Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

12/10/2023

QUEM SÓ TEM UM MARTELO VÊ TODOS OS PROBLEMAS COMO PREGOS: O alívio quantitativo aliviará? (80) - Só até certo ponto, o resto do resultado são promoções

Outras marteladas.

Recapitulando: o intervencionismo dos bancos centrais (Fed e BoE, copiados pelo BCE), adoptando o alívio quantitativo e as taxas de juro negativas ou nulas, desde o «whatever it takes» do Super Mario de Julho de 2012 criou oceanos de liquidez que impulsionaram os mercados de capitais e incentivaram o investimento em activos de risco, criando as condições para um processo inflacionário que só esperava um trigger que surgiu com a invasão da Ucrânia.

Quase desde a adopção pelo BCE do chamado "alívio quantitativo" que nesta série de posts tenho vindo a desmistificar este expediente dos bancos centrais e a advogar o seu fim para além de um curto período em que os benefícios líquidos dos efeitos indesejáveis poderiam ser positivos. Esse período neste caso terminou algum tempo depois, quando as economias recomeçaram a crescer e devia ter-se iniciado um "período de desmame" - o conceito é transportável do domínio das drogas para o destas políticas por mais de uma razão.

Acrescento agora aos motivos para repudiar o uso do alívio quantitativo mais um. De acordo com a Economist, «a estimativa mediana calculada em uma revisão da literatura é que a compra de títulos no valor de 10% do PIB reduz os rendimentos dos títulos da dívida pública de dez anos em apenas meio ponto percentual. Porém, os próprios bancos centrais são a fonte de muitas dessas estimativas e têm um incentivo para exagerar o impacto: investigadores descobriram que os autores de artigos relatando efeitos mais fortes do alívio quantitativo no crescimento subsequentemente desfrutam de mais promoções. Assim, é plausível que o verdadeiro impacto da compra de títulos seja pobre. Foi certamente o caso recente do Japão onde o banco central desperdiçou dinheiro defendendo uma paridade do mercado de títulos, apenas para abandoná-la e assumir as perdas.»

2 comentários:

Camisa disse...

o verdadeiro trigger, muito mais que a guerra da Ucrânia foi a pandemia; basta ver os gráficos da emissão de moeda em 2020 e 2021 para ver a loucura do que foi feito, agora paga se tudo bem caro

Anónimo disse...


Camisa, pandemia não