Outros posts sobre a religião como a política por outros meios.
Aviso: como qualquer frequentador regular do (Im)pertinência já terá tido oportunidade de constatar não sou fã do papa Francisco. Aquele aroma a teologia da libertação (ou teologia da submissão ao totalitarismo) faz-me tonturas, a mim que sou um agnóstico e adepto de a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Por isso o tenho criticado por andar a tentar reformar o mundo e ajudar a construir o socialismo, que como se sabe não correu bem no passado (União Soviética, Europa de Leste, China, etc.), nem corre bem no presente (Cuba, Venezuela, etc.), em vez de tentar reformar a Curia Romana, obra que não está ser nada fácil.
E também por isso fiquei surpreendido (e não, não é censura, é só surpresa) pelo inesperado exercício de realpolitik de Francisco que, para melhorar as relações diplomáticas entre o Vaticano e Pequim, está a deixar cair os «dois bispos ‘clandestinos’ (ou seja, que seguem as orientações de Roma e foram nomeados e ordenados à revelia do regime) que, no final do ano passado, foram abordados por uma equipa negocial do Vaticano que lhes propôs que resignassem aos seus lugares e dessem lugar a dois bispos nomeados pelo governo chinês.»
Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)
28/02/2018
27/02/2018
Dúvidas (216) - Como fará Rio um acordo com Costa até ao Verão sobre medidas que ainda não sabe quais sejam?
«António Capucho afirmou ao “SOL” do último sábado que a bancada parlamentar do partido anda a “fazer a cama a Rui Rio”, tal como António Capucho quis fazer a cama a Passos Coelho no passado (e acabou por se deitar na cama que fizera…). Ora, o que António Capucho, em abono da verdade e do rigor, deveria ter dito era que Rui Rio está desejoso de ir para a cama de António Costa - e o encontro já está marcado para o verão, talvez para aproveitar a fogosidade própria do calor que marca tal estação do ano. E já prometeu dose dupla: um duplo acordo com o PS para o verão! Rui Rio, que ainda não sabe o que deve defender em cada área, já sabe, no entanto, que quer chegar a acordo com o PS, dê por onde der! Até ao verão! É obra! Normalmente, as partes iniciam negociações e só depois fixam prazo para a sua conclusão; com Rui Rio, é ao contrário: primeiro fixa-se prazo para concluir o acordo com António Costa e só depois se pensa no conteúdo do acordo… Um mundo de pernas para o ar, portanto. »
«Rui Rio: na cama de António Costa já no verão?», João Lemos Esteves no jornal i
«Rui Rio: na cama de António Costa já no verão?», João Lemos Esteves no jornal i
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A mentira como política oficial (42) - As «taxas europeias» de Costa
Este tema já foi tratado pelo (Im)pertinências aqui e aqui.
A narrativa
Dia 12
Recado de Costa: «Governo português vai propor a criação de três impostos europeus. Estas novas fontes passam, segundo o mesmo responsável, pela criação de três tipos de impostos: a taxação digital, a taxação verde e a taxação sobre transações financeiras internacionais.» Fonte
Dia 23
Costa lui-même: «Os impostos que têm vindo a ser falados não são propriamente impostos que incidam sobre os portugueses» Fonte
Os factos
Taxas não são impostos (até o dos Afectos quando jurisconsulto deu um parecer sobre isso).
Nem o Parlamento Europeu nem o Conselho Europeu e muito menos a Comissão Europeia podem criar impostos que são da competência exclusiva dos parlamentos nacionais.
O que Costa diz que propôs já estava em discussão por várias razões, sendo a mais recente a saída do RU que vai representar uma quebra no orçamento europeu, e ao que parece esta proposta até já tinha sido apresentada em Junho de 2015 pelo governo PSD-CDS (que não tem de se orgulhar por isso, acrescente-se).
Os impostos terão de ser aprovados por cada parlamento e, evidentemente, incidirão sobre contribuintes de cada país, directa ou indirectamente; por exemplo a taxa sobre transacções financeiras internacionais incidirá sobre as transacções em que cidadãos ou empresas portuguesas estejam envolvidos.
Os países como Portugal, que são recebedores líquidos do orçamento europeu ou seja que recebem subsídios excedendo as suas contribuições, estão dispostos a aumentar as contribuições na esperança de ganharem mais alguma coisa na mercearia europeia.
A tradução da narrativa
Primeiro Costa, como de costume, tentou enfeitar-se com a estória de que tinha inventado os «taxas europeias», fazendo dos portugueses parvos (para o que não é preciso muito talento, reconheça-se).
De seguida, percebendo que a estória estava a ser desmontada e o que restava dela era apenas mais impostos e não podendo dizer em público que esperava com esta mercearia que o saldo a receber do orçamento europeu aumentasse, Costa insulta ainda mais a inteligência dos portugueses (que, como se viu, não eram muitos) e vem insinuar que esses impostos não incidiriam «propriamente» sobre os portugueses.
