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30/07/2008

CASE STUDY: não podendo ser estadistas os nossos governantes têm sido estradistas

Alguns factos que a doutora Ferreira Leite poderia citar para mostrar aos portugueses o imenso desperdício rodoviário de que são responsáveis este governo e todos os outros dos últimos 20 anos, incluindo os de que ela fez parte.

«Na União Europeia a 25, em média, as auto-estradas representam 1,2% da rede viária, contra 2,3 % em Portugal (1,4% na união a 15).

O PIB português representa 1,3% do PIB total da União Europeia a 25 mas as nossas auto-estradas são 3,2% das existentes naquele conjunto de países. Condizente com estes valores, a carga transportada nas nossas estradas é de cerca de 1,4 % da carga total movimentada nas estradas comunitárias.

A parte das auto-estradas no conjunto da rede viária representa 2,3 % - o terceiro valor mais elevado, apenas inferior ao caso de Espanha e do Luxemburgo.

Mas os indicadores mais significativos são os que relacionam a extensão da rede com a capacidade económica do país. Portugal é o segundo país com mais quilómetros (8,3 km) por bilião de dólares de PIB. Apenas o Canadá – devido á extensão do território – ultrapassa aquele valor.

Um outro ângulo para avaliar a situação é a comparação da extensão da rede de auto-estradas com a actividade gerada na rede viária.

Tomemos a evolução do transporte de mercadorias em território nacional. A elasticidade do volume de mercadorias face ao PIB, entre 1990 e 2006, foi de apenas 0,27 - quando a elasticidade da rede das auto-estradas foi de 4,55. Veja-se o caso Espanhol: no mesmo período, a elasticidade do volume de mercadorias transportadas foi de 0,81, a condizer com os 0,88 de elasticidade extensão das auto-estradas. Por detrás destes números esconde-se este registo brutal: nos últimos 15 anos, enquanto Portugal aumentou a rede de auto-estradas em 480% e o volume das mercadorias transportadas em 28,5%, a Espanha aumentou sua rede de auto-estradas em 130% e o volume de mercadorias transportadas em 121%.

Vejamos o que se passa na área do movimento de passageiros. O número de passageiros/km por pessoa, em 2004, era, em Portugal, de 6.396 biliões, contra 10.624 biliões na União Europeia 15. Estes números escondem um brutal aumento da mobilidade individual e uma redução, contra a corrente, do transporte colectivo. Entre 1990 e 2004, em Portugal, o número de passageiros/ km em carros individuais aumentou 139% - implicando uma elasticidade, face ao PIB, de 1,3 - contra apenas 31% na União Europeia a 15; a Espanha teve um aumento mais moderado: 104%. Em contrapartida, o transporte colectivo cresceu, em Portugal, apenas 0,5% naquele período, contra 12,8% na União a 15 e 60% em Espanha. Mas o mais notável é que desde 1995 até 2004, enquanto na União Europeia a 15 o transporte colectivo aumentou 10%, em Portugal regrediu 4% e em Espanha registou um aumento notável de 35%.

De acordo com as informações disponíveis, foram emitidos anúncios de concursos públicos para a construção de 2.433 km de novas estradas, dos quais 881 km (cerca de 36%) serão auto-estradas. Estas obras, a concretizarem-se, representariam um acréscimo de 48% na rede de auto-estradas e de apenas 2% na rede de estradas vulgares. O peso das auto-estradas na rede total passaria a ser de 3,3%.»


(Avelino de Jesus, O caso das auto-estradas portuguesas: A evidência do excesso de vias, Jornal de Negócios)

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