Our Self: Um blogue desalinhado, desconforme, herético e heterodoxo. Em suma, fora do baralho e (im)pertinente.
Lema: A verdade é como o azeite, precisa de um pouco de vinagre.
Pensamento em curso: «Em Portugal, a liberdade é muito difícil, sobretudo porque não temos liberais. Temos libertinos, demagogos ou ultramontanos
de todas as cores, mas pessoas que compreendam a dimensão profunda da liberdade já reparei que há muito poucas.
» (António Alçada Baptista)
The Second Coming: «The best lack all conviction, while the worst; Are full of passionate intensity» (W. B. Yeats)

30/11/2008

ARTIGO DEFUNTO: Excessos de zelo.

Por vezes uma ou outra engrenagem da maior e melhor máquina de manipulação algum dia montada no país salta dos carretos, comprometendo a eficácia manipulativa. Foi o caso do artigo da página 20 do caderno Confidencial do Sol com o inacreditável título «Plano anti-crise de Sócrates arrancou em Março», onde se insinua que o plano da Comissão Europeia é uma espécie de cópia desajeitada do plano doméstico e se escreve coisas como «em Portugal, os primeiros passos do plano anti-crise remontam a Março, quando Sócrates anunciou a baixa do IVA de 21% para 20%,... alívio aos encargos fiscais dos camionistas,..., redução do IMI...».

Vamos esquecer que o ministro Pinho anunciou o fim da crise há dois anos. Lembremo-nos tão só o anúncio, precisamente em Março, do fim da crise orçamental pelo senhor engenheiro para justificar a redução do IVA, quando disse «não me recordo de um período em que o país tivesse que fazer um ajustamento orçamental com os resultados que temos e, ao mesmo tempo, tivéssemos uma subida no crescimento económico e não uma recessão». Lembremo-nos também que o «alívio aos encargos fiscais dos camionistas» foi a cedência à chantagem sob a forma de lock-out e boicote dos camionistas. Recordemos ainda que a redução do IMI é da responsabilidade das câmaras (a maioria do PSD) e não esqueçamos que até à débâcle do Lehman Brothers há dois meses o governo garantia que economia portuguesa estava ao abrigo da crise.

A central de manipulação do senhor engenheiro tem obrigação de instruir os jornalistas de serviço para evitar o manteiguismo óbvio destas distorções grosseiras e ganhar um pouco mais de sofisticação. Já nem se fala da reinvenção da comissão de censura ensaiada pela Agência Lusa ao proibir o uso da palavra «estagnação».

Longe deste primarismo estão as «notícias» dedicadas ao caso BPN no Expresso, por exemplo: «Cavaco não explica acções do BPN» no caderno principal e «Carta a um homem inteligente, meticuloso e cuidadoso» no caderno Economia. Numa e noutra, com vénias e considerações laudatórias, directamente ou por interposto doutor Dias Loureiro, a credibilidade do doutor Cavaco (que se tem posto bastante a jeito, diga-se), é cuidadosamente posta em causa. É um exemplo do aproveitamento da sorte grande que já está em marcha para cozer o doutor Cavaco em lume lento, trabalhando para conseguir a segunda maioria absoluta do PS e evitar o segundo mandato do PR.

28/11/2008

ESTADO DE SÍTIO: O partido da factura.

Não sei se está em marcha uma conspiração para reconstruir o Bloco Central, como parece admitir Paulo Morais. Com ou sem conspiração, pode ser que lá se chegue pela convergência de realidades (o desgaste resultante da deterioração da situação económica, o ressentimento de corporações como professores, militares e juízes) e de interesses (do PS, do PSD e de Cavaco Silva), no caso possível, mas em minha opinião não muito provável (ver «Saiu-lhe a sorte grande»), da perda de maioria do PS.

Se for assim, sem dúvida, acontecerá como prevê Paulo Morais [via Blasfémias]:

«Esta nova união nacional promoverá os mega-investimentos públicos que a crise aparentemente justifica, os neokeynesianos doutrinam e o presidente da República apadrinha. Construir-se-á o TGV, desbaratando 15 mil milhões de euros num projecto absolutamente inútil. Além do novo aeroporto de Lisboa, da nova travessia sobre o Tejo e o que mais virá.

