O mito redentor da revisão constitucional
Inspirado principalmente pelo Dr. Ventura, a revisão da Constituição voltou à ordem do dia. A constituição de 1976, mesmo com as alterações posteriores, é um dinossáurio político impregnado de ideologia e contaminado pelos equívocos de pretender ser um programa de governo, para uns, ou, para outros, o congelador das “conquistas de Abril”. Simplesmente a revisão da Constituição é provavelmente uma distração inútil e perigosa por várias razões, a começar pelo facto de ser praticamente impossível nesta altura encontrar uma plataforma partidária para aprovar as alterações e a terminar porque as alterações já apresentadas publicamente são na melhor hipótese exercícios de redacção ou votos piedosos (redução do papel do Estado que meia dúzia de cidadãos poderá aceitar e nenhum partido quererá) ou, na pior hipótese, chutos na mente dos cidadãos (prisão perpétua, castração química). Em qualquer caso, é pueril a ideia de que o Portugal dos Pequeninos não ultrapassa os obstáculos ao desenvolvimento e se aproxima da Óropa se deve à Constituição ou, pior ainda, que a alteração removeria esses obstáculos que resultam de uma cultura de mediocridade e de aversão ao risco perpetuada por elites merdosas que se alimentam dessa cultura.
Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»
Se alguém pensou que o povo quer e o governo pode reformar o SNS e o elefante branco assim reformado sirvará os portugueses de acordo com as boas práticas, com eficácia e a custos controlados, é melhor esquecer. O que se discute com paixão e inveja são os €714.829 pagos em quatro anos a um dermatologista por 497 cirurgias em produção adicional e quase 1.500 no horário regular, ou seja, cerca de 360 euros por cirurgia. Se bem entendo, foram pagos os honorários devidos de acordo com as tabelas a um médico que, ao contrário da maioria, deu corda aos sapatos, fez o seu trabalho e deveria ser apontado como um bom exemplo.
Hoje há, amanhã não sabemos
Expresso |
Depois de oito anos de vacas gordas (e voadoras,) a dívida pública líquida estabilizou nos últimos quatro anos ao redor dos 250 mil milhões voltando a crescer no 1.º trimestre deste ano para 260 mil milhões. O rácio dívida/PIB que atingiu um máximo de 137,5% em 2021 desceu até ao final do ano passado para 94,9% e no 1.º trimestre retomou a subida para 96,3%. Se, como apontam as projecções da CE, o crescimento baixar este ano para 1,8% e, segundo as projecções da CE e do CFP, este ano o saldo das contas públicas for praticamente nulo e no próximo ano as contas voltarem aos défices, e a economia mundial começar a sentir os efeitos das “tarifas” trumpistas, teremos perdido uma boa oportunidade para evitar os tormentos de Sísifo.
Um Estado sucial autofágico devora a bazuca
Dos 7,7 mil milhões do dinheiro dos contribuintes portugueses e europeus até agora distribuídos aos beneficiários apenas cerca de 3 mil milhões foram atribuídos às famílias e às empresas, a fatia maior foi distribuída a entidades públicas (fonte).
1 comentário:
"Em qualquer caso, é pueril a ideia de que o Portugal dos Pequeninos não ultrapassa os obstáculos ao desenvolvimento e se aproxima da Óropa se deve à Constituição"
Durante a Troika, quantas medidas não foram chumbadas pelo Tribunal Constitucional ?
Se concordo que mudanças na Constituição não se traduzem por magia, num Portugal melhor, também tenho que afirmar que o processo seria importante para clarificar o que queremos do país. E que o processo de mudança da Constituição, por si só, transbordaria (acredito) para reformas no aparelho do Estado.
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