Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

19/11/2025

Guess who wrote "Opioid of the Masses"?

«During this election season, it appears that many Americans have reached for a new pain reliever. It too, promises a quick escape from life’s cares, an easy solution to the mounting social problems of U.S. communities and culture. It demands nothing and requires little more than a modest presence and maybe a few enablers. It enters minds, not through lungs or veins, but through eyes and ears, and its name is Donald Trump.

Last Sunday, the day before Memorial Day, I met a Marine veteran of the Vietnam War at a local coffee shop. “I was lucky,” he told me. “At least I came home. A lot of my buddies didn’t. The thing is, the media still talks about us like we lost that war! I like to think my dead friends accomplished something.” Imagine, for that man, the vengeful joy of a Trump rally. That brief feeling of power, of defiance, of sending a message to the very political and media establishment that, for 45 years, has refused to listen. Trump brings power to those who hate their lack of it, and his message is tonic to communities that have felt nothing but decline for decades.

In some ways, Trump’s large, national coalition defies easy characterization. He draws from a broad base of good people: kind folks who open their homes and hearts to people of all colors and creeds, married couples with happy homes and families who live nearby, public servants who put their lives on the line to fight fires in their communities. Not all Trump voters spend their days searching for an analgesic.

Yet a common thread among Trump’s faithful, even among those whose individual circumstances remain unspoiled, is that they hail from broken communities. These are places where good jobs are impossible to come by. Where people have lost their faith and abandoned the churches of their parents and grandparents. Where the death rates of poor white people go up even as the death rates of all other groups go down. Where too many young people spend their days stoned instead of working and learning.

Many years ago, our neighbor (and my grandma’s old friend) in Middletown moved out and rented his house on a Section 8 voucher—a federal program that offers housing subsidies to low-income people. One of the first folks to move in called her landlord to report a leaky roof. By the time the landlord arrived, he discovered the woman naked on her couch. After calling him, she had started the water for a bath, gotten high, and passed out. Forget about the original leak, now much of the upstairs—including her and her children’s possessions—was completely destroyed. Not every Trump voter lives like this woman, but nearly every Trump voter knows someone who does.

Though the details differ, men and women like my neighbor represent, in the aggregate, a social crisis of historic proportions. There is no group of people hurtling more quickly to social decay. No group of people fears the future more, dies with such frequency from heroin, and exposes its children to such significant domestic chaos. Not long ago, a teacher who works with at-risk youth in my hometown told me, “We’re expected to be shepherds to these children, but they’re all raised by wolves.” And those wolves are here—not coming in from Mexico, not prowling the halls of power in Washington or Wall Street—but here in ordinary American communities and families and homes.

Trump’s promises are the needle in America’s collective vein.

What Trump offers is an easy escape from the pain. To every complex problem, he promises a simple solution. He can bring jobs back simply by punishing offshoring companies into submission. As he told a New Hampshire crowd—folks all too familiar with the opioid scourge—he can cure the addiction epidemic by building a Mexican wall and keeping the cartels out. He will spare the United States from humiliation and military defeat with indiscriminate bombing. It doesn’t matter that no credible military leader has endorsed his plan. He never offers details for how these plans will work, because he can’t. Trump’s promises are the needle in America’s collective vein.

The great tragedy is that many of the problems Trump identifies are real, and so many of the hurts he exploits demand serious thought and measured action—from governments, yes, but also from community leaders and individuals. Yet so long as people rely on that quick high, so long as wolves point their fingers at everyone but themselves, the nation delays a necessary reckoning. There is no self-reflection in the midst of a false euphoria. Trump is cultural heroin. He makes some feel better for a bit. But he cannot fix what ails them, and one day they’ll realize it.

I’m not sure when or how that realization arrives: maybe in a few months, when Trump loses the election; maybe in a few years, when his supporters realize that even with a President Trump, their homes and families are still domestic war zones, their newspapers’ obituaries continue to fill with the names of people who died too soon, and their faith in the American Dream continues to falter. But it will come, and when it does, I hope Americans cast their gaze to those with the most power to address so many of these problems: each other. And then, perhaps the nation will trade the quick high of “Make America Great Again” for real medicine.»

Opioid of the Masses

18/11/2025

Os equívocos do Programa "Mais Habitação", ou como tentar administrar uma medicação sem saber qual é a doença (14) - Adam Smith de 1776 em vez da verborreia ideológica

Continuação de (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12) e (13)

mais liberdade

«Quando a quantidade de qualquer mercadoria que chega ao mercado é inferior à procura efectiva, todos aqueles que estão dispostos a pagar o valor total da renda, dos salários e do lucro necessários para que ela chegue ao mercado, não podem obter a quantidade desejada. Em vez de ficarem sem nada, alguns estarão dispostos a pagar mais. Imediatamente, começará uma competição entre eles, e o preço de mercado subirá mais ou menos acima do preço natural, conforme a magnitude da escassez ou a riqueza e o luxo desenfreado dos concorrentes estimulem, em maior ou menor grau, o fervor da competição. Entre concorrentes de igual riqueza e luxo, a mesma escassez geralmente ocasionará uma competição mais ou menos acirrada, conforme a aquisição da mercadoria seja mais ou menos importante para eles. Daí o preço exorbitante dos bens de primeira necessidade durante o bloqueio de uma cidade ou em tempos de fome.»

Adam Smith, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations - The Wealth of Nations - Book I - Chapter VII

17/11/2025

Crónica da passagem de um governo (24)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Tanto barulho para nada. A única coisa notável na “reforma” da legislação laboral é a greve geral

Posso estar equivocado, mas não encontro nas alterações que o governo pretende aprovar nada que afecte significativamente o funcionamento do mercado de trabalho – supondo que tal coisa existe – ou os direitos dos trabalhadores, para utilizar o patuá sindical. Em consequência, não creio que essas alterações tenham efeitos visíveis na “flexibilização” e ainda menos impactos na eficiência das empresas e na produtividade do trabalho.

A greve geral é tanto mais despropositada quanto, segundo o INE, o aumento homólogo no 3.º trimestre da remuneração bruta total mensal média por trabalhador atingiu 5,3% e em termos reais, descontada a inflação, o aumento foi de 2,6%.

À atenção do Dr. Gonçalo Matias, ministro Reforma do Estado

Dos 30 países considerados no estudo da OCDE, o Estado sucial português é o segundo, só superado pela Turquia, com serviços públicos administrativos mais centralizados.

Ó Dr. Matias não perca tempo com pensamentos milagrosos e declarações bombásticas, como a de que Portugal «tem todas as condições para se tornar um líder mundial na IA», desça à terra e comece a tratar disto.