Envergonhando a sua história, o PSD será protagonista desta tragédia. Quando mais os portugueses precisariam que se assumisse como partido de fractura, este apresenta-se como o "partido da factura". Negociando votos em troca de favores a amigos.
»

27/11/2008

CASE STUDY: Mobilidade especial

O banqueiro João Rendeiro, presidente e accionista do Banco Privado Português, é um exemplo vivo do sucesso avant la lettre do plano de mobilidade especial do senhor engenheiro. O banqueiro confessa na sua auto-biografia apresentada no princípio da semana que é um funcionário público em licença ilimitada.

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (6) middle-of-the-road

[Episódios anteriores (1), (2), (3), (4) e (5)]


Barack Obama criou um painel de aconselhamento económico e nomeou Paul Volcker para o liderar. Antigo presidente da Reserva Federal, apesar de tradicionalmente do partido Democrata e ter sido nomeado por Carter, Volcker tem aos olhos da obamófilia várias manchas negras no cadastro. A primeira for ter sido renomeado por Reagan em 1983. A segunda foi ter combatido com tanto rigor a inflação que foi demonizado pelos democratas e chegou a ter o gabinete invadido por desempregados, protestando contra a sua política. Para a obamófilia tem a seu favor uma fé limitada nos mercados. Contudo, ó obamófilos europeus não vos exciteis porque o «fé» e «limitada» têm outros referenciais. Na Europa, provavelmente vôvô Volcker (81 anos) seria considerado um suspeito liberal.

26/11/2008

ESTADO DE SÍTIO: Saiu-lhe a sorte grande.

Quais são os 3 maiores obstáculos ou ameaças à maioria absoluta do PS nas próximas eleições?

Em primeiro lugar, o estado da ecoanomia . Crescimento anémico, estagnação, não convergência real com a EU, défice crescente da balança comercial, peso desmesurado das despesas públicas, défice reduzido à custo do aumento da carga fiscal, endividamento público e privado a aumentar, desemprego que se mantém. E, pior do que tudo, o que nos espera nos próximos meses e anos que é cada vez mais difícil de esconder. Para quem anunciou amanhãs que cantam não podia ser pior.

Os amanhãs que cantam do senhor engenheiro (OJE, 26-11)


Em segundo lugar, uma nova liderança do PSD que sucedendo ao desastre do doutor Menezes não podia ser pior.

Em terceiro lugar, a cooperação institucional reticente do doutor Cavaco, sobretudo depois do caso dos Açores.

Diz o sound bite (aprendido recentemente pelo senhor engenheiro) que há uma oportunidade em cada dificuldade.

Depois duma primeira fase em que o primeiro ministro, acolitado pelo pior ministro das Finanças da UE, tentou vender a ideia da imunidade da economia portuguesa à doença do capitalismo selvagem, rapidamente percebeu que podia debitar o estado da ecoanomia na conta da crise financeira global. Foi o que fez, aproveitando ainda para se creditar com «previsões menos negativas que os outros» e vamos ver o que vai fazer em ano de eleições com os estímulos fiscais propostos pela Comissão Europeia. A coisa passou e está a passar perfeitamente porque a esquerdalhada arrepia-se de excitação e a populaça treme só de ouvir falar em capitalismo, quanto mais selvagem.

Esgotado o silencioso período de nojo, a doutora Ferreira Leite começou a tentar falar e, pior do que isso, começou a tentar ironizar. Nem o esforço ingente dos interpretadores a explicar a hermenêutica do discurso da líder conseguiu apagar o ruído mediático produzido pela maior e melhor máquina de manipulação algum dia montada no país (o doutor Salazar, o Botas, está a roer-se de inveja no túmulo). Diga-se, por justiça, que (quase) tudo o que a doutora Manuela disse é (aproximadamente) verdade, mas como se sabe (ela não sabe) é preciso muito génio para conseguir um convívio harmonioso entre a verdade e a política.

Dos 3 obstáculos maiores restava a reticência do doutor Cavaco. É nessa altura que tomba dos céus ou, melhor ainda, se ergue das caves do BdeP o caso BPN. Perdeu-se a conta do número de ex-ministros, ex-secretários de estados, ex-amigos e amigos actuais do doutor Cavaco embrulhados nas teias da aranha do doutor Oliveira e Costa. Last but not least, muito oportuna e convenientemente, o pasquim «24 horas» denuncia o financiamento com cem mil euros da campanha do doutor Cavaco por um lote de accionistas do BPN. Imagine-se o que a maior e melhor máquina de manipulação vai fazer com este filão - cozê-lo em lume lento, pois claro. Está fora de causa que, com toda a probabilidade, o doutor Cavaco não tem qualquer responsabilidade no caso, a não ser a responsabilidade de não saber escolher com quem trabalha ou de quem é amigo. Para a central de manipulação pouco importa, tal como pouco importa se as boutades da doutora Manuela são ou não verdades.

