gráfico mostra, desde 2012 o diferencial entre a produtividade portuguesa e a média da União Europeia tem aumentado em vez de diminuir, como seria indispensável para Portugal se aproximar da média europeia e dos países mais avançados. 


É claro que há uma profusão de factores que explicam a divergência e entre eles destaco a inovação medida pelo número de patentes, domínio tem sido fruto de inúmeros exercícios de um wishful thinking praticado pelo jornalismo de causas e cultivado pelas elites medíocres domésticas (ver a série de posts O surto inovador e inventivo que nos assalta) que o gráfico mostra ser completamente despropositado.

05/06/2025

SERVIÇO PÚBLICO: a extinção extinta (2)

Em retrospectiva, em 25 de Junho de 2001, foi ejaculado o Decreto-Lei n.º 188/2001, que determinou a extinção retroactiva (retroactiva!) a 19 de Junho do ano anterior da SILOPOR, uma empresa pública que durante muitos anos teve o monopólio da importação e comercialização de cereais. Extinto o monopólio em consequência da adesão à CEE, a SILOPOR, limitada às operações de descarga e ao armazenamento, entrou rapidamente em perda e, já cadaverosa, teve uma certidão de óbito passado pelo governo de então chefiado pelo Eng. Guterres, o picareta falante, agora a perorar nas Nações Unidas.

Vinte e quatro (24) anos e muitas ejaculações legislativas de diferentes naturezas depois, a SILOPOR continua em liquidação, e pela última ejaculação (Decreto-Lei n.º 13-B/2025, de 14 de março)  a actividade da SILOPOR é (será?) transmitida para a APL-Administração do Porto de Lisboa.

Durante esses anos 24 anos, uma comissão liquidatária com as suas secretárias, o seu volumoso staff, as suas viaturas de serviço, os seus gabinetes, já torrou muitos milhões de euros para liquidar o que parece ser iliquidável. É claro que este não será o único exemplo, nem talvez o mais danoso, da ineficácia e ineficiência do Estado sucial mas o facto de entretanto terem passado por S. Bento onze governos mostra que a ineficácia e ineficiência são atributos permanentes do Estado sucial do Portugal dos Pequeninos administrado por elites geralmente medíocres e preenchido por burocratas geralmente pouco competentes e desmotivados. É uma realidade que nenhuma revisão constitucional resolverá.

04/06/2025

Pro memoria (443) - Os cortes no orçamento federal anunciados pelo Sr. Musk podem ser um bocadinho magalómanos... e o défice pode ainda aumentar

Continuação de Os cortes no orçamento federal anunciados pelo Sr. Musk podem ser um bocadinho magalómanos

Recordemos que o Sr. Musk garantiu o ano passado num comício MAGAlómano no Madison Square Garden que iria cortar um terço do orçamento federal anual de US$ 7 biliões, o equivalente a US$ 2,3 biliões (2.300.000.000.000) e que as últimas estimativas apontam para cortes que não devem ultrapassar os 150 a 170 milhões.

Por muito paradoxal que seja a acção do DOGE, ainda mais paradoxal é que, entre o pork barrel e o prolongamento das redução de taxas sobre o rendimento introduzidas no primeiro mandato de Donald Trump, do que está em discussão no Congresso podem resultar incrementos das despesas federais e redução dos impostos que acrescentarão à dívida biliões de dólares.

The Cost of BIG, BEAUTIFUL DEBT (fonte)

Em resultado, várias agências reviram em baixa a classificação de crédito da dívida americana que perdeu o triple A pela primeira vez em décadas. É mais um exemplo notável das leis Merton de unintended consequences de que a administração MAGAlómana nos tem dado inúmeros exemplos.

Como corolário a lei de Merton, Elon Musk, o mentor do DOGE, saltou em andamento do comboio do MAGA com um post bombástico na sua rede X:

«I’m sorry, but I just can’t stand it anymore. This massive, outrageous, pork-filled Congressional spending bill is a disgusting abomination. Shame on those who voted for it: you know you did wrong. You know it.»

E assim terminou uma GREAT and BEAUTIFUL friendship.

03/06/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (62)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

O PS foi atropelado pelas leis de Merton

Robert Merton publicou em 1936 um estudo das «consequências imprevistas da ação social intencional» onde distinguiu três tipos de consequências imprevistas. O que aconteceu ao PS nas eleições dia 18 foi um exemplo perfeito das consequências negativas imprevistas da sua prática nos últimos anos de tentar empurrar o PSD para os braços do Chega na esperança que o eleitorado do PSD o repudiasse e os seus votos se transferissem maciçamente para o PS. Ao contrário, a transferência de votos foi sobretudo do PCP para o Chega e do PS para o PSD e para a abstenção. E não, o Dr. Pedro Nuno não foi o único responsável pelo afundamento do PS, nem foi talvez o maior responsável. Durante vários anos o Dr. Costa e a sua trupe trabalharam para isso.

À força de querer parecer outro, o Dr. Pedro Nuno já não sabia quem era (agora é oficial)

Um ano depois de ter apoiado o candidato Dr. Pedro Nuno, que «sendo filho de um empresário, sabe da realidade da vida», para ascender à liderança socialista, o Dr. Ascenso Simões, um apparatchik socialista com um vasto currículo que vai da defesa da demolição do Padrão dos Descobrimentos, à agressão de um polícia e à defesa de uma condecoração para o Eng. Sócrates uma dúzia de anos depois do Animal Feroz ter conduzido o Estado sucial à falência, veio confirmar em entrevista ao Observador o segredo de Polichinelo: «a moderação de Pedro Nuno Santos era completamente falsa».