Os contribuintes são todos iguais, mas há uns mais iguais do que outros

O caso dos impostos (IMI e imposto de selo) de mais de 300 milhões devidos pela venda das barragens da EDP à multinacional francesa Engie para reduzir o endividamento, operação disfarçada pela EDP como uma reorganização empresarial, impostos que a EDP assumiu perante o comprador não seriam devidos, são o exemplo mais notório de como o governo AD pela boca do ministro das Finanças sucumbiu ao lóbi accionista sino-hispano-americano admitindo que uma obrigação fiscal confirmada pelo Ministério Público poderia não ser cumprida.

A realidade vai-se impondo ao pensamento milagroso

adaptado de mais liberdade

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos, nem queremos saber

Mostrando que em certas matérias, como no investimento, é mais o que une os dois grandes partidos do regime do que o que os separa, a taxa de execução do investimento público do governo AD em 2024 andou pelos 84%, afinal ainda inferior aos 90% das taxas dos governos PS. Num país pendurado no Estado sucial os empresários seguiram o exemplo e o investimento privado caiu igualmente em 2024 para 13%.

16/11/2025

Ser de esquerda é... (33) - ... é trocar de causas como quem troca de camisa (sempre com o mesmo tronco)

«Desastres eleitorais sucessivos, transferência de votos para a direita a par do envelhecimento do seu eleitorado, levaram as esquerdas  a primeiro deitar contas à vida e, em seguida, atirar pressurosamente para o caixote do lixo as vítimas que até ontem animavam o seu activismo. E assim, porque chegou a hora dos camaradas subirem ao palanque, num ápice sumiram-se os “camarados” e os “camarades”. (...)

O problema é que não só conseguem impor novos activismos como está implícito que esqueçamos as consequências do activismo da véspera. É mesmo como se esse activismo nunca tivesse existido. O direito à desmemória é o grande privilégio da esquerda que, enquanto mergulha as sociedades em processos contínuos de mortificação pelos crimes cometidos  por aqueles que aponta como seus inimigos no passado — e que podem ser tão distantes quanto os descobridores portugueses do século XV —, se arroga a si mesma o direito de não ser confrontada por aquilo que fez e disse ontem. Ou anteontem. Ou há um ou dois anos. (...)

Pois é agora já ninguém quer saber das casas de banho para as crianças trans, nem da linguagem dita inclusiva porque agora vamos voltar à “classe contra classe até à vitória final” como se estivéssemos no PREC. Alguém esperava que assim não fosse? Para que tal acontecesse era necessário ter denunciado, criticado, confrontado… os activistas quando estes andavam por aí com o linguarejar (cada activismo tem o seu idiolecto próprio) do sonho e da conquista irreversível para designar a estatização e consequente destruição da economia do país. É caso para dizer, olá camaradas. Façam de conta que estão na vossa casa.»

Helena Matos no Observador

____________

Outros "Ser de esquerda é..."

Em boa verdade, a volubilidade da esquerdalhada é apenas aparente, porque persiste o mesmo propósito de sempre: impor uma agenda e sabotar a liberdade em nome de grandes princípios. Afinal, o mesmo propósito que a direita iliberal prossegue. 

13/11/2025

Is President Trump the paper tiger of Emperor Xi?

«XI JINPING, CHINA’S supreme leader, is not frightened of President Donald Trump. Increasingly, Chinese elites see Mr Trump as “very soft” on their country, say Beijing insiders.

China was “a bit panicky” during Mr Trump’s first term, concedes an analyst in Beijing. The first Trump administration expanded a trade war into an ideological contest, with officials making stern critiques of China’s political and economic systems. China is not panicking any more, insists the analyst. When Trumpian bullying resumed this year, China’s leaders pushed back hard, refusing to buy American soyabeans and restricting exports of rare-earth minerals and permanent magnets that are vital to carmakers and other industries. Mr Trump “blinked first”, the analyst says.

At a meeting with Mr Xi in South Korea on October 30th Mr Trump offered concessions, including a one-year pause of a rule extending American export controls to the subsidiaries of blacklisted Chinese companies. China agreed to buy soyabeans and made vaguer promises to block smuggled shipments of chemicals used to make fentanyl, and to facilitate exports of rare earths.

Pundits in Beijing claim other wins. Since returning to power ten months ago, Mr Trump has shown no ideological ill-will towards the Communist Party, even when imposing dizzying tariffs on China. In the telling of Chinese scholars, Mr Trump treats China as an “indispensable” nation. He urges China to buy American goods and has welcomed its companies to invest in America. As an added bonus, in his second term Mr Trump has so tightened his grip over the federal government and the Republican Party that conservatives dare not challenge him for engaging with China. 

(...)

Mr Trump does seem ready to treat Mr Xi as a peer. After their encounter in South Korea, Mr Trump bragged on social media about a “G2 meeting” that would lead to “everlasting peace and success”. China has learned how to intimidate America’s president: hence the current, uneasy truce in their trade war. Wooing Mr Trump is a trickier task. China hawks in Washington have much to fear, should Mr Xi succeed.»

Beijing insiders’ plan to play Donald Trump

____________

«"Paper tiger" is a calque of the Chinese phrase zhǐlǎohǔ (simplified Chinese: 纸老虎; traditional Chinese: 紙老虎). The term refers to something or someone that claims or appears to be powerful or threatening but is actually ineffectual and unable to withstand challenge.

The expression became well known internationally as a slogan used by Mao Zedong, former chairman of the Chinese Communist Party and paramount leader of China, against his political opponents, particularly the United States. It has since been used in various capacities and variations to describe many other opponents and entities.» (
Wikipedia)

11/11/2025

Crónica da passagem de um governo (23 b)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
(Continuação de 23 a)

Ó Dr. Matias, antes do Portugal dos Pequeninos ser líder de alguma coisa, é preciso que Estado sucial funcione decentemente

Talvez empolgado pela plateia da Web Summit, o Dr. Matias, ministro da Reforma do Estado, declarou solenemente que Portugal «tem todas as condições para se tornar um líder mundial na IA». Não carece, por agora já ficaríamos felizes se não fosse preciso esperar um ano para criar uma “Empresa na Hora”. Se não conseguir reformar o Instituto de Registos e Notariado, mude o nome da coisa para “Empresa no Ano”. Em qualquer caso, não contrate os dois mil funcionários que lhe dizem ser necessários.

Boa Nova?


O semanário de reverência festeja o aumento homólogo de 192 mil empregos no 3.º trimestre da população empregada para 5,3 milhões e a criação de quase um milhão de empregos nos últimos dez anos. Os aumentos do emprego superiores ao crescimento real do PIB significam que estão a ser criados empregos pouco sofisticados em actividades de baixa produtividade.

Querer fazer o lugar do outro

Desde que foi anunciada pelo governo a intenção de abolir a fiscalização prévia dos contratos públicos o Tribunal de Contas vem fazendo a sua campanha para a manter, propósito que releva mais da preocupação de não perder poder do que de apego ao combate à corrupção. A presidente do TdC afirmou no parlamento que «é a intervenção do Tribunal que garante a credibilidade financeira do Estado português» sem se dar conta de que está a responsabilizar-se pela falta de credibilidade do Estado.