A narrativa
Dia 12
Recado de Costa: «Governo português vai propor a criação de três impostos europeus. Estas novas fontes passam, segundo o mesmo responsável, pela criação de três tipos de impostos: a taxação digital, a taxação verde e a taxação sobre transações financeiras internacionais.» Fonte
Repare-se no uso, nesta e noutras notícias, por manha ou ignorância, dos termos «taxação» e «taxas».
Dia 23
Costa lui-même: «Os impostos que têm vindo a ser falados não são propriamente impostos que incidam sobre os portugueses» Fonte
Os factos
Taxas não são impostos (até o dos Afectos quando jurisconsulto deu um parecer sobre isso).
Nem o Parlamento Europeu nem o Conselho Europeu e muito menos a Comissão Europeia podem criar impostos que são da competência exclusiva dos parlamentos nacionais.
O que Costa diz que propôs já estava em discussão por várias razões, sendo a mais recente a saída do RU que vai representar uma quebra no orçamento europeu, e ao que parece esta proposta até já tinha sido apresentada em Junho de 2015 pelo governo PSD-CDS (que não tem de se orgulhar por isso, acrescente-se).
Os impostos terão de ser aprovados por cada parlamento e, evidentemente, incidirão sobre contribuintes de cada país, directa ou indirectamente; por exemplo a taxa sobre transacções financeiras internacionais incidirá sobre as transacções em que cidadãos ou empresas portuguesas estejam envolvidos.
Os países como Portugal, que são recebedores líquidos do orçamento europeu ou seja que recebem subsídios excedendo as suas contribuições, estão dispostos a aumentar as contribuições na esperança de ganharem mais alguma coisa na mercearia europeia.
A tradução da narrativa
Primeiro Costa, como de costume, tentou enfeitar-se com a estória de que tinha inventado os «taxas europeias», fazendo dos portugueses parvos (para o que não é preciso muito talento, reconheça-se).
De seguida, percebendo que a estória estava a ser desmontada e o que restava dela era apenas mais impostos e não podendo dizer em público que esperava com esta mercearia que o saldo a receber do orçamento europeu aumentasse, Costa insulta ainda mais a inteligência dos portugueses (que, como se viu, não eram muitos) e vem insinuar que esses impostos não incidiriam «propriamente» sobre os portugueses.
26/02/2018
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (124)
Outras avarias da geringonça.
Segundo a Transparência Internacional, Portugal ficou em 2017 no 29.º lugar do ranking do Índice de Percepção de Corrupção ex aequo com o Qatar e no mesmo intervalo nos últimos 6 anos, com 63 pontos, mais um ponto do que em 2016 e menos um do que em 2015. Não podemos, evidentemente, atribuir à geringonça a falta de transparência do país, é mais ao contrário - podemos atribuir à falta de gosto pela transparência do país termos este zingarelho para nos governar.
A transposição da Diretiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros (DMIF II) se feita na versão minimalista já seria de uma enorme complexidade. Adicionar-lhe toneladas de palha a pretexto de evitar que os bancos vendam gato por lebre, aproveitando-se da ignorância dos seus clientes e da falta de escrúpulos dos seus dirigentes e empregados, arrisca-se a transformá-la numa ejaculação legislativa de 1.400 páginas, sob a forma de uma proposta de lei apresentada ao parlamento pelo governo. A coisa, além de típica de um governo socialista, pode ter um resultado comparável ao do decreto-lei de 2006 de Sócrates que fixou regras como «cortar todas as árvores e arbustos a menos de 5 metros das casas e impedir que os ramos cresçam sobre o telhado» e doze anos e milhões de hectares ardidos depois deu agora origem ao email da Autoridade Tributária enviado a todos os sujeitos passivos a ameaçá-los com coimas.

A transposição da Diretiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros (DMIF II) se feita na versão minimalista já seria de uma enorme complexidade. Adicionar-lhe toneladas de palha a pretexto de evitar que os bancos vendam gato por lebre, aproveitando-se da ignorância dos seus clientes e da falta de escrúpulos dos seus dirigentes e empregados, arrisca-se a transformá-la numa ejaculação legislativa de 1.400 páginas, sob a forma de uma proposta de lei apresentada ao parlamento pelo governo. A coisa, além de típica de um governo socialista, pode ter um resultado comparável ao do decreto-lei de 2006 de Sócrates que fixou regras como «cortar todas as árvores e arbustos a menos de 5 metros das casas e impedir que os ramos cresçam sobre o telhado» e doze anos e milhões de hectares ardidos depois deu agora origem ao email da Autoridade Tributária enviado a todos os sujeitos passivos a ameaçá-los com coimas.
25/02/2018
Dúvidas (215) - E se Rio tivesse tido 88 ou 130 vezes mais votos?
«Considerando-se legitimado pelos assombrosos 22.611 votos que recebeu no Congresso do PSD, Rui Rio propõe-se estabelecer acordos com António Costa em matéria de Justiça, Segurança Social, reforma do Estado e descentralização.