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (5) another day, another disgust

[Episódios anteriores (1), (2), (3) e (4)]

Nunca se pode dizer que é de vez, em matéria de desilusões. Uma vez mais, Santo Obama desaponta a obamófilia. Robert Gates, o actual secretário de Defesa do texano tóxico, por sinal um sujeito competente (não estou a falar do texano), está a negociar o convite de Barack Obama para continuar pelo menos no primeiro ano do mandato.

24/11/2008

AVALIAÇÃO CONTÍNUA: Bancos! Tirai o dinheiro do colchão!

Secção George Orwell

A doutora Teodora Cardoso defendeu numa intervenção na IV Conferencia Anual da Ordem dos Economistas que «vai ser necessário obrigar os bancos a fazerem aquilo para que servem», querendo com isto sugerir que o governo deve obrigar os bancos a emprestarem dinheiro.

É uma excelente ideia porque os bancos tem o péssimo habito de ficar sentados em cima do dinheiro conseguido com um funding suado que lhes custa os olhos da cara, esmifrado aos clientes pelos seus depósitos, aos outros bancos no mercado monetário interbancário e ao BCE, sem saberem o que fazer com ele e, nomeadamente, não querendo emprestá-lo a ninguém.

É uma ideia tão boa que deveria ser aplicada a todos os sectores. Por exemplo, no imobiliário, obrigando os promotores a vender as centenas de milhar de casas estacionadas nos seus portfolios, ou, melhor, obrigando os potenciais compradores a comprá-las com o dinheiro que os bancos seriam obrigados a emprestar-lhes. Ou no sector automóvel, obrigando a choldra a comprar carros aos concessionários, que egoisticamente os têm armazenados só para eles, com dinheiro proveniente da mesma fonte.

Por tão boa ideia, equivalente à do visconde e escritor que um dia abençoou a divina providência por fazer passar os rios pelo meio das cidades, merece a doutora Teodora o pleno (cinco) dos chateaubriands.

(Reparo agora que as minhas ideias são ainda melhores do que as da doutora Teodora, pelo que me auto-atribuo 3 ignóbeis)

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (3) a escolha do secretário do Tesouro

[Episódios anteriores (1) e (2)]

Santo Obama vai nomear secretário do Tesouro Timothy Geithner, actual presidente da Reserva Federal de Nova Iorque. Geithner que disse considerar a actual estrutura de regulação «an enormously complex web of rules that create perverse incentives and leave huge opportunities for arbitrage and evasion, and creates the risk of large gaps in our knowledge and authority», não parece partilhar a ideia, que possui imensos obamófilos, de que a coisa se resolve tornando mais enorme a complexa teia de regras.

23/11/2008

DIÁRIO DE BORDO: Está-me a morrer a passarada.


A semana passada foi uma mélroa, esta semana foi um pisco.

Preparando o switch

A Duma aprovou na sexta-feira passada a proposta de Dmitri Medvedev, procurador do czar Putin, para alargar o mandato do presidente de quatro para seis anos. Segundo Medvedev, o propósito do alargamento é garantir a estabilidade dos futuros governos.


Ó Dmitri guarda aí o lugar que eu já volto

CASE STUDY: os mitos da educação pública (5)

[Continuação de (1), (2), (3) e (4)]

Em que consiste o «aspecto positivo (das) notas dos alunos deixarem de contar para a avaliação dos professores»? E porque «é um mau princípio, (que) devia ser eliminado de vez»? Alguém pode fazer o favor de explicar o pensamento do PSD, expresso pela boca do seu líder parlamentar? Se as notas dos alunos medem (ou deviam medir) o desempenho dos alunos na aprendizagem, se a missão dos professores é a facilitação da aprendizagem dos alunos, qual a outra medida do desempenho dos professores mais adequada à avaliação dos professores?

22/11/2008

TIROU-ME AS PALAVRAS DE BOCA: Por falar nisso, já agora, Bob dá uma nota para o peditório.

«It's hard to know what to make of the sad spectacle offered this week by the top executives of the country's carmakers begging for money from the government.

