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23/03/2006

BLOGARIDADES: ser sportinguista é não ter na alma

Há pouca gente, sobretudo entre os sportinguistas, que compreenda a alma dum sportinguista. Um dos poucos é o maradona e antes que homem apague o post é melhor transcrevê-lo (Freud, se tivesse tempo, teria muito que contar-nos sobre esta obsessão de limpar o passado).
«Foi
Não vejo horizonte de hipotéticas circunstâncias que levem o Sporting e o sportinguista médio a deixarem de ser entidades patéticas. Nem vive nem está morto nem nascerá no futuro próximo um único sportinguista que não tenha ficado contente com o jogo de ontem. O Dias Ferreira, na Sic Noticias, era a felicidade em pessoa. Foi um "jogo equilibrado", fomos "uma equipa tranquila", tivemos "azar", "faltou-nos aquela pontinha de sorte", roubaram-nos "um penalti", tudo dito como se falasse de um filho que acabasse de terminar o doutoramento e de comer a Uma Thurman. Perdemos nas grandes penalidades, com o Ricardo a adivinhar o lado contrário de todos os penaltis, o que não é para qualquer um.

Como é que se consegue criar um clube com estas características é que eu ainda não percebi. Ainda no outro dia dizia José Roquette com apoplético júbilo e cancerígeno orgulho que o melhor jogador do Benfica e máximo responsável pelos campeonato do ano passado e quartos-de-final da Liga dos Campeões deste ano foi um miúdo, Simão Sabrosa, criado no Sporting; que o melhor jogador do Porto e máximo responsável pelo campeonato deste ano do Porto é um jogador criado no Sporting, Ricardo Quaresma; que o melhor jogador dos anos oitenta, Futre, foi criado no Sporting; que o melhor jogador dos anos noventa foi Figo, um jogador criado no Sporting; que o actual melhor jogador nacional é Cristiano Ronaldo, criado no Sporting. E tudo isto para quê? Para ganharmos dois campeonatos de forma ridícula e absolutamente inglória e irmos a uma final europeia de uma Taça Uefa que pura e simplesmente não existe, e que perdemos em nossa casa, facto que é quase inédito a nível mundial em qualquer escalão de qualquer desporto.

A única vantagem que, ao que me parece, releva de interesse e valor para o Sporting deste misterioso estado de coisas é que o sportinguista percebe em média muito mais de futebol que qualquer outra pesssoa em Portugal e, estou em querer, no mundo. Não pode ser apenas por acaso que o Futre, o Figo, o Simão, o Quaresma e o Cristiano Ronaldo tenham saído daquela casa e não de outras, muito mais populosas (Benfica) ou raivosas (Porto). O sportinguista, por ter de viver sem esperança de glória ou orgulho aprende desde a mais tenra idade a subjugar-se ao desporto em si, à arte da coisa. Suponho que é isto, mas pode ser que nem isso seja.»
»
É um texto de antologia e, estranhamente, quase sem erros ortográficos. Digo-o com a autoridade de filho dum dos mais velhos sócios do Sporting ainda vivos.

Declaração de interesse:
Não sou nem nunca fui sócio do Sporting, porque nunca seria sócio dum clube com que simpatizo e que só teria a perder se eu fosse sócio dele.

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