Nem quero imaginar o que teria Rui Rio para acordar caso tivesse ganho as eleições em 2015 com 1.993.921 votos como aconteceu com Passos Coelho. Obviamente Portugal não seria o limite à sua ânsia de ruptura nem Costa um interlocutor à altura de tal grandeza e quero acreditar que Rui Rio acabaria a propor a Espanha um novo Tratado de Tordesilhas ou um acordo ao Japão e à China para desbloqueamento da contenda em torno ilhas Senkaku que opõe aqueles dois países. E nem se consegue conceber o que se sentiria Rui Rio mandatado para fazer se porventura alguma vez se aproximasse dos quase três milhões de votos conseguidos por Cavaco Silva em 1991!»
Os frágeis, Helena Matos no Observador
Nem quero imaginar o que teria Rui Rio para acordar caso tivesse ganho as eleições em 2015 com 1.993.921 votos como aconteceu com Passos Coelho. Obviamente Portugal não seria o limite à sua ânsia de ruptura nem Costa um interlocutor à altura de tal grandeza e quero acreditar que Rui Rio acabaria a propor a Espanha um novo Tratado de Tordesilhas ou um acordo ao Japão e à China para desbloqueamento da contenda em torno ilhas Senkaku que opõe aqueles dois países. E nem se consegue conceber o que se sentiria Rui Rio mandatado para fazer se porventura alguma vez se aproximasse dos quase três milhões de votos conseguidos por Cavaco Silva em 1991!»
Os frágeis, Helena Matos no Observador
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ACREDITE SE QUISER: Em casa de ferreiro, espeto de pau
«Os passaportes, como qualquer identificação física, podem ser alterados e forjados. Em parte, porque, nos últimos 11 anos, os Estados Unidos colocaram os chips RFID no painel traseiro de seus passaportes, criando os chamados e-Passports. O chip armazena suas informações de passaporte - como nome, data de nascimento, número de passaporte, sua foto e até um identificador biométrico - para verificações de fronteira rápidas e legíveis por máquina. E enquanto os passaportes electrónicos também armazenam uma assinatura criptográfica para evitar falsificações ou falsificações, verifica-se que, apesar de ter tido mais de uma década para fazê-lo, a Alfândega e a Protecção de Fronteira dos Estados Unidos não implantaram o software necessário para efectivamente verificar.
(...)
A situação parece particularmente vergonhosa dado que os EUA lideraram a promoção de e-passaportes em todo o mundo. "Eu assumi que eles verificariam isso", diz Martijn Grooten, um investigador de segurança para a plataforma de informação e teste Virus Bulletin. "Isso pode causar alguns murmúrios entre os países no programa de isenção de visto: os EUA exigiram que eles ofereçam passaportes electrónicos e, em seguida, apenas implementaram parcialmente o sistema. É um pouco embaraçoso".»
De um artigo da Wired
Não é mortalmente ridículo que uma administração Trump que se diz tão preocupada com a segurança dos americanos, impede a entrada nos EU de cidadãos de vários países e quer expulsar outros que lá vivem há anos ou décadas, falhe estrondosamente (como as duas administrações Obama, recorde-se) numa questão simples mas decisiva?
(...)
A situação parece particularmente vergonhosa dado que os EUA lideraram a promoção de e-passaportes em todo o mundo. "Eu assumi que eles verificariam isso", diz Martijn Grooten, um investigador de segurança para a plataforma de informação e teste Virus Bulletin. "Isso pode causar alguns murmúrios entre os países no programa de isenção de visto: os EUA exigiram que eles ofereçam passaportes electrónicos e, em seguida, apenas implementaram parcialmente o sistema. É um pouco embaraçoso".»
De um artigo da Wired
Não é mortalmente ridículo que uma administração Trump que se diz tão preocupada com a segurança dos americanos, impede a entrada nos EU de cidadãos de vários países e quer expulsar outros que lá vivem há anos ou décadas, falhe estrondosamente (como as duas administrações Obama, recorde-se) numa questão simples mas decisiva?
24/02/2018
Dúvidas (214) – Quem é realmente Alexis Tsipras? (4)
[Continuação de (1), (2) e (3)]
Esta é uma dúvida que já vem de 2015 e vem sendo gradualmente respondida. Por exemplo, a propósito dos protestos em Atenas pelas restrições ao direito de greve propostas pelo governo de Tsipra ao Parlamento, escreveu-se o mês passado aqui no (Im)pertinências que Tsipras e os seus camaradas foram evoluindo do esquerdismo infantil para a social-democracia colorida.
Mais recentemente o Expresso que foi a Atenas a convite da CE, relatou num artigo, cujo título quase dispensa a sua leitura («Como o 'perigoso' esquerdista passou a falar para os mercados»), as suas impressões assim:
«Mas, quem ouvisse esta quarta-feira o chefe do Governo grego talar, poderia até achar que estava a falar com um 'homem dos mercados'. "As yields [taxas de juro] da dívida a 10 anos em 3,7% é um voto de confiança na economia grega por parte dos investidores e dos mercados de capitais", sublinhou Alexis Tsipras num encontro com jornalistas na sua residência oficial em Atenas.
