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24/10/2007

ESTÓRIA E MORAL: relativamente ricos ou relativamente pobres?

Estória

Segundo o Destaque do INE divulgado no Dia Internacional de Erradicação da Pobreza, «1/5 da população residente em Portugal vivia em risco de pobreza». Entenda-se que o conceito de pobreza adoptado pelo INE é o de pobreza relativa, que segundo o critério comunitário corresponde aos rendimentos inferiores a 60% da mediana da distribuição de rendimentos líquidos. Estas medidas da pobreza, que fazem as delícias da esquerdalhada e do esquadrão do politicamente correcto, são profundamente ilusórias porque os pobres de um país podem ser os ricos de outro país e vice-versa.

Não por acaso, é exactamente o que se passa. Em valores de 2004 a linha de pobreza que o INE definiu era 360 euros mensais por adulto. Como a mediana é o parâmetro estatístico que corresponde a um valor em que exactamente metade do universo estatístico apresenta valores inferiores e a outra metade valores superiores, resulta do referido critério que a mediana seria naquele ano de 600 euros e, portanto metade dos adultos tinham rendimento mensal inferior a este valor.

Se compararmos esta mediana com a que presumivelmente se poderia (se pudesse) estimar para a África subsariana, certamente se concluiria que os pobres portugueses seriam ricos na Serra Leoa.

Segundo o US Census Bureau, em 2006 (a coisa por lá anda 2 anos à frente) a mediana da distribuição do rendimento per capita (que obviamente inclui os não adultos) era cerca de USD 26.000 por ano ou o equivalente a 1.525 Euros por mês, ou talvez mais de 3.000 Euros por adulto e mês, isto é 5 vezes o valor correspondente em Portugal. Donde os portugueses pobres segundo o INE seriam relativamente miseráveis nos EU.

Se nos lembrarmos que em 1620, quando o Mayflower chega a Plymouth, Portugal era ainda uma grande potência global (em decadência) podemos concluir que, quer consideremos que os portugueses são nos dias de hoje relativamente pobres ou relativamente ricos, nós e as nossas elites temos sido, sem sombra de dúvida, absolutamente incapazes.

Moral

Com uma pequena dose de azar e uma grande dose de incompetência é difícil, mas possível, ter chuva na eira e sol no nabal.

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