For the carmakers, you have to wonder how they could be so out of touch with the zeitgeist. Sure, their cars aren't as bad as they once were, and sure, millions of people buy them every year. But it beggars belief to hear General Motors Chief Executive Rick Wagoner earnestly tell a House committee that the problem is that customers can't get loans to buy cars. Chrysler may be a private company these days, but sending Bob Nardelli to Washington to ask for money was a huge public relations blunder. One could imagine a member of Congress simply telling Nardelli that if he thinks Chrysler needs money so badly the former Home Depot CEO could lend it some of the more than $200 million he pocketed while he ran that company.
»

[MarketWatch's top stories of the week - Nov 21, 2008 ; foto daqui]

Nem todos os obamas de Obama fazem felizes os obamófilos: episódio (2) a escolha do secretário de estado

[Episódios anteriores (1)]

Hillary Clinton aceitou ontem o convite de Santo Obama para a secretaria de estado, depois de devidamente esclarecida sobre o seu papel à frente dos negócios estrangeiros, indício de que disporá da autonomia suficiente para instalar o seu avantajado ego no departamento de estado, sem mencionar o do seu marido Bill.

É mais um sinal - um bom sinal - que Obama está a fazer escolhas pragmáticas e realistas de políticos centristas fora da legião de seguidores lunáticos que o apoiou durante a campanha. Mas que dirão os fiéis esquerdizantes, sobretudo os europeus, da nomeação duma figura que, entre muitas outras coisas, diz acreditar (*) que «the market is the driving force behind our prosperity», votou a favor da intervenção no Iraque e não garante a retirada das tropas antes do final do primeiro mandato, diz que é uma «emphatic, unwavering supporter of Israel's safety and security», que em Abril deste ano ameaçou o Irão com a aniquilação nuclear se atacasse Israel com armas nucleares, cuja última posição acerca do embargo a Cuba é mantê-lo?

(*) A Wikipedia tem um bom resumo das «Political positions of Hillary Rodham Clinton».

21/11/2008

ESTÓRIA E MORAL: A cada um a sua profecia.

Estória

Segundo o ministro das Finanças italiano Giulio Tremonti, o papa Benedicto XVI foi o primeiro a prever esta crise do sistema financeiro global num ensaio escrito em 1985 ("Economy and Ethics"). Ainda recentemente o papa num discurso revelou ao mundo outra grande verdade eterna (que em privado poderá ter revelado ao doutor Oliveira e Costa): «o dinheiro desaparece».

Moral

Se o papa fez uma profecia sobre o subprime, o doutor Constâncio, o ministro anexo, tem obrigação de nos revelar o quarto segredo de Fátima.

Os tentáculos do polvo do Bloco Central não cessam de crescer

Mesmo descontando as 36 novas empresas hospitais, o número de empresas em que o Estado tem a maioria do capital aumentou entre 2001 e 2005 (num período onde se sucederam governos do PSD e do PS) em 18 unidades para um total de 420, segundo o Tribunal de Contas.

20/11/2008

O (IM)PERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Depois do PC Magalhães, o Auto Magalhães.


[Enviado por JARF]

BREIQUINGUE NIUZ: Vem mais a caminho, como é «natural».

2008-11-13 15:30 Moody's corta notação de crédito do Banco Privado Português
2008-11-13 18:49 BPP esclarece que risco do Grupo deve-se em particular à participação na Privado Financeiras
2008-11-13 19:12 BPP diz que rácio de solvabilidade está muito acima dos mínimos exigíveis
2008-11-19 01:46 João Rendeiro admite troca de capital com outros bancos
2008-11-19 01:48 "Não temos expectativa de atingir" a garantia de 750 milhões de euros
2008-11-19 18:20 Venda do Banco Privado Português está a ser negociada
2008-11-20 00:05 BPP pode estar prestes a mudar de mãos
2008-11-19 22:45 BPP pede garantia ao Estado para um empréstimo e 750 milhões de euros
2008-11-20 00:14 Rendeiro estima uma contracção "muito forte" da economia no quarto trimestre
2008-11-20 07:28 BPP procura financiadores
2008-11-20 15:51 O presidente do BPI, Artur Santos Silva, considerou hoje que o recurso à garantia do Estado por parte do Banco Privado Português (BPP) foi "natural".

[Fontes: Jornal de Negócios e Diário Económico]