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15/11/2005

DIÁRIO DE BORDO: dizer que um não serve, não faz do outro um candidato conveniente

Andava há uns dias a ruminar um post sobre as ilusões acerca do doutor Cavaco Silva, que alguns liberais de diferentes inclinações, escrevendo em diferentes mídia, parecem alimentar para se consolarem da falta de um candidato genuinamente liberal - vá lá, deixemos cair o liberal, ao menos genuinamente adverso ao colectivismo, com alguns pergaminhos demonstrados na contenção da vaca marsupial pública, e na limitação do seu tratador, o nefasto estado napoleónico-estalinista.

Como tal criatura manifestamente não se descobre entre os candidatos, essas esperançosas e sofridas almas inventaram um. Não vou gastar o meu latim a demolir as suas infundadas esperanças porque o Causa Liberal já o fez aqui, melhor do que eu poderia fazê-lo. Só acrescento que tudo indica que as convicções profundas do doutor Cavaco foram, são e serão as dum adepto do estado social, por muito que o seu sentido pragmático o faça declarar que temos que viver com a globalização. Temos, porque não há outro remédio. O doutor Cavaco é um keynesiano stricto sensu que vê no estado um instrumento privilegiado da política económica. Ele percebe que temos que viver com os mercados, porque não há outro remédio. Ele não vê um estado mínimo a regular as «imperfeições» do mercado. Ele vê o mercado a limitar os «excessos» do «monstro», usando as suas palavras.

Há ainda uma outra ilusão numa outra banda do espectro político. É no centro-direita não liberal que imagina o doutor Cavaco como o seu factótum que irá usar os mesmos expedientes do doutor Sampaio para dissolver o parlamento e para dar lugar a uma nova maioria, uma AD reconstruída, que aprovaria uma revisão constitucional, crisálida a partir da qual a lagarta do regime actual se transformaria na borboleta dum salvífico regime presidencial. Creio que estão profundamente enganados. E é nessa minha convicção, aliás, que reside o essencial das razões para não termos outro remédio senão pôr a cruzinha no nome do doutor Cavaco. Citando o falecido doutor Cunhal, vamos ter que engolir o sapo e é tudo. Não se faça disso uma expiação, mas não se faça também uma comemoração.

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