Outro exemplo de instituições que pretendem fazer o lugar de outras, é o caso do grupo parlamentar do PSD que classificou como «completamente desalinhadas» as previsões económicas e orçamentais pondo em causa «a racionalidade e metodologia utilizada» pelo Conselho das Finanças Públicas a quem compete fiscalizar o cumprimento das regras orçamentais e a sustentabilidade das finanças públicas, Conselho que colocou em dúvida as previsões do governo subjacentes à proposta de OE 2026

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

mais liberdade

O gráfico confirma que despejar  dinheiro em cima dos problemas não os resolve. Enquanto a despesa do SNS a preços constantes aumentou 41% em dez anos (em termos nominais o aumento foi de 72%), o número de actos médicos aumentou muito menos, salvo no caso das cirurgias em que aumentou apenas mais 2%, certamente muito à custa do expediente das “cirurgias adicionais” pagas com um tarifário especial.

10/11/2025

Crónica da passagem de um governo (23 a)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Se o ridículo fosse mortal, as redacções seriam cemitérios e o governo seria uma morgue

Depois de mais de dois anos a deixar-se cozinhar em fogo lento pela esquerdalhada que povoa as redacções, o Dr. Montenegro teve um acesso de transparência e mostrou ao Expresso as facturas da construção da sua casa em Espinho que custou o equivalente a 1,5 o preço médio das casas à venda em Portugal dos Pequeninos.

Velha Boa Nova

À míngua de boas notícias o ministro da Economia Dr. Castro Almeida repetiu no parlamento o anúncio que o Dr. Costa já havia feito e que, por embaraçosa coincidência, esteve na génese da Operaçâo Influencer que levou à demissão do anterior primeiro-ministro. Segundo o hiperbólico anúncio do Dr. Castro Almeida trata-se do «maior investimento estrangeiro de sempre em Portugal: 8,5 mil milhões de euros no Data Center de Sines» e «é um verdadeiro caso de sucesso do país». O grupo parlamentar do PSD aplaudiu entusiasticamente a “obra” do Dr. Costa.

Chutando a bola para frente

Fonte: BdP

Apesar da dívida pública líquida (que é a que mais interessa) se ter mantido relativamente estável, o rácio Dívida Pública/PIB tem vindo a agravar-se nos últimos três trimestres atingindo 97,6% em Setembro.

Quanto ao excedente orçamental no final de Setembro atingiu 6.304,1 milhões tendo aumentado 610,8 milhões em relação ao ano passado, à custa sobretudo do aumento das receitas fiscais. Por outro lado, o excedente orçamental de 0,1% do PIB previsto pelo governo para 2026 será cumprido à custa de 311 milhões de empréstimos do PRR que não vão ser usados.

Hoje há cadelinhas, amanhã não sabemos

Quem vê a função pública como uma ocupação retrógrada não podia estar mais equivocado. Enquanto nos “privados” se fala da insustentabilidade da segurança social dentro de algumas décadas, a sistema de pensões da função pública gerida pela Caixa Geral de Aposentações já está nessa situação com défices crescentes há vários anos (7,5 milhões previstos para 2026) que têm de ser financiados pelas receitas fiscais do OE ou, dito de outro modo, as pensões da função pública já estão a ser financiadas pela “função privada”.

(Continua)


08/11/2025

Trump vs Reagan, não podiam ser mais diferentes

«Na sexta-feira à noite [da semana passada], enquanto os Toronto Blue Jays iniciavam a World Series contra os Los Angeles Dodgers, foi exibido durante o jogo um anúncio "anti-tarifas" do governo provincial, apresentando excertos de um discurso de Reagan na rádio, de 1987. O anúncio reorganizou as palavras de Reagan, mas não alterou necessariamente o seu teor: Reagan, um republicano do final do século XX, era a favor do comércio livre. Trump, o autoproclamado "Homem das Tarifas", não gostou da recordação. Sugeriu que o anúncio tinha sido gerado por inteligência artificial e, posteriormente, chamou-lhe "fraude" ao anunciar um aumento de 10% nas tarifas sobre os produtos canadianos.

À primeira vista, Trump e Reagan pertencem à mesma linhagem. Ambos são figuras emblemáticas do Partido Republicano e da política nacional, que alcançaram o seu prestígio ao transpor as capacidades aprimoradas num mundo mediático para outro. Reagan, ator de cinema e porta-voz, adaptou-se perfeitamente à presidência, transformando-a numa série de cenas televisivas. Trump, a caricatura dos tablóides e estrela de reality shows, conquistou a atenção dos americanos de forma quase inabalável, transformando a presidência num fluxo interminável de indignação e provocação.

Contudo, os ambientes mediáticos em que ambos prosperaram não podiam ser mais diferentes. Recompensam tons, ritmos e compreensões radicalmente distintos do que significa autoridade política. O conflito em torno do anúncio de Ontario não se resume, portanto, à mudança de posição do Partido Republicano em relação ao comércio. Expõe como o nosso ambiente mediático remodelou a própria performance da presidência. (...)

07/11/2025

Faz sentido um teste de nacionalidade a que os nacionais saibam responder

É perfeitamente legítimo e aceitável que as autoridades de um Estado submetam os imigrantes candidatos à nacionalidade a um teste que afira o grau de conhecimento da língua, da história do país, do seu quadro legal e das suas instituições e, em consequência, a probabilidade de sucesso da integração no país, salvaguardando uma coesão social mínima sem a qual não poderá subsistir como Estado independente.

O que se pode discutir é o âmbito e o grau de exigência desse teste. E nesta matéria há de tudo. A complacência desleixada, como no caso do Portugal dos Pequeninos, em que o único requisito é a suficiência no conhecimento da língua portuguesa, e, por exemplo, o Reino Unido em que o imigrante é submetido a um teste de escolha múltipla para avaliar o seu conhecimento sobre os costumes, a história, as leis e os valores britânicos em que tem de acertar em pelo menos 18 de 24 perguntas baseadas no guia oficial "Life in the UK: A Guide for New Residents".

Um caso que parece ultrapassar os limites do bom senso é o novo teste americano [128 Civics Questions and Answers (2025 version)] em que o candidato tem de acertar em 12 de 20 perguntas retiradas de um conjunto de 128, à maioria das quais provavelmente uma parte considerável dos cidadãos americanos não saberia responder - take a look. Too much of a good thing.

06/11/2025

You can't fool all of the people all the time (8)

Other "You can't fool all of the people all the time"


YouGov (Source)

Still sinking to the depths of disapproval.


Increasingly viewed negatively on all issues, including national security, despite hyperbolic rhetoric.

It is not surprising that, in the three elections held this week, the leftist Zohran Mamdani won in New York, campaigning with attacks against Trump, while the moderate Democrats Abigail Spanberger, successor to Republican Glenn Youngkin, and Mikie Sherrill, successor to Democrat Phil Murphy, won the gubernatorial elections in Virginia and New Jersey. 