Um carneiro sacrificial

Como em quase todas as situações em que um partido sofre uma derrota pesada, o líder demite-se ou é demitido e o seu sucessor é frequentemente um líder de passagem tolerado por quase todos e falsamente apoiado por muitos que fica a aquecer o lugar até que das catacumbas do coliseu partidário emerjam os verdadeiros candidatos. Será esse o papel que o Dr. José Luís Carneiro reservou para si próprio.

Take Another Plan. Está-lhe no ADN

Só mesmo nos delírios da esquerda a TAP, gerida pela trela do líder socialista demissionário Dr. Pedro Nuno, estaria a caminho da regeneração. Segundo a FlightRight citada pela Euronews, com 37,14% dos voos, a TAP é a companhia europeia com maior percentagem de atrasos, e com 1,08% é a sexta com mais cancelamentos

Os lucros de 177 milhões em 2023, e os 72 milhões no segundo trimestre de 2024, que compensaram os prejuízos quase iguais do 1.º trimestre, e o lucro no ano de 2024 de 53,7 milhões são amendoins para um elefante branco como a TAP que recebeu 3,2 mil milhões de subsídios que lhe pouparam uns 200 milhões de juros por ano e a dispensaram de gerar margens para amortizar os 3,2 mil milhões. Não foi preciso esperar muito para a TAP regressar ao seu normal com um prejuízo de 108 milhões no 1.º trimestre deste ano.

02/06/2025

Crónica da passagem de um governo (1)

Sequela das Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
O mito redentor da revisão constitucional

Inspirado principalmente pelo Dr. Ventura, a revisão da Constituição voltou à ordem do dia. A constituição de 1976, mesmo com as alterações posteriores, é um dinossáurio político impregnado de ideologia e contaminado pelos equívocos de pretender ser um programa de governo, para uns, ou, para outros, o congelador das “conquistas de Abril”. Simplesmente a revisão da Constituição é provavelmente uma distração inútil e perigosa por várias razões, a começar pelo facto de ser praticamente impossível nesta altura encontrar uma plataforma partidária para aprovar as alterações e a terminar porque as alterações já apresentadas publicamente são na melhor hipótese exercícios de redacção ou votos piedosos (redução do papel do Estado que meia dúzia de cidadãos poderá aceitar e nenhum partido quererá) ou, na pior hipótese, chutos na mente dos cidadãos (prisão perpétua, castração química). Em qualquer caso, é pueril a ideia de que o Portugal dos Pequeninos não ultrapassa os obstáculos ao desenvolvimento e se aproxima da Óropa se deve à Constituição ou, pior ainda, que a alteração removeria esses obstáculos que resultam de uma cultura de mediocridade e de aversão ao risco perpetuada por elites merdosas que se alimentam dessa cultura.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Se alguém pensou que o povo quer e o governo pode reformar o SNS e o elefante branco assim reformado sirvará os portugueses de acordo com as boas práticas, com eficácia e a custos controlados, é melhor esquecer. O que se discute com paixão e inveja são os €714.829 pagos em quatro anos a um dermatologista por 497 cirurgias em produção adicional e quase 1.500 no horário regular, ou seja, cerca de 360 euros por cirurgia. Se bem entendo, foram pagos os honorários devidos de acordo com as tabelas a um médico que, ao contrário da maioria, deu corda aos sapatos, fez o seu trabalho e deveria ser apontado como um bom exemplo.

Hoje há, amanhã não sabemos

Expresso

Depois de oito anos de vacas gordas (e voadoras,) a dívida pública líquida estabilizou nos últimos quatro anos ao redor dos 250 mil milhões voltando a crescer no 1.º trimestre deste ano para 260 mil milhões. O rácio dívida/PIB que atingiu um máximo de 137,5% em 2021 desceu até ao final do ano passado para 94,9% e no 1.º trimestre retomou a subida para 96,3%. Se, como apontam as projecções da CE, o crescimento baixar este ano para 1,8% e, segundo as projecções da CE e do CFP, este ano o saldo das contas públicas for praticamente nulo e no próximo ano as contas voltarem aos défices, e a economia mundial começar a sentir os efeitos das “tarifas” trumpistas, teremos perdido uma boa oportunidade para evitar os tormentos de Sísifo.

Um Estado sucial autofágico devora a bazuca

Dos 7,7 mil milhões do dinheiro dos contribuintes portugueses e europeus até agora distribuídos aos beneficiários apenas cerca de 3 mil milhões foram atribuídos às famílias e às empresas, a fatia maior foi distribuída a entidades públicas (fonte).

01/06/2025

Trump' small stick policy and MAGAlomaniacal speeches

US President Theodore Roosevelt often said in foreign policy matters «speak softly and carry a big stick; you will go far», a doctrine that came to be called «big stick» policy. President Donald Trump, on any political issue, including foreign policy, always starts by speaking loudly. The case of the Russian invasion of Ukraine, which he promised to achieve peace in the first 24 hours, is a good example.

In late March, after Putin launched a massive drone and missile strike on Kiev, Donald Trump complained on his private social network Truth Social: «Not necessary, and very bad timing. Vladimir, STOP!». Vladimir’s response a month later suggesting that Trump was suffering from «emotional overload» would have embarrassed the POTUS if the POTUS had any shame. It’s an example of what could be called «small stick policy», something that we can compare with the same policy of Barack Obama who, even though he had a small stick, did not speak so loudly.

Another recent example of MAGAlomaniacal hubris, extraordinary even for a creature like Donald Trump, was his commencement speech at West Point where he said «And you will become officers of the greatest and most powerful army the world has ever known. And I know, because I rebuilt that army, and I rebuilt the military. And we rebuilt it like nobody has ever rebuilt it before in my first term.»