A Grécia está a seis meses de terminar o (longuíssimo) resgate que dura há oito anos e quer ter uma 'saída limpa', como tiveram Portugal e Irlanda. Ou seja, sair sem qualquer tipo de programa cautelar, que implica sempre eventuais medidas adicionais ou, pelo menos, um controlo mais rigoroso das instituições credoras internacionais. Tsipras sabe disso e, por isso, destaca os pontos positivos da economia grega nesta altura: uma economia que voltou a crescer depois de ter acumulado uma queda na ordem dos 25% do PIB durante os anos de recessão, um desemprego que caiu quase un1 terço desde o pico e saúde nas contas públicas.
(…)
Em poucas palavras, o primeiro-ministro que lidera os gregos desde 2015 e que dentro de pouco mais de um ano e meio vai voltar a eleições resume o espírito que se vive em Atenas: "A Grécia está diferente". Aquele que era visto como um perigoso esquerdista em 2015, quando chegou ao poder, pede mais para o futuro e, para isso, conta com reformas estruturais e uma nova estratégia de crescimento. As reformas estruturais que estão sempre no discurso nas instituições internacionais e que aqui Tsipras assume como suas. Diz mesmo: "Não temos a ownership da austeridade mas temos a ownership das reformas estruturais."»
Mais recentemente o Expresso que foi a Atenas a convite da CE, relatou num artigo, cujo título quase dispensa a sua leitura («Como o 'perigoso' esquerdista passou a falar para os mercados»), as suas impressões assim:
A Grécia está a seis meses de terminar o (longuíssimo) resgate que dura há oito anos e quer ter uma 'saída limpa', como tiveram Portugal e Irlanda. Ou seja, sair sem qualquer tipo de programa cautelar, que implica sempre eventuais medidas adicionais ou, pelo menos, um controlo mais rigoroso das instituições credoras internacionais. Tsipras sabe disso e, por isso, destaca os pontos positivos da economia grega nesta altura: uma economia que voltou a crescer depois de ter acumulado uma queda na ordem dos 25% do PIB durante os anos de recessão, um desemprego que caiu quase un1 terço desde o pico e saúde nas contas públicas.
(…)
Em poucas palavras, o primeiro-ministro que lidera os gregos desde 2015 e que dentro de pouco mais de um ano e meio vai voltar a eleições resume o espírito que se vive em Atenas: "A Grécia está diferente". Aquele que era visto como um perigoso esquerdista em 2015, quando chegou ao poder, pede mais para o futuro e, para isso, conta com reformas estruturais e uma nova estratégia de crescimento. As reformas estruturais que estão sempre no discurso nas instituições internacionais e que aqui Tsipras assume como suas. Diz mesmo: "Não temos a ownership da austeridade mas temos a ownership das reformas estruturais."»
Não admira, pois, que Tsipras e o Syriza tenham simplesmente desaparecido em combate para o jornalismo de causas doméstico.
23/02/2018
Encalhados numa ruga do contínuo espaço-tempo (80) - Há mais vida para além da esquerdalhada, dos compagnons de route, dos idiotas úteis e das múmias da direita
Até ler ontem dois artigos do Observador - «A esquerda contra a liberdade» de Paulo Tunhas e «A obsessão com a “direita radical”» de João Marques de Almeida, confesso não tinha noção que dois jovens faróis da esquerdalhada, Pedro Nuno Santos e Mariana Mortágua, e Pacheco Pereira, Manuel Loff, Daniel Oliveira, entre outros, uma colecção de lâmpadas fundidas do maoísmo retardado, do estalinismo bolorento e da transumância ideológica, andam obcecados com a «ofensiva liberal – ou neoliberal», os dois primeiros, e com a «direita radical» alojada no Observador, os restantes.
É um bom sinal. Talvez, pela primeira vez, eles se tenham apercebido que, como dizia o choroso Sampaio a respeito do orçamento, há mais vida para além da esquerdalhada, dos compagnons de route, dos idiotas úteis e das múmias da direita.
É um bom sinal. Talvez, pela primeira vez, eles se tenham apercebido que, como dizia o choroso Sampaio a respeito do orçamento, há mais vida para além da esquerdalhada, dos compagnons de route, dos idiotas úteis e das múmias da direita.
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22/02/2018
LASCIATE OGNI SPERANZA, VOI CH'ENTRATE: A derrota anunciada auto-infligida de Rui Rio
Este post é como que uma continuação dali e dacoli.
Costa, em resposta à candidatura de Rui Rio a seu parceiro, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda, já tinha mandado dizer por interposto Pedro Marques que acordos sim, mas com «todos os partidos e por maioria de razão com os que têm apoiado esta solução política».
