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30/04/2023

Para quem acha que a discriminação positiva é uma medida socialmente justa e eficaz, mais importante do que o acesso de mulheres da classe média-alta aos boards das grandes empresas, deveria ser discriminar positivamente os jovens pobres portadores de cromossoma XY

«Há uma dimensão final de desigualdade nos dados da saúde. A vasta maioria destas mortes por desespero é de jovens homens. Um facto conhecido é que a taxa de suicídio entre os homens é cerca de três vezes maior do que entre as mulheres. Também nas outras mortes de desespero, por overdose, armas ou acidentes de viação, os rapazes dominam com grande distância.

O livro “Of Boys and Men”, do escritor Richard Reeves (que urge traduzir em português), documenta sistematicamente a doença sistémica que atravessa os rapazes, sobretudo das classes mais desfavorecidas, nas sociedades modernas. Hoje, eles têm bastante menos anos de educação do que elas, são incapazes de ter um emprego ou uma relação estáveis, vivem consumidos por doenças mentais e eventualmente perdem a vida como jovens adultos de formas estúpidas e desesperadas. Nos dados da Universidade de Brown revelados há uns dias as hipóteses de um rapaz entrar são 50% maiores do que uma rapariga, tão poucos são os rapazes que se candidatam e tão esforçada está a universidade em ter uma turma com equilíbrio de género. A desigualdade entre rapazes e raparigas está fortemente relacionada com a classe social. Nas crianças de famílias no top 10% da distribuição de rendimentos nos EUA a diferença entre a taxa de frequência na universidade de raparigas e rapazes é de 5 pontos percen­tuais. Já nos 10% mais pobres a fração de raparigas que vai para a faculdade é 16 pontos percentuais maior

Ricardo Reis

[Esclarecimento: não preconizo a discriminação positiva em geral como medida socialmente justa e eficaz; em particular, isso dependerá da discriminação em causa.]

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