«É neste reino de descontentamento que a figura severa de Passos Coelho reina. Ao contrário de quem governa, não precisa de uma maioria ou de meios. Pode manifestar a insatisfação com um simples gesto ou uma frase. Há muita gente em Portugal que gostaria que regressasse e há muita gente, os insiders do costume cheios de informação privilegiada, que conspiraria para que regressasse. São boutades de salão que só Passos Coelho poderá concretizar ou confirmar. A força, e poderia dizer-se força moral, de Passos Coelho tem outra fonte que não o campo de intriga do PSD ou o ninho de vespas da política. Ninguém no partido dele levantará a mão contra ele, por temor e fraqueza.
A força de ter-se mantido, desde que foi afastado do poder pela coligação de esquerda de António Costa, invisível e incorruptível. Não deslizou para os quadros de uma grande empresa, não faz parte de assembleias gerais ou conselhos de administração, não fugiu para um cargo internacional, não enriqueceu sem causa. Não aceitou ser comentador num canal de televisão, e tenho a certeza de que muitos o contratariam por quantias superiores às de um primeiro-ministro. Mantém uma casa nos subúrbios, teve perdas pessoais que encaixou sem lamento, não controla a figura pública com a obsessão das figuras públicas, não escreveu livros confessionais ou outros. E decerto o convidaram a escrever as memórias da troika. Não está nas redes, a aparafusar indignações. Não vai às televisões explicar-se. Não dá entrevistas. Não se lhe conhecem crimes ou comportamentos desviantes, muito menos onde o dinheiro estaria envolvido. Escreve uns prefácios, faz umas apresentações de livros, diz umas coisas, não muitas. É breve e conciso e, pasme-se, coerente. É um enigma.»
O enigma Passos Coelho, Clara Ferreira Alves no Expresso
____________Registo que esta peça, que faz justiça a Pedro Passos Coelho, foi escrita pela mesma jornalista que escreveu há uma dúzia de anos, a pedido do Dr. Mário Soares por quem ela tinha devoção, um artigo de limpeza do cadastro do Eng. José Sócrates, artigo que dissequei em quatro verrinosos posts: (I), (II), (III) e (IV). É um exemplo de que a maioria das pessoas é capaz do pior e algumas vezes também do melhor.
1 comentário:
Não será necessário ser-se António Damásio para "entender" a senhora - mas façamos-lhe justiça : a idade fica-lhe bem...
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