Talvez receando que Rio seja duro de ouvido, Costa mandou Carlos César falar mais grosso na entrevista de hoje ao Visão e fazer a seguinte pergunta retórica, talvez também em nome da sua mulher, do seu filho, da sua nora e do seu irmão, todos por ele empregados no Estado Sucial:

Talvez receando que Rio seja duro de ouvido, Costa mandou Carlos César falar mais grosso na entrevista de hoje ao Visão e fazer a seguinte pergunta retórica, talvez também em nome da sua mulher, do seu filho, da sua nora e do seu irmão, todos por ele empregados no Estado Sucial:
«Nós não viabilizamos um Governo minoritário do PSD. Não viabilizámos agora [nesta legislatura], porque haveríamos de viabilizar em 2019?»Rio que produziu esforçadamente umas ideias espectaculares que poderiam ser subscritas pelo PS de António Costa, pelo CDS de Assunção Cristas, pelo Bloco de Esquerda de Catarina Martins e pelo PCP de Jerónimo de Sousa, para pôr a coisa como João Miguel Tavares a pôs, vê agora o PS a mandar para o caixote de lixo da história aquela sua única ideia clara e original.
CASE STUDY: Startups without venture capital it's a fraud
Com grande estrondo mediático, a Chic by Choice, uma startup de aluguer de vestidos de luxo, afundou-se ou, melhor, foi declarado o afundamento que já vinha pelo menos desde 2016, quando com uma facturação que não chegou a 300 mil euros teve prejuízos de um milhão de euros. Não vou contar a estória que está contada em vários sítios (por exemplo no Observador), sublinho apenas o facto burlesco de há 7 meses, já depois de afundada, as duas jovens empresárias da Chic by Choice foram incluídas pela Forbes nas 30 mais brilhantes da Europa. Imagino que tinham bons contactos.
A morte de um startup é um facto normalíssimo da vida empresarial porque a taxa de mortalidade é muito alta. No caso português, porém, suspeito que a taxa de mortalidade seja muito próxima de 100% e a morte ocorra subitamente quando acabam os subsídios e os dinheiros públicos, porque nos faltam os venture capitalists, isto é umas criaturas com dinheiro para investir e gosto pelo risco que fazem uma triagem das ideias e projectos que lhes são apresentados a apostam naqueles em que acreditam. Isto é, metem o seu dinheiro onde metem a sua boca.
No caso português, a maior parte do investimento é feito por fundos de dinheiros maioritariamente públicos. Por exemplo, no caso da Chic by Choice, foi a sociedade pública de capital de risco Portugal Ventures que financiou o projecto através do Fundo de Capital e Quase-Capital da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD), uma espécie de banco de fomento inventado pelo governo PSD-CDS que até agora não fez nada de relevante.
O que faz a gente que habita estas entidades? Desde logo, é gente que nunca criou um posto de trabalho nem arriscou um cêntimo do seu dinheiro, cujos responsáveis se queixam de terem fundos disponíveis não utilizados e que medem o seu sucesso pelo dinheiro enterrado em projectos fantasiosos. Só pode acabar mal.
A morte de um startup é um facto normalíssimo da vida empresarial porque a taxa de mortalidade é muito alta. No caso português, porém, suspeito que a taxa de mortalidade seja muito próxima de 100% e a morte ocorra subitamente quando acabam os subsídios e os dinheiros públicos, porque nos faltam os venture capitalists, isto é umas criaturas com dinheiro para investir e gosto pelo risco que fazem uma triagem das ideias e projectos que lhes são apresentados a apostam naqueles em que acreditam. Isto é, metem o seu dinheiro onde metem a sua boca.
No caso português, a maior parte do investimento é feito por fundos de dinheiros maioritariamente públicos. Por exemplo, no caso da Chic by Choice, foi a sociedade pública de capital de risco Portugal Ventures que financiou o projecto através do Fundo de Capital e Quase-Capital da Instituição Financeira de Desenvolvimento (IFD), uma espécie de banco de fomento inventado pelo governo PSD-CDS que até agora não fez nada de relevante.
O que faz a gente que habita estas entidades? Desde logo, é gente que nunca criou um posto de trabalho nem arriscou um cêntimo do seu dinheiro, cujos responsáveis se queixam de terem fundos disponíveis não utilizados e que medem o seu sucesso pelo dinheiro enterrado em projectos fantasiosos. Só pode acabar mal.
21/02/2018
DIÁRIO DE BORDO: Dead broke, disse ele
«Any institution that requires society to come and bail it out for society´s sake should have a system in place that leaves its CEO and his spouse dead broke.»
Warren Bufett aos accionistas da Berkshire Hathaway na Assembleia Geral de 30 de Abril de 2010
(Enviado por JA, que teve como colega o DDT, quando jovem estudante)
Warren Bufett aos accionistas da Berkshire Hathaway na Assembleia Geral de 30 de Abril de 2010
(Enviado por JA, que teve como colega o DDT, quando jovem estudante)
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20/02/2018
AVALIAÇÃO CONTÍNUA: A derrota anunciada auto-infligida de Rui Rio
Este post é como que uma continuação deste outro.
Secção Tiros nos pés
À proposta do novo líder do PSD de candidatura «a parceiro de Costa, em substituição do PCP e do Bloco de Esquerda», Rui Rio obteve a resposta que devia ter previsto e não previu.
Costa mandou dizer por interposto Pedro Marques que acordos sim, mas com «todos os partidos e por maioria de razão com os que têm apoiado esta solução política».