Washington Post

Will Trump become a liability to the Republican Party?

05/11/2025

TIROU-ME AS PALAVRAS DA BOCA: A liberdade de expressão inclui o direito às declarações estúpidas ou preconceituosas e até ao insulto

«Todos têm o direito de não gostar de ciganos, bengalis, árabes, negros, russos, americanos e até portugueses. Todos têm o direito ao preconceito e a considerar inferiores, estúpidos, perigosos e ameaçadores os outros povos. Mais difícil ainda: todos têm o direito a exprimir publicamente os seus pensamentos, as suas crendices e os seus preconceitos. Tentar censurar, proibir ou controlar a expressão verbal dos seus pensamentos é tão grave quanto cometer actos de agressão ou de violência.

Há ainda a questão do insulto. Muitas pessoas pensam que o insulto deve ser controlado, censurado, eventualmente castigado. É uma velha questão. Sem pretender inovar ou ser exaustivo, o importante é distinguir entre insulto e calúnia. A segunda é em geral motivo de processo e condenação. Não se pode acusar alguém de ter praticado ou cometido actos que comprometem a honra, a reputação, a carreira ou a vida privada. Já o insulto é livre. Até ao ponto de prejudicar outrem. Sem isso, o insulto faz parte da liberdade de pensamento e de expressão. »

António Barreto, uma ilha de lucidez no oceano de preconceitos e estupidez

_______________

E não acontece nada a quem faz declarações estúpidas ou preconceituosas ou insulta? Acontece. O autor dessas declarações passa a ser visto como estúpido, preconceituoso e mal-educado por pessoas não estúpidas, despreconceituosas e bem-educadas.

04/11/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (76)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

¿Por qué no te callas?

O Dr. António Mendonça Mendes, deputado e emérito apparatchik socialista com um extenso currículo que vai de uma passagem por Macau e pela Geocapital do Dr. Lacerda Machado, o maior amigo do Dr. Costa, ao estacionamento em vários governos socialistas desde 1999, apontou o dedo ao governo pelas “inconsistências” do orçamento. Tem toda a razão. Foi pena quando, como secretário de Estado dos Assuntos Fiscais do Dr. Centeno, não ter usado esse mesmo dedo para apontar as “inconsistências” dos orçamentos em que participou, entre as quais, para ser breve, cito apenas os expedientes à volta do investimento público que aqui baptizámos de autoestrada mexicana do PS.

Podeis voltar. Estais perdoados

Com a adopção pelo Dr. Montenegro do “arrendamento acessível” que incorpora também a utilização de imóveis públicos, que pela mão dos governos socialistas só deu anúncios, o Dr. Pedro Nuno e o Dr. Medina vêem-se resgatados dos desastres dos seus Programas de Arrendamento Acessível que após oito anos tinham produzido 900 contratos activos para dois mil alojamentos e 30 mil candidaturas.

A perda de memória talvez seja o distúrbio de saúde mais frequente entre os políticos
  • Dr. José Luís Carneiro
À boleia da morte de uma grávida, o Dr. Carneiro responsabiliza o Dr. Montenegro pelo seu «falhanço clamoroso» na saúde. Como classificará o Dr. Carneiro o desempenho do seu governo na saúde assim resumido por João Vieira Pereira, que me tirou as palavras da boca:
«Vieram as 35 horas, o desapertar do cinto, o regresso da Ordem dos Médicos como verdadeiro poder por trás do trono. O que se seguiu foi uma festa sem limites, um aumento inacreditável da fatura. Em 2015, a despesa total do SNS foi de €9 mil milhões e representava 10,4% da despesa pública. Em 2024 foi de €15,5 mil milhões e representava 12,8% da despesa pública. (…)

As Parcerias Público-Privadas (PPP) na área da Saúde acabaram quando a ‘geringonça’ pressionou António Costa (e este cedeu). A cegueira ideológica do Bloco de Esquerda e do PCP só não foi maior do que o oportunismo do Partido Socialista, e entre tantas mentes brilhantes ninguém foi capaz de perceber o que estavam a fazer.
»
  • Dr. Marcelo Rebelo de Sousa
O Dr. Marcelo que tem no seu currículo a bênção à reversão para as 35 horas (“sem impacto orçamental”, segundo o Dr. Centeno), o colo dado à Dr.ª Temido para terminar as PPP em quatro hospitais geridos pelos "privados" e o silêncio de 8 anos sobre a degradação do SNS, acordou na semana passada e aproveitou a conferência da Fundação para a Saúde para fazer um balanço crítico do estado de saúde.

03/11/2025

Crónica da passagem de um governo (22)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Não sabemos se um mercado ultra-regulado e com incentivos errados como o da habitação ainda poderá funcionar…

Sem surpresa, salvo para os distraídos, as facilidades do crédito jovem e das garantias estatais estão a puxar pela procura e o valor do stock de crédito para compra de habitação (somatório dos saldos totais do crédito hipotecário) bateu em Setembro um novo recorde com o maior crescimento mensal (8,9% desde 2008), atingindo 108 mil milhões.

Não sabemos se são sinais de reessureição do mercado da habitação, mas o certo é que até Agosto o número de licenças para construção e reabilitação teve um aumento de 9%. Como quer que seja, depois de duas décadas com a construção agonizante, o défice acumulado de oferta é tão grande que serão precisos muitos anos para a oferta cobrir a procura.

O que sabemos é que só por milagre a insistência na utilização de imóveis públicos para “arrendamento acessível” resolverá o problema, como mostraram as experiências dos programas socialistas. Por várias razões, sendo a mais óbvia que são pouquíssimos os imóveis públicos com condições para habitação, condições que só existirão com obras dispendiosas que poucos senhorios privados estarão dispostos a suportar. Duvida-se que resulte o expediente deste governo de usar programas PPP – em que se espera que o terceiro “P” seja um bando de filantropos.

A propósito deste tema não resisto a dar um exemplo da mistura de ignorância e inclinação doutrinária com que a imprensa aborda este tema. Trata-se do artigo do Público – aka o Avante da Sonae – «Regiões com maior aumento da construção são onde os preços das casas mais sobem» para cuja desmontagem remeto para este post de HPS que diz o essencial sobre o assunto.

Banco de Fomento é «torrar dinheiro em coisas que não valem pevide»

Recordemos outra vez que o Banco de Fomento sucedeu a um banco de fomento que fora privatizado por um governo PS, ressuscitado em 2018, só viu a luz do dia em 2021, depois de dois anos a ser anunciado pelo então ministro da Economia. E entre outros desastres desde a sua fundação em 2012 registou perdas de 124 milhões nas cerca de 300 startups em que participou. Desde então já teve mais de uma dúzia de administradores.

