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22/04/2006

CASE STUDY: malformação genética (1)

Que doutrinas económicas estudavam os economistas que hoje estão na área do poder político e dos poderes fácticos? Para responder a esta pergunta o Impertinências foi buscar à torre do tombo impertinente uma sebenta de História das Doutrinas Económicas e Sociais, uma disciplina do 5.º ano do curso de economia, editada pela associação de estudantes da única escola de economia digna desse nome nos anos de brasa de 68-73 - o ISCEF.

Os alunos que nesses anos frequentavam essa cadeira terão hoje entre os cinquentas e os sessentas. Muitos deles tiveram e ainda têm uma influência determinante nas políticas económicas seguidas nos últimos trinta anos.

A sebenta de História das Doutrinas Económicas e Sociais pode ser dissecada como uma arriba fóssil onde são visíveis as pegadas dos dinossáurios mentais instalados nas meninges dessas influentes criaturas. Vejamos os textos arrolados na fatídica sebenta:

  • «O mercantilismo» de Eli Heckscher, um professor sueco de história económica, especialista em comércio internacional
  • Um capítulo do «Tableau économique» de François Quesnay, um fisiocrata do século 18, pioneiro da ciência económica
  • L'individualisme liberal, capítulo de «Dimensions de l'homme et science économique» de Jean-Louis Fyot, um obscuro professor
  • A atitude das escolas quanto ao conflito dos métodos, um capítulo de «Méthode scientifique et sciense économique» de André Marchal, um praticante da sociologia económica
  • «Manifesto dos Iguais» de François-Noël Babeuf, um proto-comunista
  • A introdução de «A History of Socialist Thought», de G. D. Cole, um fabiano
  • Extractos de vários escritos de Karl Mark, o mais conhecido marxista, tais como:
    - «Manuscritos de 1844»
    - «A Sagrada Família»
    - «A ideologia alemã»
    - «Manifesto do Partido Comunista», em parceria com o 2.º mais conhecido marxista Friedrich Engels
    - «Crítica ao programa de Gotha»
    - Vários capítulos de «O Capital»
  • «Crítica ao projecto do programa social-democrata de 1891», de Friedrich Engels
  • «K. Marx», de Vladimir Ilitch Ulianov, o mais reputado leninista escrevendo sobre o mais conhecido marxista e a sua doutrina
  • Extractos de «O pensamento de Karl Marx» de Jean-Yves Calvez, jesuíta e professor de ética política
  • Extractos de «Fascisme et ditacture» de Nicos Poulantzas, sucessivamente leninista, marxista estruturalista e, no final da vida, eurocomunista.
Com estas leituras o que se poderia esperar de tais criaturas?
(Continua)

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