Ou, dito em português corrente, põe-te na fila atrás do BE, do PCP e do seu apêndice verde.
Por estas e por outras, leva dois afonsos, por uma firmeza mal usada (para impor dois vice-presidentes que são uma espécie de contra-exemplo ético) e cinco chateaubriands por confundir as suas fantasias com o mundo real.
Secção Tiros nos pés

Costa mandou dizer por interposto Pedro Marques que acordos sim, mas com «todos os partidos e por maioria de razão com os que têm apoiado esta solução política».
Ou, dito em português corrente, põe-te na fila atrás do BE, do PCP e do seu apêndice verde.
Por estas e por outras, leva dois afonsos, por uma firmeza mal usada (para impor dois vice-presidentes que são uma espécie de contra-exemplo ético) e cinco chateaubriands por confundir as suas fantasias com o mundo real.
Pro memoria (370) - No caso da banca portuguesa é mais um círculo viciado
Uma amostra de 76 bancos analisados o ano passado pelas autoridades de supervisão bancária europeias, segundo a Economist (Breaking the doom loop, Fev 3), tinha uma exposição de 1,7 biliões de euros à dívida pública dos estados membros, dos quais cerca de 2/3 (1,1 biliões) eram dívida dos países onde esses bancos têm a sede, montante que excede em 10% o common equity tier-one capital (grosso modo os capitais próprios) desses bancos (na altura 1 bilião).
Nisso consiste o doom loop (círculo vicioso) a que se refere a Economist. As dificuldades de financiamento dos Estados repercutem-se nos bancos, os quais pressionados a comprar mais dívida pública acabam a registar imparidades com a subida dos yields e a ter no limite de ser resgatados pelo Estado, que fica ainda mais endividado.
No caso português, no final de 2017 a dívida pública directa total do Estado segundo o IGCP era de 238,3 mil milhões de euros. Segundo números citados pelo Expresso, o financiamento total da banca portuguesa ao Estado atinge 47 mil milhões, ou seja praticamente 1/5 da dívida total, e estimo que seja uma vez e meia o montante os fundos próprios de base totais para efeitos de solvabilidade (common equity tier-one capital).
Se 1,1 constitui um círculo vicioso, que figura geométrica viciosa constituem 1,5? Tomemos nota para memória futura quando a geringonça começar a chutar a bola para o neoliberalismo, a economia de casino e as agências de rating.
Nisso consiste o doom loop (círculo vicioso) a que se refere a Economist. As dificuldades de financiamento dos Estados repercutem-se nos bancos, os quais pressionados a comprar mais dívida pública acabam a registar imparidades com a subida dos yields e a ter no limite de ser resgatados pelo Estado, que fica ainda mais endividado.
No caso português, no final de 2017 a dívida pública directa total do Estado segundo o IGCP era de 238,3 mil milhões de euros. Segundo números citados pelo Expresso, o financiamento total da banca portuguesa ao Estado atinge 47 mil milhões, ou seja praticamente 1/5 da dívida total, e estimo que seja uma vez e meia o montante os fundos próprios de base totais para efeitos de solvabilidade (common equity tier-one capital).
Se 1,1 constitui um círculo vicioso, que figura geométrica viciosa constituem 1,5? Tomemos nota para memória futura quando a geringonça começar a chutar a bola para o neoliberalismo, a economia de casino e as agências de rating.
19/02/2018
Crónica da anunciada avaria irreparável da geringonça (123)
Outras avarias da geringonça.
Continua a celebração do "maior crescimento do século" (2,7%), feito que a geringonça se atribui, como se das reversões, reposições e restituições de «direitos adquiridos» brotassem turistas (as receitas do turismo aumentaram 16,6% em 2017) e florescessem exportações, que têm sido os factores determinantes do crescimento. E passando ao lado do facto de 19 dos 28 membros da UE, nenhum deles bafejado por algo parecido com uma geringonça, terem crescido em 2017 mais do que Portugal. E voltando a passar ao lado do facto de a CE prever que Portugal voltará a divergir em 2018 e 2019, com um crescimento de 2,2% e 1,9%, abaixo da UE e abaixo de todos os outros países com excepção da França, Itália e Bélgica.
Divergência no crescimento que poderá acentuar-se porque continuamos sem recuperar o diferencial de produtividade face à média europeia e até o estamos a agravar, visto os custos de trabalho, que já tinham aumentado 1,4% em 2016, aumentaram 2,5% em 2017. E o aumento está em aceleração porque no quarto trimestre de 2017 o Índice de Custo do Trabalho ajustado de dias úteis teve um aumento homólogo de 4,7%. Note-se que, como seria de esperar, este aumento foi maior no sector de bens não transaccionáveis que não está sujeito à concorrência internacional (aumento de 3,6% contra 1,7%).