Não surpreenderá ninguém saber que o resultados líquidos do 1.º semestre e do 3.º trimestre do Banco de Fomento são os montantes pífios de 8.9 milhões e 10 milhões, respectivamente, e que o stock de empregados continua a crescer a bom ritmo (16% do ano passado), não obstante os activos totais terem sido reduzidos de 4%. O que, por agora, ainda poderá surpreender é que o banco já conseguiu registar mil milhões de imparidades por crédito mal parado.

Podia ser pior, mas precisava de ser muito melhor

Segundo o INE, um tanto surpreendentemente, no 3.º trimestre o aumento homólogo do PIB em volume foi de 2,4% e, segundo os dados provisórios do Eurostat, o PIB português corrigido de sazonalidade registou nesse mesmo trimestre o quarto aumento dos 15 países da UE em que já existem esses dados.

Não ajuda à festa que o crescimento do 3.º trimestre se deva em boa parte à aceleração do consumo privado, como não ajuda a poupança das famílias estar muito abaixo da média da UE e em grande parte estacionada em depósitos bancários (197 mil milhões em Setembro), porque a aversão ao risco dos portugueses é um dos pilares da alma lusitana.

Hoje há cadelinhas, amanhã não sabemos

Não fora o turismo, cujas receitas até Setembro cresceram 5,6%, e entrada de subsídios da bazuca, outro galo cantaria. Com uma produtividade estagnada, uma despesa pública fixa em constante crescimento, o Portugal dos Pequeninos está muito mal preparado para enfrentar uma possível evolução negativa da conjuntura internacional.

Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Valha-nos Deus. A mesma CIP que patrocina um estudo do ISEG publicado há dias que concluiu que a despesa do SNS aumentou 72% em 10 anos, vem uns dias depois lamentar que o OE 2026 não preveja despesa suficiente, subscrevendo o método lusitano de atirar dinheiro para cima dos problemas. Enquanto isso, passa ao lado do pequeno pormenor do SNS gastar com tarefeiros por dia 727 mil euros ou 265 milhões por ano e dos custos expediente das “cirurgias adicionais” – uma oportunidade de negócio para cirurgiões que dão prioridade às cirurgias mais simples e lucrativas, como explica o médico Luís Teixeira.

01/11/2025

O SNS e a anomalia estatística

Uma anomalia estatística é um ponto ou um conjunto de dados significativamente diferente da maioria dos outros dados num conjunto. Para dar um exemplo banal, uma velhota a quem dizem que a taxa de fecundidade, isto é o número médio de filhos que uma mulher tem durante o seu período reprodutivo, em Portugal é tão baixa (1,4) que não garante a manutenção da população (2,1), poderá dizer "não pode ser, pois se ainda esta manhã me cruzei na rua com duas mulheres, uma com três e outra com quatro filhos..."

Chegando onde quero chegar, se disser a uma criatura que no final de Julho estavam quase um milhão de  contribuintes a que chamam "utentes" à espera da primeira consulta, essa criatura pode muito bem responder "não pode ser, não conheço ninguém que esteja à espera de consulta..."  

Se disser a uma criatura que há mais de 1,7 milhões de utentes sem médico de família, essa criatura pode muito bem responder "não pode ser, eu tenho médico de família e não conheço ninguém que não tenha..."

Se disser a uma criatura que os tempos de espera das urgências gerais do Hospital São Francisco de Xavier podem em média ser superiores a 2 horas e os não urgentes ultrapassarem 5 horas, essa criatura pode muito bem responder "não pode ser, ainda na semana passada estive lá e fui imediatamente atendido..."    

Se disser a uma criatura que os tempos médios de resposta para a primeira consulta de cardiologia atingem 154 dias, essa criatura pode muito bem responder "não pode ser, o meu pai que sofre do coração só esperou uma semana para ter consulta...".

Se disser a uma criatura que os tempos médios de resposta para a Cirurgia Geral prioritária atingem 31 dias e a normal 118 dias, essa criatura pode muito bem responder "não pode ser, o meu irmão só esperou uma semana para uma cirurgia...". 

Se disser a uma criatura que há mais de 20 mil "utentes" que aguardam cirurgias por um período superior aos tempos máximos de espera, essa criatura pode muito bem responder "não pode ser a minha prima Eugénia e o meu vizinho do lado fizeram cirurgias dentro do prazo...

E pronto, é o que temos.

31/10/2025

Lost in translation (371) - Insultos à inteligência


A foto da esquerda de um cartaz numa suposta cidade francesa com trottoirs de calçada portuguesa sugerindo o repúdio pela corrupção de Mme Le Pen é uma óbvia falsificação grosseira que anda por aí a circular nas redes sociais. A foto da direita é de um cartaz real numa cidade portuguesa com um teaser do Dr. Ventura para excitar as mentes fracas. E estamos assim.

30/10/2025

What would Mr. Trump's devotees have said if Sleepy Joe had accepted money from his supporters to pay the wages of US military? Would the devotees practice the usual double standard, or would they classify Mr. Trump as they would have classified Mr. Biden?

«President Donald Trump dropped the news casually at the very end of a White House roundtable this past Thursday. “A friend of mine”—he said the man preferred not to use his name—“he called us the other day, and he said, I’d like to contribute any shortfall you have because of the Democrat shutdown,” Trump said. The money would go to pay the armed forces while the government is closed. “Today, he sent us a check for $130 million.”

I am running out of words for astonishing, but I hope Americans are not running out of astonishment. This announcement is troubling in many ways, including the idea of a private individual funding the U.S. military—much less doing so anonymously. If allowed to stand, it will be the latest step on the road toward Congress’s irrelevance and the elevation of a near-monarchical presidency, whose holder can be swayed by influence and bribery but can’t be meaningfully checked by public oversight.

By the weekend, The New York Times had reported on the donor’s identity: Timothy Mellon, a reclusive heir to a huge fortune. He’s given millions to support Trump’s campaigns, as well as to Health and Human Services Secretary Robert F. Kennedy Jr., and his Children’s Health Defense. Mellon’s cousin Richard Mellon Scaife poured millions into seeking dirt on President Bill Clinton in the 1990s. Timothy’s grandfather, Andrew W. Mellon, was a businessman who became Treasury secretary during the administrations of Presidents Warren Harding, Calvin Coolidge, and Herbert Hoover—accruing such power that a joke went that three presidents served under him.

Even without knowing that context, you don’t need a political-science degree to understand why having wealthy individuals cutting secret checks to the president to pay the military is a bad idea. First, it makes the administration dependent on a wealthy person to function—which hands that person influence over the president. Second, despite the fact that Trump acts as though, and seems to believe that, the armed forces (along with the White House and the rest of the federal government) belong to and answer to him personally, they do not. Funding the military via a private donor not accountable to Congress, voters, or anyone (especially if they are unnamed) raises the specter that the military might really become beholden to the president. If Americans aren’t paying the armed forces, then why should the armed forces answer to or protect them? And what’s to stop their might from being trained on the people?

