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29/09/2025

Crónica da passagem de um governo (17)

Outras Crónicas do Governo de Passagem

Navegando à bolina
De volta ao mistério dos obstetras

A semana passada referi que os 1.960 obstetras (e ginecologistas) inscritos na Ordem dos Médicos fizeram cerca de 85 mil partos em 2024, e que desses os 748 que trabalham no SNS fizeram 80% dos partos. Acrescento agora que os maiores hospitais privados dispõem de 412 obstetras (Luz 113; Cuf 299) e que, baseado no número de certidões pedidas à OM, estimo que menos de 100 obstetras exercem medicina no estrangeiro.

Comparando o número de partos por obstetra/ano, Portugal tem 45 (85 mil, 1,9 mil), Espanha tem 64 (318 mil, 5 mil) e Reino Unido tem 73 (660 mil, 9 mil), o que me leva a concluir que por cá a produtividade não é grande coisa, para ser simpático.

Na falta de dados rigorosos cada um pode imaginar o que quiser ao seu gosto, porém baseado nos números disponíveis não se pode concluir que exista uma insuficiência absoluta de obstetras e, por isso, é mais provável que se trate de uma má gestão dos recursos existentes, como de resto quase todos os recursos do Portugal dos Pequeninos e é isso que explica uma produtividade geral medíocre, para ser outra vez simpático, e em consequência um nível de vida inevitavelmente medíocre.

Afinal quantos professores temos?

Todos os dias a imprensa do regime continua a falar da falta de professores, das turmas sobrelotadas, dos alunos sem professores, do horários por preencher, etc. (exemplo) O próprio ministro minimiza o problema e admite que em 130 mil professores existem “mil horários” por preencher.

130 mil professores? Pelas minhas contas, existiriam cerca de 150 mil e, por via das dúvidas, fui consultar a Pordata, que, em 2024, baseada nos dados oficiais, inventariou 149.124 professores no ensino não universitário. A ser assim, evaporaram-se 20 mil professores, a menos que o ministro não esteja a contar com os 11 mil que em média faltam e com os milhares de delegados sindicais da FENPROF, da FNE (Federação Nacional de Educação) e dos 5 sindicatos independentes.

Em conclusão, não se sabe ao certo quantos professores existem, sendo certo que qualquer que seja o número pode sempre concluir-se que são insuficientes aumentando o número de disciplinas, como se vem fazendo para compensar a apesar da redução de cem mil alunos do ensino não universitário durante os governos socialistas.

Insanidade é continuar a fazer o mesmo e esperar resultados diferentes

Não obstante a oferta de habitação ser insuficiente porque não se constrói o suficiente, o governo continua a promover o aumento da procura, aumentando a garantia pública de 1,2 mil milhões para 1,55 milhões. É claro que o número de transações e os preços da habitação continuaram a aumentar no 2.º trimestre (15,5% e 17,2%, respectivamente, em relação ao mesmo trimestre do ano passado).

Há quem diga que o aumento dos preços da habitação não é um problema porque 70% das famílias são proprietárias das casas onde vivem e por isso ficam mais ricas. Não é uma visão que adira à realidade porque as famílias ficam com o mesmo activo com um valor de mercado inflacionado e se quiseram trocar de casa vão ter de pagar um preço igualmente inflacionado, ou seja em termos reais ficam na mesma

A inflação dos preços da habitação está para o Estado sucial como o turismo para a economia

Como se viu, as famílias proprietárias não ganham nada com o aumento do preço das habitações. Quem ganha são as autarquias, cujas receitas de IMI e IMT aumentaram 1,5 mil milhões em 10 anos e o peso destes dois impostos na receita total dos municípios mais do que duplicou (fonte). Sem o balão dos preços do imobiliário e sem o turismo que pesa 12% do PIB já estaríamos a pedir o regresso da troika.

Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos

O governo embandeira arco porque no 1.º semestre houve um excedente orçamental de 1.4 mil milhões e por isso o futuro do Estado sucial é risonho. O Conselho das Finanças Públicas não pede licença para discordar e revê em baixa o crescimento do PIN e o regresso ao défice orçamental em 2026. No vosso lugar daria mais crédito ao CFP.

A ver os comboios passar

Estava previsto que a compra das novas 117 automotoras para a CP fosse financiada por 819 milhões dos dinheiros da Óropa. Como os concursos ficaram parados durante quase dois anos, foram perdidos 191 milhões de euros que terão que ser cobertos pelo OE.

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