Divergência no crescimento que poderá acentuar-se porque continuamos sem recuperar o diferencial de produtividade face à média europeia e até o estamos a agravar, visto os custos de trabalho, que já tinham aumentado 1,4% em 2016, aumentaram 2,5% em 2017. E o aumento está em aceleração porque no quarto trimestre de 2017 o Índice de Custo do Trabalho ajustado de dias úteis teve um aumento homólogo de 4,7%. Note-se que, como seria de esperar, este aumento foi maior no sector de bens não transaccionáveis que não está sujeito à concorrência internacional (aumento de 3,6% contra 1,7%).
18/02/2018
A esquerda viveu dos rendimentos e ainda vive

Uma epifania inesperada de Clara Ferreira Alves, contribuinte regular da esquerda, na sua coluna Pluma Caprichosa na Revista do Expresso, a propósito da declaração supérflua de Adolfo Mesquita Nunes sobre as suas preferências sexuais
NÓS VISTOS POR ELES: O estuário do Tejo segundo Charles Sprawson
Charles Sprawson, nascido no Paquistão e educado em Dublin e em Londres, ensinou literatura na Arábia Saudita, esteve ligado às Belas Artes em Londres e viajou por todo o mundo fazendo obsessivamente o que mais gostava da fazer - nadar em qualquer sítio onde houvesse água, nas gélidas praias inglesas, no Canal da Mancha, no Tibre, no estreito de Dardanelos (Helesponto), na Antártica, no Niagara, em Gallipoli, etc., um grande etc.
Nos finais dos anos 80 Sprawson escreveu um artigo para a revista The London Magazine sobre escritores nadadores, incluindo Byron, Rupert Brooke, Jack London, Allen Poe, André Gide e Virginia Woolf (que nadava nua). Juntou assim dois dos seus temas favoritos: a literatura e a natação. A partir desse artigo escreveu a sua primeira e única obra Haunts of the Black Masseur: The Swimmer as Hero, um livro inspirado, publicado em 1992 com um enorme sucesso literário e de vendas.
Entre as experiências pessoais de natação relatadas por Sprawson no seu livro, incluiu uma no estuário do Tejo, imagine-se. Vale a pena ler o relato do episódio pela escritora irlandesa Iris Murdoch, ela própria uma nadadora exímia, na sua crítica na New York Review of Books:
«Having graduated in the Bosphorus, like Byron, Mr. Sprawson went on to tackle the Tagus estuary at Lisbon, a much more demanding swim as it turned out, and one endangered by giant tankers as well as unpredictable tides. Normally he is not fussy, as I am not myself, about the quality of the water he swims in; although all bathers would of course prefer a green pure foaming element to a stagnant one. But the pollution in the Lisbon estuary was too much for him, and together with the tides and the tankers it forced him to abandon the swim.»
Iris Murdoch não menciona que o abandono da travessia do Tejo não se ficou a dever apenas à poluição: Sprawson foi impedido pela polícia marítima portuguesa. Devia ter pedido a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa que no Verão de 1989 fez o seu mergulho no Tejo e sobreviveu. Sabe Deus se não foi infectado por um daqueles germes que pululavam naquelas águas conspurcadas, suspeita que ganha alguma verosimilhança pelo que se viu nas décadas seguintes.
Charles Sprawson, actualmente com 76 anos, pobre como Jó, com problemas mentais e a viver num lar de idosos em Londres, bem precisa que lhe comprem a reedição do Haunts que estará à venda ainda este ano.
Nos finais dos anos 80 Sprawson escreveu um artigo para a revista The London Magazine sobre escritores nadadores, incluindo Byron, Rupert Brooke, Jack London, Allen Poe, André Gide e Virginia Woolf (que nadava nua). Juntou assim dois dos seus temas favoritos: a literatura e a natação. A partir desse artigo escreveu a sua primeira e única obra Haunts of the Black Masseur: The Swimmer as Hero, um livro inspirado, publicado em 1992 com um enorme sucesso literário e de vendas.
Charles Sprawson nas Ilhas Virgens em 2010 |
«Having graduated in the Bosphorus, like Byron, Mr. Sprawson went on to tackle the Tagus estuary at Lisbon, a much more demanding swim as it turned out, and one endangered by giant tankers as well as unpredictable tides. Normally he is not fussy, as I am not myself, about the quality of the water he swims in; although all bathers would of course prefer a green pure foaming element to a stagnant one. But the pollution in the Lisbon estuary was too much for him, and together with the tides and the tankers it forced him to abandon the swim.»
Iris Murdoch não menciona que o abandono da travessia do Tejo não se ficou a dever apenas à poluição: Sprawson foi impedido pela polícia marítima portuguesa. Devia ter pedido a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa que no Verão de 1989 fez o seu mergulho no Tejo e sobreviveu. Sabe Deus se não foi infectado por um daqueles germes que pululavam naquelas águas conspurcadas, suspeita que ganha alguma verosimilhança pelo que se viu nas décadas seguintes.