29/10/2025

What would Mr. Trump's devotees have said if Sleepy Joe had accepted money from his supporters to build a BIG, BEAUTIFUL BALLROOM? Would the devotees practice the usual double standard, or would they classify Mr. Trump as they would have classified Mr. Biden?


«The White House is getting a $300 million facelift, and some of the largest corporations in the world are footing the bill—with the help of MAGA lobbyists.

Construction began this week for Donald Trump’s “big beautiful White House ballroom,” with workers tearing down the East Wing. Trump has said the work won’t cost taxpayers a dime and will be privately funded by “many generous Patriots, Great American Companies, and, yours truly.”

The White House did not comment on how much Trump himself will give, but it did share a list with The Free Press—you can view that here—of almost 40 donors. It includes companies such as Amazon, Apple, and Google, crypto giant Coinbase, and defense contractors Lockheed Martin and Booz Allen Hamilton. It also includes wealthy Trump supporters like oil and gas magnate Harold Hamm and Blackstone CEO Stephen Schwarzman as well as crypto entrepreneurs Cameron and Tyler Winklevoss

MAGA Lobbyists’ Advice to Clients: Help Pay for Trump’s Big, Beautiful Ballroom

28/10/2025

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (75)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Take Another Plan. SATA, uma TAP das Ilhas

Recordemos que a SATA, a companhia regional de aviação dos Açores, assinou em 2016 um contrato de leasing de um avião Airbus A330 que custou até 2023 mais de 40 milhões de euros, com o avião estacionado desde 2019 no aeroporto Sá Carneiro, por custar mais caro mantê-lo a operar. Entretanto, a SATA recebeu ajudas de 453 milhões de euros e só em 2023 a comissão de inquérito do parlamento açoriano se deu conta. Descobriu-se mais tarde que a SATA estava tecnicamente falida, ninguém parece saber qual o montante exacto do passivo e procura-se um candidato privado para comprar o mono, querendo dizer um benemérito que, como é sabido, fora do Estado sucial é coisa que não existe.

Fast forward, dois anos depois o processo de privatização continua sem candidatos e a Câmara do Comércio de Angra do Heroísmo, preocupada porque o fecho da Azores Airlines do grupo SATA pode ter um impacto de cerca de 1,27 mil milhões de euros, montante equivalente a um quarto do PIB da RAA, e a perda direta de 815 empregos. A Câmara que considera a privatização a «única via possível para salvar a companhia» está equivocada porque a salvação desta companhia só pode ser feita com dinheiro dos contribuintes. A dúvida é se, e qual, a outra companhia pode fazer do tráfego aéreo para os Açores um negócio, isto é uma empresa paga pelos seus clientes.

Take Another Plan. TAP uma SATA do Continente

O Tribunal Constitucional confirmou a interpretação do Supremo Tribunal de Justiça e dois mil tripulantes com contratos a prazo desde 2006 cancelados, muitos deles durante o processo de reestruturação da TAP em 2022, em que foram torrados mais de três mil milhões de euros, poderão reclamar os retroactivos estimados em 300 milhões de euros (fonte).

Sequelas de oito anos de governação do Dr. Costa

mais liberdade

Os dois gráficos acima mostram os resultados do ensino doutrinário e da autoestrada mexicana do investimento público socialista.

O mito do alojamento local como culpado da falta de habitação

Passando ao lado da queda abissal das novas construções, o alojamento local foi um dos três pilares da tese oficial da esquerdalhada para justificar o aumento do preço das casas e dos arrendamentos – os outros dois foram o clássico da especulação dos senhorios e a compra de habitação pelos estrangeiros. Afinal, em resultado do «processo de limpeza dos registos inativos de alojamento local decorre há cerca de cinco meses» concluiu-se que actualmente cerca de 40 mil dos cerca de 125 mil alojamentos locais só existem no papel.

27/10/2025

Javier Milei ganhou uma batalha. Ganhar a guerra é outra coisa e, a ser possível, levará algum tempo

Para uma criatura com instintos liberais, como este vosso escriba, é natural ver com simpatia os esforços de Javier Milei para pôr em prática políticas visando emagrecer o Estado dinossáurico argentino e dar aos argentinos liberdade para viverem as suas vidas sem o jugo de uma "casta" extractiva.

Como sempre, os problemas na política não são só, nem principalmente, os fins, são também os meios e os estilos. Qualquer um poderia concordar com o essencial dos propósitos declarados da maioria das organizações políticas, já quanto aos caminhos para os atingir, a coisa fia mais fino.

Esquecendo o estilo que apela perigosamente ao simplismo e à irracionalidade, esses caminhos também no caso do actual presidente argentino estão longe de ser inquestionáveis, como mostram os exemplos aqui citados: a promoção de uma criptomoeda duvidosa que foi um fiasco, as suspeitas de corrupção da sua irmã e do principal candidato que veio a renunciar. Podia acrescentar, com grande ira dos devotos do Sr. Trump, deixar-se apropriar pela direita populista iliberal e em particular pelo trumpismo, com quem tem pouco em comum e a quem foi esmolar um swap cambial de 20 mil milhões para apoiar o peso.

Ainda assim, sendo a política a arte do possível, Milei merece o apoio dos democratas liberais.

Crónica da passagem de um governo (21)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
Take Another Plan. Vai ser preciso escolher entre uma TAP viável e manter um marsúpio subsidiado

Não se sabe se o governo do Dr. Montenegro já se deu conta de que, com toda a probabilidade, nenhum grande operador internacional comprará a TAP sem garantias de que a poderá governar ou para manter o marsúpio com o ventre cheio de utentes. Por exemplo, um dos potenciais interessados o Grupo IAG (British Airways, Iberia, Vueling, AerLingus e Level) que comprou a Iberia – a TAP espanhola – e, depois das greves do costume, «Willie Walsh o CEO do IAG, pôs a Iberia perante o dilema receber o investimento necessário para a recuperação ou falir. O Estado Espanhol fica de fora de conflito empresarial» (ver aqui a estória contada por Sérgio Palma Brito).

Com outros interessados, como a Lufthansa, poderá haver algumas nuances, porém, os princípios básicos manter-se-ão porque quem compra sabe que vai ter de sobreviver num mercado muito concorrencial – a não ser que o Dr. Montenegro queira continuar a extorquir os contribuintes portugueses para pagar a factura de manter no ar o dinossauro.

«Em defesa do SNS, sempre» / «O SNS é um tesouro», seguido de Os portugueses «vão ter razões para confiar no SNS»

Um excelente exemplo de como o SNS se afunda cada vez mais quanto mais dinheiro lhe despejam e mais “profissionais” lá estacionam, é o caso das “cirurgias adicionais” que se transformou num expediente para aumentar a produção “adicional” e que nalguns hospitais representa quase metade do total, tornando o aumento das listas de espera uma oportunidade de negócio para cirurgiões que dão prioridade às cirurgias mais simples e lucrativas, como explica o médico Luís Teixeira.

