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11/03/2007

ESTADO DE SÍTIO: pior que não fazer a reforma certa, é não a fazer e acrescentar uma reforma errada

Depois de ter deixado cair a única reforma que estava obrigado a fazer - o downsizing do estado napoleónico-estalinista e a correspondente dieta da vaca marsupial pública - o governo começou, como é seu costume (expediente herdado dos governos do engenheiro Guterres), a enviar balões-sonda através do inefável secretário de estado da Administração Pública, assessorado pelo ministro anexo Vital Moreira, para antecipar as possíveis reacções à medida mais estúpida que podia tomar neste contexto: aumentar os horários de trabalho e reduzir as férias.

Porquê estúpida? perguntarão os distraídos. Pois não é verdade que os utentes da vaca estão cheios de mordomias? Lá isso estão. Mas a verdadeira questão é o excesso de utentes e não a sua óbvia falta de produção. Se os funcionários públicos são relativamente improdutivos, o que se conseguirá com o aumento de mais 280 às suas horas de estacionamento nas repartições? Menor produtividade. E se a essas horas adicionais somarmos os efeitos de algumas medidas avulsas de simplificação administrativa? Ainda menor produtividade. A não ser que.

A não ser que se ampliem as já incomensuráveis funções do estado napoleónico-estalinista. Desfecho que se tornará inevitável pela força das coisas, quero dizer pelos efeitos da lei de Parkinson, que está aqui muito bem explicadinha para quem quiser refrescar a memória.

Este tema daria um esplêndido pretexto para construir mais uma teoria da conspiração, se fizesse o meu género, que não faz. O que o governo pretende é muito mais prosaico: à boleia da proverbial distracção dos sujeitos passivos, invejosos das mordomias dos utentes da vaca, impinge-lhes a ideia que toma medidas, que é um governo teso, que abomina a injustiça e ataca os privilégios. Os sujeitos passivos aplaudem e os utentes da vaca acomodam-se, porque já perceberam que devem pagar uma factura módica para não terem que pagar a factura grande.

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