Marcelo saindo das águas conspurcadas |
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17/02/2018
ACREDITE SE QUISER: A burra da presidente trata dos espaços "vermelhos"
«É, pois, a esta luz que cumpre apreciar a tipicidade da conduta do arguido ao escrever na rede social “Facebook”, referindo-se à ofendida B, que exerce as funções de Presidente da União de Freguesias de …, o seguinte texto:
- “A galinha é minha a égua é dos ciganos a relva essa é da responsabilidade da UF de …, é triste ter de ser as minhas galinhas a égua dos ciganos, a ovelha do Manuel, a cabra do Xico a tratar da manutenção dos espaços verdes da nossa aldeia porque a burra da presidente essa não o faz essa trata de outros espaços “Vermelhos” e está-se a cagar para o resto”, sendo certo que se considerou na sentença recorrida que apenas a locução “a burra da presidente” integra os elementos típicos do crime de difamação pelo qual o arguido vem condenado.
(...)
Assim, apenas deve restringir-se a liberdade de expressão nas situações em que os direitos de personalidade, maxime o direito ao bom nome e reputação (art. 26º CRP), sejam verdadeiramente postos em causa e de forma significativa, evitando que a invocação da sua ofensa possa surgir antes como forma de restringir a liberdade de crítica dos cidadãos e a discussão ampla e aberta das questões de interesse público.
Concluímos pois, contrariamente à sentença recorrida, que a expressão “burra da presidente” não é ofensiva da honra e consideração da ofendida no contexto em que o arguido a usou...»
Acórdão de 23-01-2018 do Tribunal da Relação de Évora sobre um recurso interposto por um cidadão de Albernoa contra uma condenação por crime de difamação da presidente da junta de freguesia.
- “A galinha é minha a égua é dos ciganos a relva essa é da responsabilidade da UF de …, é triste ter de ser as minhas galinhas a égua dos ciganos, a ovelha do Manuel, a cabra do Xico a tratar da manutenção dos espaços verdes da nossa aldeia porque a burra da presidente essa não o faz essa trata de outros espaços “Vermelhos” e está-se a cagar para o resto”, sendo certo que se considerou na sentença recorrida que apenas a locução “a burra da presidente” integra os elementos típicos do crime de difamação pelo qual o arguido vem condenado.
(...)
Assim, apenas deve restringir-se a liberdade de expressão nas situações em que os direitos de personalidade, maxime o direito ao bom nome e reputação (art. 26º CRP), sejam verdadeiramente postos em causa e de forma significativa, evitando que a invocação da sua ofensa possa surgir antes como forma de restringir a liberdade de crítica dos cidadãos e a discussão ampla e aberta das questões de interesse público.
Concluímos pois, contrariamente à sentença recorrida, que a expressão “burra da presidente” não é ofensiva da honra e consideração da ofendida no contexto em que o arguido a usou...»
Acórdão de 23-01-2018 do Tribunal da Relação de Évora sobre um recurso interposto por um cidadão de Albernoa contra uma condenação por crime de difamação da presidente da junta de freguesia.
16/02/2018
Um governo à deriva (38) - Um país, dois sistemas
«Isto é bem a clássica fórmula de “um país, dois sistemas”: um sistema para os estrangeiros, outro sistema para os nacionais. Costa deseja espanhóis na banca, chineses na energia, franceses nos aeroportos. Para os estrangeiros, o governo faz de Portugal o novo faroeste do capitalismo, o maior paraíso fiscal da Europa, onde os reformados do norte podem vir gastar as suas pensões sem terem de pensar em impostos. Para os nacionais, o governo tem outro Portugal: um Portugal onde o Estado se apropria da maior parte do que os cidadãos ganham e poupam, e onde ninguém sabe hoje qual será a lei amanhã (veja-se o alojamento local). Um país muito liberal para os estrangeiros, e muito socialista para os nacionais.
Mas esta dualidade não corresponde só as necessidades de um Estado endividado numa economia descapitalizada, a precisar de atrair estrangeiros e de espoliar nacionais. Corresponde também às conveniências de um grupo de políticos que dependem de toda a espécie de equívocos e de mal entendidos para se manterem no poder. Costa e os seus colegas de governo viram fracassar as ideias de Guterres, os métodos de Sócrates, e até, nas eleições de 2015, a sua própria estratégia pós-troika. Já não acreditam em nada nem confiam em ninguém. Dizem o que cada um quer ouvir. Têm tido sorte. Não sabem quanto tempo vai durar. Até lá, aproveitam.»
«António Costa: uma coisa em Portugal, outra coisa em Espanha», Rui Ramos no Observador
Mas esta dualidade não corresponde só as necessidades de um Estado endividado numa economia descapitalizada, a precisar de atrair estrangeiros e de espoliar nacionais. Corresponde também às conveniências de um grupo de políticos que dependem de toda a espécie de equívocos e de mal entendidos para se manterem no poder. Costa e os seus colegas de governo viram fracassar as ideias de Guterres, os métodos de Sócrates, e até, nas eleições de 2015, a sua própria estratégia pós-troika. Já não acreditam em nada nem confiam em ninguém. Dizem o que cada um quer ouvir. Têm tido sorte. Não sabem quanto tempo vai durar. Até lá, aproveitam.»
«António Costa: uma coisa em Portugal, outra coisa em Espanha», Rui Ramos no Observador
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