A meritocracia do Estado sucial é uma espécie de caquistocracia

Para quem não saiba ou não se lembre, a CReSAP é uma entidade que avalia os candidatos a nomeações para cargos públicos. Criada pelo governo de Passos Coelho, foi completamente ignorada pelos governos do Dr. Costa com os resultados que se viram de colocação de gente incompetente ou corrupta ou com ambas as características.

O Dr. Montenegro ressuscitou a CReSAP, e bem, mas persiste um outro pequeno problema. Recentemente, na falta de candidatos com mérito reconhecido, o governo nomeou para a Direção-Geral das Autarquias Locais um candidato que já tinha sido previamente nomeado em regime de comissão de serviço, usando o expediente dos governos socialistas. O mesmo voltou agora a acontecer com a nomeação para a Unidade dos Grandes Contribuintes da AT do director-adjunto, uma vez mais por falta de «candidatos com mérito». E por que faltam candidatos com mérito? Ora, por que haveria de ser? Porque na vaca marsupial pública em que se transformou o Estado sucial o mérito é na melhor hipótese supérfluo, ou na pior inconveniente.

Grão a grão enche a galinha o papo

Em boa verdade, é muito mais do que um grão, são 3,2 mil milhões de euros (dos quais 2,4 mil milhões do sector público) do aumento para 857 mil milhões de euros do endividamento da economia (dívida total das famílias, Estado e empresas não financeiras).

Não há vida para além do orçamento

Se acreditamos nas previsões do Conselho das Finanças Públicas (CFP) - há melhores razões para isso do que acreditar nas do governo -, o excedente de 2026 será de 0,1% do PIB e não de 0,3% como prevê o governo, ou seja, menos 2,3 mil milhões de euros. Já a Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO) vai mais longe e prevê um equilíbrio receitas-despesas devido ao “estímulo orçamental” de 5% do PIB e alerta para os riscos, nomeadamente das tensões geopolíticas e do impacto das “tarifas” do Dr. Trump.

26/10/2025

Javier Milei's troubles. Do as I say, not as I do

«Mr Milei’s economic team is in Washington, trying to hash out the details of the bail-out and buy some calm. Yet even if they can navigate American politics, the Argentine variety may swamp them. A serious loss in the midterms would all but end Mr Milei’s radical economic reform programme.

The coming weeks will be tough. Voters consider Mr Milei’s success in pulling down inflation to be old news. Corruption allegations and the gyrations of the peso dominate the headlines. It is still—just—possible that Mr Milei could emerge after the elections with markets calmed and his political hand strengthened. But he needs to make it to October 26th without more exchange-rate chaos, and then win enough seats in Congress to convince markets that his reform project is still alive. (...)

Then Mr Milei needs to win, or at least take enough seats to allow him to defend his presidential veto. But his electoral strategy is in trouble. His dogmatism has alienated powerful provincial governors. He came to power in 2023 raging against “la casta”, the corrupt political elite. “I’m hungry for the whole caste,” he roared again during his concert. And yet he has been hit by three big corruption scandals this year.

The first was over his promotion of a dodgy cryptocurrency that soon collapsed in value. Then, in August, leaked audio messages led to allegations that his sister was taking kickbacks from purchases of medicine by the state disability agency. The latest blow was on October 5th, when José Luis Espert, the leading candidate of Mr Milei’s party in Buenos Aires, whose face is already on the ballot papers, stood down. He admitted to receiving $200,000 from a man indicted in the United States for drug-trafficking, but says it was for legitimate consulting work. In all three cases those involved deny wrongdoing.

Curbing rampant inflation is the other pillar of Mr Milei’s pitch. Fast-rising prices used to be voters’ biggest worry, but unfortunately for him they have moved on, and now corruption tops the list. That inflation concerns have ebbed is a testimony to Mr Milei’s success, but he has failed to pivot to other issues. An overvalued peso helped to curb price growth, but propping it up has both hurt employment and exacerbated the exchange-rate crisis. Now more voters worry about jobs than inflation.

Polling suggests Mr Milei’s party still has a chance. But momentum is against it. He will need more than rock concerts to turn things around.»

The Argentine peso, and Javier Milei, are in trouble

25/10/2025

Em memória de Nuno Crato, um ministro da Educação que não sofreu de lunatismo doutrinário

Há poucos dias, num artigo do Observador, Isabel Hormigo, uma adjunta de Nuno Crato, ex-ministro da Educação do governo de Passos Coelho, citou Philippe Aghion, prémio Nobel da Economia, que num debate recente no BFM Business - o canal francês de economia e negócios com maior audiência -, fez uma entusiástica apreciação positiva das políticas adoptadas por Nuno Crato entre 2011 e 2015. 

Não fiquei surpreendido por essa apreciação e ainda menos pelos mídia portugueses não terem dado qualquer relevância às declarações de Philippe Aghion sobre Nuno Crato, ainda hoje, decorridos dez anos, uma bête noir nos meios académicos e educacionais infectados pelo politicamente correcto.

Aqui no (Im)pertinências não foi preciso um Nobel mostrar apreciação pelo trabalho de Nuno Crato para relevarmos a sua acção no governo "neoliberal" dedicando-lhe duas dezenas de posts entre os quais saliento este a propósito dos resultados dos testes de PISA e este outro propósito dos rankings das escolas secundárias.

24/10/2025

Put the Blame on Mame. The rise of the boo-reaucrats (some of them are begging autocrats)

«(...) The ritual scapegoating of the European Union, a foggy realm of incomprehensible acronyms, is the oldest trick in modern continental politics. Aren’t “Brussels” the unaccountable lot who regulate industry into an early grave, badger governments about their debt levels, then give Trumpians whatever they want on trade? Treating the EU as a ghoulish bogeyman has been somewhat in abeyance ever since Britain overdosed on the idea, much to its cost. But the old spirit is haunting Europe once again. A look at the upcoming political agenda suggests that a lot more Brussels-bashing may soon be upon us. Boo! (...)

For that is the really spooky thing about Brussels-bashing. Politicians decry decisions made by the EU as if they were edicts handed down by some foreign power. But given that national governments form the backbone of the EU, “blaming Brussels” is akin to a ventriloquist haranguing his own puppet for being foul-mouthed. In truth many of the continent’s thorniest challenges, from succouring Ukraine to cutting carbon emissions and dealing with Mr Trump, can now only be handled at the level of 27 countries at least trying to act as one. That is a scary thought for many politicians. Heaping blame on the ghosts found in a drizzly Belgian city is more comfortable than looking closer to home.»

