A CULPA É DO BUSH
«Quando as coisas correm mal a culpa é sempre dos outros. É um comportamento pouco cristão, mas nestes tempos de crise a única coisa que, na Europa, se aproveita da religião é a crença num milagre. Tudo o resto são males que vêm do outro lado do Atlântico.
Já faliram tantos bancos na Europa como nos Estados Unidos e é na Europa, embora não na Comunidade, que um país está à beira da bancarrota. De quem é a culpa? Dos americanos, é claro.
Os dirigentes europeus não se entendem quanto a uma solução comum para resolver os problemas económicos e financeiros do Velho Continente. A quem apelam para que a crise seja resolvida? Ao governo de Bush.
O sector imobiliário de Inglaterra e de Espanha está tão sobreavaliado como o dos Estados Unidos. Mas de quem se fala quando se fala no «sub-prime»? Dos incautos consumidores americanos e dos gananciosos banqueiros americanos que lhes emprestaram dinheiro sem garantias reais.
Muitos bancos europeus compraram os chamados "activos tóxicos" e criaram eles próprios activos de igual toxicidade. De quem é a responsabilidade? Dos americanos que inventaram esses produtos e não dos europeus que os compraram ou copiaram.
A França e a Inglaterra têm activos financeiros superiores à economia real (PIB) respectivamente em 350% e 422%. Nos Estados Unidos essa relação é de 424%, ligeiramente inferior à do Japão (446%) e praticamente igual, como se vê, à da Inglaterra. De quem é a culpa desta explosiva relação? Dos Estados Unidos.
Entre 1980 e 2006 a economia real do mundo cresceu 380%. Os activos financeiros aumentaram a astronómica soma de 1300%, quatro vezes mais do que aquilo que foi produzido.
Ou seja, o mundo, ou parte dele, tem andado a viver muito acima do que devia. Quem são os consumidores enlouquecidos pelo dinheiro fácil? Os americanos.
Esta Europa não se enxerga nem revela respeito por si própria. Não é capaz de se entender quanto ao modelo institucional, mas quer ter importância no mundo. Aparenta ser um grupo coeso, mas quando surgem os problemas só reúnem os grandes (e mesmo assim divergem), revelando a verdadeira natureza do poder em jogo.
Até agora, o triste e fragilizado Presidente Bush tem sido um conveniente bode expiatório para os problemas da Europa.
É bom que os líderes europeus comecem a pensar noutro, porque a partir de Novembro o homem é como se já lá não estivesse.»
Luís Marques
Expresso 11-10-2008
NOTA:
Tirou-me as palavras da boca, é mais uma área temática, onde se exorciza o ciúme e a inveja por alguém que teve o desplante de escrever uma coisa que estava destinada a ser escrita aqui.
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista, em carta a Marcelo Caetano)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Sem comentários:
Enviar um comentário