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08/09/2005

O IMPERTINÊNCIAS FEITO PELOS SEUS DETRACTORES: Katrina, with a little help from my friend

Deu-me uma branca. Foi o peso da responsabilidade do Impertinências ter ficado esta semana entalado entre o Blasfémias e o Semiramis, no «destaque» do bomba inteligente. Fiquei por assim dizer no olho do furacão, onde não se passa nada, só um sossego assustador.

Valeu-me o rigoroso relatório das operações de salvamento do Katrina que o meu amigo AB me enviou ontem. É um exercício de objectividade que ficaria bem a um jornalista desalinhado, isto é a um profissional do jornalismo. Publico-o, mesmo sabendo que não irá corrigir o enviesamento de um só esquerdalho intoxicado pelo jornalismo de causas. Até pela improbabilidade duma dessas criaturas, tresmalhada das referências que a sua frívola e insana mioleira alberga, passar pelo Impertinências, mesmo distraidamente .

Depois destas provocações preliminares, aqui vai o relatório.

«Participam nas operações de ajuda:

  • 15.000 militares do serviço activo
  • 35.000 militares da National Guard provenientes de diversos Estados
  • 2.750 membros da Coast Guard
  • mais de 200 helicópteros
  • centenas de aviões
  • 30 unidades navais, para além dos pesos pesados Truman (porta-aviões) e Iwo Jima (do porta-helicópteros) e do hospital naval US Comfort com capacidade para tratar mais de 1000 pacientes (clientes diríamos cá em Portugal) simultaneamente uma dúzia de hovercrafts.

Para comparação com o Tsunami de há alguns meses, participaram naquela altura:

  • 20 unidades navais
  • 46 helicópteros
  • 9 aviões

A National Guard da Louisiana é composta de quase 12.000 homens. 3.700 encontram-se no Iraque. Ficam disponíveis cerca de 8.000 que estavam às ordens da Governadora da Louisiana. Um rácio semelhante aplica-se ao Mississipi e ao Alabama.

Parte do atraso nos primeiros socorros foi devida aos bandos armados que dispararam contra as equipas de socorros, bloqueando assim as operações, mesmo em outros sítios por questões de prudência. Só após a intervenção da National Guard do Arkansas (com experiência no terreno no Iraque) é que tudo se normalizou.

Mais alguns dados a confirmarem a nossa conversa de ontem:

  • O Presidente dos EUA não têm competências no estabelecimento da ordem nas cidades, que depende totalmente do Mayor da cidade.
  • O Presidente dos EUA não tem poderes para impor as suas políticas, os seus planos, as suas vontades nos Estados pois quem manda são os Governadores.
  • O Presidente dos EUA pode enviar tropas para o Iraque (e mesmo assim não depende só dele) mas não para o Alabama, Mississipi ou Louisiana. A própria National Guard depende não do Estado Federal mas sim de cada Estado.
  • O Presidente dos EUA não pode mandar evacuar uma cidade, a não ser que tenha sido expressamente autorizado para tal pelo Mayor e pelo Governador da cidade e Estado em questão. Essa autorização não só não foi dada como foi recusada após um pedido formal por parte de Bush.

O plano de Bush, carente da autorização da Governadora (do partido democrático da Louisiana), incluía a intervenção do General Russel Honoré para impor uma evacuação total. O acordo a tal plano foi recusado. A candura da explicação dada pelo porta-voz da Governadora é desarmante: foi para manter o controlo das operações.

Há acusações no que respeita a diminuição das verbas alocadas à manutenção dos diques. Ora a zona dos diques que cedeu é justamente aquele que foi recentemente renovado...

Há acusações quanto ao facto dos EUA não terem aderido a Kyoto. Tal facto é atribuído exclusivamente a Bush mas de facto foi nos tempos de Clinton que o Senado vetou medidas kyotescas por 98 votos contra 0 (zero). A China e a Índia não aderiram. A Europa aderiu em massa mas ficou tudo no papel até agora. Na prática são as grandes multinacionais americanas que aplicam de forma autónoma os parâmetros de Kyoto. De qualquer forma, o aquecimento global não tem nada a ver com Katrina. Bastará ver as estatísticas do National Hurricane Center para ver que nas décadas de 30, 40 e 50 havia mais furacões e com maior violência.
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