“Brussels” is the phantom menace Europe loves to blame

23/10/2025

Ser de esquerda é... (32) - ... imaginar que o Palácio de Belém do Portugal dos Pequeninos é o topos das "utopias concretas"

O topos das "utopias concretas"

O LIVRE, «o espaço político da esquerda ecologista, progressista, europeísta, regionalista e libertária», uma espécie de Bloco de Esquerda sedado, sob a liderança do Prof. Rui Tavares, uma espécie de Prof. Louçã praticando um tele-evangelismo suave, decidiu apoiar o deputado pelo Porto Dr. Jorge Pinto na sua candidatura à presidência da República, mais concretamente da II República, cujos «ideais, princípios, valores, estão sob ataque» com vista a «continuar a contribuir para que o LIVRE continue a ser o partido das utopias concretas».

O Dr. Jorge Pinto é «Doutor em filosofia social e política, com uma tese sobre republicanismo, ecologia e pós-produtivismo». (fonte)


Outros "Ser de esquerda é..."

22/10/2025

CASE STUDY: O que nos diz o ranking das escolas de ensino secundário (3)

Continuação de (1) e (2)
No primeiro post chegámos a duas conclusões: os resultados das escolas privadas são claramente melhores em 2,14 pontos (= 13,50-11,36) e há tendência das piores escolas "compensarem" os seus alunos com uma avaliação menos exigente (a diferença entre as médias de exame e as notas internas de exame é 1,21 pontos nas melhores e 4,90 pontos nas piores).

No segundo post concluímos que escolas privadas aparentam ter maior heterogeneidade do que as escolas públicas, isto é, coexistem alunos muito bons com alunos fracos ou medíocres e que a relação entre notas de exame e notas internas é claramente mais fraca no caso das escolas públicas.

Vejamos agora no ângulo da localização das escolas se podem ser identificadas relações com o aproveitamento escolar. No quadro seguinte as escolas estão segmentadas em três grandes regiões: os concelhos puramente urbanos de Lisboa e Porto, com níveis de rendimento médio e educacional mais elevados, e os restantes concelhos. 


Em todas as regiões as escolas privadas têm um melhor desempenho e uma menor diferença entre notas internas e notas de exame. Nas escolas privadas do concelho de Lisboa essa diferença (0,96) é claramente muito inferior, menos de metade das escolas privadas do Porto (2,19) e dos outros concelhos (2,45), sugerindo uma necessidade muito menor de "compensação" dos alunos. Diferentemente, nas escolas privadas do Porto a diferença entre notas internas e notas de exame é mais do dobro da diferença em Lisboa (2,19 contra 0,96) e está próxima dos outros concelhos.   

Nas escolas públicas o factor regional não parece ter influência significativa nas notas de exames que variam entre si apenas umas décimas, sugerindo um nivelamento por baixo.  

No quadro seguinte registam-se os desvios-padrão das notas de exame e das notas internas para os mesmos concelhos.   


Os desvios-padrão das notas internas muito mais baixos do que os desvios-padrão das notas de exame em todos os concelhos sugerem que todas as escolas, independentemente do seu estatuto e da sua localização, tendem a "alizar" as notas que atribuem aos seus alunos.
    
No concelho de Lisboa o desvio-padrão mais baixo, quer das notas de exame (1,41) e quer das notas internas (0,49), sugere que o aproveitamento nas escolas privadas tem uma menor heterogeneidade nesse concelho. Nas escolas públicas dos outros concelhos destaca-se o desvio-padrão claramente inferior (1,04) ao de Lisboa (1,62) e do Porto (1,54), confirmando um nivelamento por baixo do ensino público na maioria dos concelhos.

21/10/2025

DIÁRIO DE BORDO: R.I.P.

Francisco Pinto Balsemão

Um homem com muitas fraquezas e a grandeza de um democrata genuíno praticante da liberdade de expressão que marcou a vida pública do Portugal dos Pequeninos nos últimos 60 anos.

Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa (74)

Continuação das Crónicas: «da anunciada avaria irreparável da geringonça», «da avaria que a geringonça está a infligir ao País» e «da asfixia da sociedade civil pela Passarola de Costa» e do «Semanário de Bordo da Nau Catrineta». Outras Sequelas da Nau Catrineta do Dr. Costa.

Dêem um lugar ao Dr. Centeno

Felizmente para o seu sucessor no BdP, o Dr. Centeno está a fazer o possível e o impossível para ser colocado num púlpito europeu, uma vice-presidência, seja a da EBA (Autoridade Bancária Europeia), seja a do BCE (Banco Central Europeu). O relações públicas do Dr. Centeno está há uma semana a soprar ao ouvido dos jornalistas amigos o desejo do Dr. Centeno de ir fazer companhia ao Dr. Costa na Óropa.

Nos primeiros dias, a coisa era disfarçada como uma iniciativa externa, nuns casos com uma grande ousadia de a atribuir à Drª. Lagarde que «aposta em Centeno para a presidência da Autoridade Bancária Europeia», assumindo que a presidente do BCE não leria jornais portugueses e, portanto, não se aperceberia do abuso de lhe colocar esta aposta no regaço. Noutros casos, como uma iniciativa colectiva «(Centeno entre os favoritos à presidência da Autoridade Bancária Europeia»). Em vão se procuraria na imprensa europeia quaisquer vestígios dessa suposta iniciativa.

Até que, na falta dos sinais exteriores, o Avante da Sonae chega mesmo ao ponto de desvendar a manobra e escreve «Jornal Eco lança Centeno na corrida», perde-se a vergonha e assume-se que criatura «está de olho no lugar de vice-presidente do BCE» e lamenta-se que tardem os apoios do governo português que «tem menos de um mês para apoiar (ou não) Centeno no BCE».

No lugar do actual governador do BdP – o “Álvaro”- faria uma campanha para desamparar a loja e despachar a criatura para Frankfurt.

«Empresa Financeiramente Apoiada Continuamente (pelo) Estado Central»

Desde Julho de 2020, quando o governo do Dr. Costa, depois de, pela mão do Dr. Caldeira Cabral, ter feito o favor de comprar a EFACEC à Dr.ª Isabel dos Santos, começou a tentar vendê-la, que o Dr. Siza Vieira, com grande falta de sizo, anunciava todos os meses que o mono estaria prestes a ser vendido, enquanto lá enfiava mais uns milhões e dava mais uma garantias. Até que no princípio deste ano o Tribunal de Contas confirmou que o desastre poderia ter um custo de 564 milhões de euros. Foi nesta altura que o parlamento acordou e pediu uma auditoria ao TdC que confirmou esse número e estimou que não seriam recuperáveis mais do que uns 400 milhões.

Sequelas da governação do Dr. Costa e do seu amigo do peito Dr. Cabrita

Ainda hoje se fazem notar as consequência da política de imigração irresponsável dos governos socialistas potenciada pelo caos administrativo da AIMA pela obra feita dos governos socialistas, descobrindo-se que afinal o número de imigrantes é superior a um milhão e meio e quadruplicou em 7 anos.